Um mergulho na cultura clubber berlinense com um dos maiores DJs da atualidade
A geração clubber da década passada tem um fetiche por Berlim comparável à que Berlim tem por roupas de látex. Levitada ao status de centro do mundo graças à sua enorme quantidade de clubes, bares, porões e galpões dedicados ao techno, a capital alemã virou farol de referência na música, moda e comportamento. E poucas cidades no mundo entraram tão de cabeça nesta doutrinação do que a terra da garoa. Por isso, a vinda de Dixon para uma discotecagem no Komplexo Tempo neste sábado (30), na Mooca, em São Paulo, é um acontecimento.
Ironicamente, o Tempo é um espaço para eventos que ocupa um complexo de manutenção de trens do século XIX, momento em que a Inglaterra reinou com suas empresas instaladas no país. No caso, a São Paulo Railway. Uma vez que a Alemanha justamente destronou a Inglaterra como principal ponto do turismo notívago, a festa ganha um certo sarcasmo histórico.
Dixon fez muita coisa. Até marca de roupas o homem lançou. Mas a grande estrela que reluz em sua camisa é mesmo a da gravadora Innervisions. A metáfora futebolística veste bem. Na adolescência, Steffen Berkhahn trabalhava forte para ser jogador de futebol profissional na Alemanha Oriental, onde nasceu e cresceu. Tentou também carreira como corredor de longas distâncias. Isso até uma lesão grave interromper seu sonho inicial, derrubarem o muro de Berlim, unificarem as Alemanhas e botarem todo o país em festa. Ao experimentar o novo strudell musical, assumiu o nome de Dixon, caiu na noite e “encheu os pais de desgosto”.
Uma vez que estamos falando sobre geografia, ressalta-se com louvor que Dixon representa, no sentido figurado e literal, a terra de onde veio. Na música, no estilo e na forma de ser, garrado na cultura kraut quadrada, mecânica e, ainda assim, capaz de nos levar para as profundezas do cérebro. Começou a lançar sons em 2005, mesmo ano em que fundou, ao lado de Kristian Rädle (também conhecido como Kristian Beyer) e Frank Wiedemann (os dois juntos formam o Âme), além de Matthias Bohmbach, o selo Innervisions, surfando no hype que acometeu Berlim. A gravadora, até hoje, é uma referência no cenário eletrônico mundial.
Outra característica é que o cara é bom de fazer amigos. Sua discografia é recheada de remixes para gente da primeira divisão do universo eletrônico. LCD Soundsystem, Depeche Mode, Plastikman, Todd Terje, Lee Burridge, além de muita gente boa, que recebeu o tempero artístico alemão que Steffen sabe muito bem dosar.
Em 2017, quis surfar em outras ondas e decidiu entrar no mundo da moda, com sua marca de roupas (voltada para a cultura clubber) Together We Dance Alone, com direção de Ana Ovak e design de Kristina Nagel. Para encontrar as disputadas peças da grife do DJ, só em lojas selecionadas em Los Angeles, Berlim e Paris. Chiquérrimo.
A discotecagem, no entanto, jamais fraquejou em sua vida. Em 2019, Dixon inaugurou sua festa Transmoderna, propondo uma mistura entre a música e outras expressões artísticas. A primeira temporada da residência rolou na Pacha (2019) e no ano seguinte mudou para o DC10, em Ibiza. Mas aí, veio a pandemia.
No sábado, Dixon faz um long set em São Paulo. A festa totalmente dedicada ao alemão é uma amostra de sua importância para a música eletrônica mundial e para os paulistanos, amantes das reverberações berlinenses.