A música brasileira está em grande forma. A prova disso são os dez discos que indicamos para nossos leitores, lançados recentemente. Hora de deixar o “skip” do seu serviço de streaming em paz
Prepare-se para viajar no que de mais criativo aconteceu no Brasil nas últimas semanas. Música brasileira, eletrônica e o rock perfeitamente acoplados em uma suruba irrepreensível. Todos os dias, a redação do Music Non Stop recebe através do nosso carteiro virtual, álbuns brasileiros que valem a pena. Separamo os dez melhores discos lançados para renovar seu tráfego sonoro.
Tatá Aeroplano – Não Dá Pra Agarrar
Enfim chegou aos nossos ouvidos o sexto álbum do trovador psicodélico paulista Tatá Aeroplano. Não Dá Pra Agarrar foi concebido durante a pandemia e passa muito longe das letras clichês que assolaram o cenário musical durante este triste período.
Tatá desceu mais fundo e aproveitou a solidão para se embrenhar em memórias, loucuras e esperança para compor um disco de produção sublime. Tem indie dance, rock esquisito e principalmente, a beleza lírica das baladas do compositor.
Maria Rita Stumpf – Ver Tente
Quem também lançou novo (e aguardado) disco é nossa Maria Rita Stumpf. A cada ano de carreira, Maria Rita se afunda mais na mata, em busca da simbiose definitiva com o reino vegetal que a projetou cult, nos anos 80.
Musicalmente, Maria Rita evolui em sofisticação, misturando música erudita com percussões ancestrais e sons da terra, fazendo cama de relva para sua voz potente. O álbum traz versões provocadoras para músicas como O Vento, de Dorival Caymmi e Pavão Misterioso, de Ednardo, entre outras.
Ver Tente é o quarto álbum da cantora, que provocou calafrios em DJs garimpeiros do mundo inteiro com seus “Cânticos Brasileiros”.
Joe Silhueta – Sobre Saltos y Outras Quedas
Joe Silhueta é uma das melhores e mais divertidas bandas do país. Chega a ser estranho saber que este novo álbum, Sobre Saltos Y Outras Quedas, é apenas sua segunda obra. O grupo reúne e reinventa o melhor do rock rural brasileiro dos anos 70, e vai além, com canções sobrecarregadas de doses deliciosas de Secos & Molhados, Mutantes e rock progressivo.
A primeira música do disco, Feirará, comprime tudo o que é Joe Silhueta, uma coleção de canções em uma música só, divertidas e sofisticadas. Muitos perfumes, para quem foge da cidade para acampar no meio do mato.
É preciso que Joe Silhueta esteja em todos os festivais no ano que vem.
Mulamba – Será Só aos Ares
Escute com atenção e carinho o novo disco das meninas do Mulamba. Corrigindo a rota para um voo sobre a música brasileira, o álbum bate muito bem aos ouvidos, tem produção de tirar o chapéu e traz, sob um inicial conforto auditivo nos elementos sonoros, a convocação ao pensar das letras primorosas do grupo.
Há poesia. Há Mulamba.
Anvil FX – Estado de Choque
Dia 15 de julho sai o novo do Anvil FX e nós ouvimos primeiro. Com propriedade, portanto, cravamos: está bacana demais! Post punk, new wave, synth pop e várias excentricidades deste projeto que surgiu nos anos 90 como um solo de Paulo Beto hoje se transformou em uma bela banda do universo eletrônico brasileiro. Atualmente, a turma de inventores de ondas sonoras é completa por Bibiana Graeff (vocal principal, efeitos eletrônicos), Apolônia Alexandrina (vocais, percussão eletrônica, sintetizador), Livia Maria (vocais, sax tenor) e Tatiana Meyer (vocais, sintetizador).
O oitavo álbum do Anvil FX ,como dissemos, ainda não está disponível. Mas recomendamos que você faça o pré-save clicando aqui.
Remobília – Ponto Final
Remobília é um disco de entrelinhas. O nome deu-se porque a banda é formada por ex-integrantes do Móveis Coloniais de Acaju. Ponto Final, título do disco, portanto, aqui inverte seu sinal para recomeço. O ponto não é tão final assim.
Além disso, chamar o novo projeto de Remobília já sugere uma continuidade e, musicalmente, o álbum certamente agradará bastante aos fãs do Móveis: música brasileira com influências do ska, experimentalismo e muita qualidade na produção.
Didi Fiorucci – Formato
Didi, dono de uma voz estranha, inteligente, explorada através de melodias improváveis em uma série de ‘quase falsetes’, lança este EP (que conta com um acompanhamento visual para quem quiser curtir pelo Youtube), classificado como autobiográfico pelo artista. No som, composições paridas no esquema ‘voz e violão’, mas acompanhadas de uma produção moderna e provocativa. O resultado é um EP muito gostoso de ouvir.
Elefante Cinza – O Riso dos Que Não Choram
O EP O Riso dos Que Não Choram foi recentemente recriado em live proposta pelo pai do projeto, Rodrigo de Andrade. No entanto, é do lançamento original que falamos agora. Afinal, lançamento em 2020, 2021 (caso do disco) ou 2022 valem, em momento pandêmico, como o mesmo ano… como “recentes”.
O EP do Elefante é de pesada qualidade, melodias inteligentes e produção sábia, fazendo jus ao animal que batiza o projeto. No Brasil, faltam projetos de indie rock que interpretam localmente o gênero em modo festa, e sobram os que o fazem no ambiente quarto/cama, caso do EP em questão. No entanto, O Riso dos Que Não Choram é definitivamente acima da média.
Bel Medula, Abala Ladaia
Base eletrônica e percussões sintetizadas fazem a cama para a poesia falada de Bel Medula, que lança seu quarto álbum, Abala Ladaia. A produção, que ficou a cargo de João Meirelles, deixa latente a sonoridade sob as asas do Baiana System, sua banda.
O disco puxa os limites da música brasileira para a frente, o que é sensacional. Não se trata de mera roupagem ou firula gourmetizadora: é definitivamente um disco eletrocutado e experimentador. Gol da Bel. Destaque para os incríveis títulos de algumas faixas, como “Eram os Deuses Celebridades” ou “O Sampler é uma Máquina de Inventar Tradições”.
Saudade – Bem Vindo, Amanhecer
O músico Saulo von Seehausen, sob o avatar “saudade” (assim mesmo, com inicial minúscula), lançou um ótimo disco, bem com cara de pandemia, momento em que, devidamente lockdownlizados, passávamos semanas ouvindo muitos discos. O lançamento tem muito do pop carioca feito nos anos 70 e 80, alinhados a um profundo conhecimento da MPB da época. Ouve-se Marcos Valle, Djavan, Azymuth e música olivéttica. A produção é limpa, quase esterelizada, exatamente como se ouvia na década estranha e ensolarada dos anos 80.