O deepfaking é a tecnologia mais temida e discutida da atualidade. A comunidade cinematográfica e a família estão em choque após a denúncia de que parte das falas do falecido chef de cozinha foram usadas no documentário.
Roadrunner – A film about Anthony Bordain foi uma das estreias mais esperadas da temporada. A oportunidade em compreender a história de vida e a mente de um dos mais amados chefs de cozinha do mundo, que se suicidou em 2018, era ímpar.
O documentário dirigido por Morgan Neville teve uma premiere em junho e foi lançado oficialmente dia 16 de julho, já envolto em uma polêmica avassaladora. Pessoas próximas a Bordain identificaram que Neville usou a técnica de deepfaking para uma fala sua de 45 segundos. A maracutaia não é anunciada, nem durante o filme, nem nos créditos.
Antes de mais nada: o que é deepfaking?
O mundo discute calorosamente a regulamentação e a ética do uso do deepfaking nos dias atuais. A técnica consiste em mapear o rosto de uma pessoa e então “plantar” uma segunda face, de uma celebridade ou político por exemplo, e fazer com que esta pessoa diga coisas que não disse, geralmente gravadas por um dublador. O realismo alcançado com a técnica aumenta a cada dia, chegando a casos de percepção impossível para quem não foi avisado de que o efeito está sendo usado.
Outra utilização do deepfaking, caso do documentário de Neville, é plantar uma fala que só havia sido gravada em áudio em uma gravação de vídeo de Bordain, que originalmente estaria dizendo outra coisa.
O argumento do diretor é que a tal fala era importante para o roteiro e que ele consultou seu executor e sua víuva sobre Anthony Bordain e que teria obtida a resposta de que “achamos que Bordain não se importaria com isso”.
Uma estranha autorização de Bordain “por tabela”
Ottavia Busia, ex esposa de Anthony que se manteve como um de seus amigos mais próximos até sua morte, declarou que “eu certamente NÃO sou um das pessoas que disse que Bordain não se importaria”, o que colocou em xeque uma espécie de “autorização por tabela” do protagonista do documentário.
Sam Burns, crítico de cinema do WBUR de Boston, disse em entrevista ao jornal The Guardian: “Quando escrevi minha resenha sobre o filme, os produtores não me avisaram sobre o uso de inteligência artificial para fazer o deepfake na voz de Bordain. Sinto que isso diz tudo o que você precisa saber sobre a falta de ética das pessoas por trás deste projeto.
A polêmica, que está apenas começando, promete se estender aos tribunais com risco de recolhimento do filme. Além disso, acende ainda mais as discussões éticas sobre o uso desta técnica.
Suas definições de “documentário” acabam de ser atualizadas.