DJ Shadow Foto: Koury Angelo/Divulgação

DJ Shadow vê indústria das turnês perto da extinção

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Icônico artista reflete sobre momento delicado do mercado musical

“Não acho que seja exagero dizer que a indústria das turnês como a conhecemos está a mais uma crise global da extinção.” Foi assim que DJ Shadow, um dos mais importantes artistas da música eletrônica, voltou para casa após sua última tour, em novembro de 2024. “Surpreso, em níveis positivos e negativos”, desabafou em suas redes sociais. “Estou ciente de que muitos dos lugares em que toquei estão passando por apuros financeiros”, complementou, em uma mensagem carregada de um triste conformismo.

Shadow circula por clubes do mundo inteiro, setor do entretenimento que vem sendo alvo de estudos e discussões públicas nos países onde sua economia tem mais impacto nos empregos. Uma onda de anúncios de fechamentos tem preocupado governos de nações como a Inglaterra, que já propôs aos grandes festivais a criação de um fundo para salvar as pequenas casas, responsáveis pelo surgimento de novos artistas, crescimento do público e também pela circulação de nomes que não precisam estar necessariamente no circuito dos megaeventos — caso do DJ estadunidense, peça fundamental da música eletrônica nas décadas de 90 e 00.

Além de verificar as agruras pelos quais os donos de casas noturnas estão passando, o artista também fala sobre os altos custos de se viajar hoje em dia. “Sinto que quase todo meu dinheiro vai para as companhias áereas.” É por isso que aponta seu pessimismo para o fim das turnês, e não dos espetáculos musicais como um todo.

“Na minha idade, sair em turnê não é tão fácil como costumava ser. Há cansaços e dores que não custavam aparecer, e é preciso dedicar total comprometimento para conservar energia para o show. Então, o que nos sobra? Para mim, só posso controlar meus pensamentos e ações. Ainda amo sair em turnê, ainda amo fazer música. Depois da minhas datas na Austrália e no Japão em fevereiro, eu terei tempo de construir algo novo, e estarei pronto para voltar. Mas espero que os promoters, as casas e os fãs ainda estejam ali. Até lá, continuarei a aproveitar as oportunidades que aparecem. E talvez marcar um show ou dois para me lembrar da preciosidade e do poder que o entretenimento ao vivo pode ter.”

O tom da mensagem é bastante pessoal e não pode ser tomado como um prognóstico para o mundo da música. Mas é o DJ Shadow, né? Falar em extinção do circuito de turnês parece um pouco pesado demais. No entanto, já se nota um tremendo encolhimento no mercado para artistas que não estão no topo da pirâmide pop, como Taylor Swift e Coldplay. O Brasil ainda é um porto seguro para artistas, com uma agenda recheada para DJs e bandas internacionais. Mas, como desabafou o ícone americano, não há perspectiva de mudança no horizonte.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.