Review: Novo álbum de Dona Onete é festa pura
Bagaceira foi lançado no último dia 18, aniversário de 85 anos da artista
Que ninguém segura a Dona Onete, isso todo mundo sabe. Mas que ainda tenhamos o privilégio de testemunhar, estupefatos, a jornada de uma artista que lançou seu primeiro disco aos 72 anos e corre atrás do tempo com energia de menininha, é surpreendente. Surpreendente como ver uma cantora lançar um álbum de inéditas, só com composições próprias, no momento em que comemora 85 anos de idade.
Não bastasse o banho, Bagaceira, novo lançamento da Natura Musical, é festa pura. Traz uma mistura de ritmos paraenses, letras de divertida provocação, feitas sob medida para qualquer Carnaval, dentro ou fora de época. Produzido por Assis Figueredo e Marcos Sarrazin, o disco bate bem em qualquer caixinha, tem uma cama instrumental de primeira linha e a voz rasgada de Dona Onete, soberana, dando todos os toques sobre festa, amor, desprendimento e, principalmente, poder.
Em Avesso do Avesso, por exemplo, um brega rock que poderia muito bem estar enfiado em qualquer álbum da Jovem Guarda dos anos 60, Dona Onete conta a história de um cara que na rua é um vida louca e, quando chega em sua casa, é “um leopardo, um leão, que pede para ser domado… Tão carente que precisa proteger”. Sensacional.
Ao ouvir de ponta a ponta, espere muita guitarrada, lambada e carimbó, dançante que só. Seria errado dizer que Dona Onete “se consolida” como uma das mais importantes figuras do espectro cultural marajoara porque a mulher já domina este tucunaré há muito tempo, desde que trabalhava como professora de história e era figura carimbada nas festas populares de Belém do Pará. A gente é que não sabia.
“Ela é fit, ela é light, ela é diet, é society”, canta Onete em Festa No Ver-o-Peso. Na faixa de abertura, Bagaceira, conta que a música “viralizou”. Letras que denunciam uma mente aberta e ligada, provando que música tradicional não precisa parar no tempo.
Vai pra cima, Dona Onete, e parabéns pelos 85 anos de música e festa!