Cyndi Lauper Foto: Reprodução

Por que o show desta noite de Rock in Rio será o de Cyndi Lauper

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Uma última chance para o público brasileiro conferir de pertinho um dos grandes ícones da música pop

Para os “oitentões”, ver Cyndi Lauper no palco do Rock in Rio 2024 nesta sexta-feira será uma festa inesquecível, recheada de memórias afetivas da época em que a estética new wave tomou conta do planeta. Para as gerações remanescentes, será uma ótima oportunidade para conhecer uma cantora que, além de um belo show pop, carrega consigo uma linda história de ativismo na música. Lauper tem uma vida inteira atarraxada à luta pelos direitos da comunidade LGBT+.

Cyndi nasceu em Nova Iorque em 1953, e cresceu no bairro do Queens. A situação durante a adolescência era tão braba que ela e sua família foram obrigadas a comer esquilos, o simpático roedor comum em árvores da cidade. “Mas meu molho era tão gostoso que ninguém sequer percebia que eram esquilos”, contou certa vez ao programa 60 Minutes. A excentricidade não era só na culinária. A moça sempre cultivou um estilo todo diferente ao se vestir e, para completar o pacote, nasceu com um timbre de voz único. Se encontrou definitivamente no colorido movimento new wave, que a presenteou com uma carreira de sucesso meteórico a partir de 1983, quando lançou seu álbum de estreia com o corretíssimo título She’s So Unusual (“Ela é Tão Incomum”, em tradução livre).

O estilo, a voz e a música de Cyndi Lauper caíram como uma luva no pop estadunidense de Nova Iorque. O álbum emplacou quatro hits no Top 5 da Billboard naquele ano: Girls Just Want to Have Fun, Time After Time, She Bop e All Through the Night — sucesso que garantiu a ela o Grammy de Melhor Artista Revelação.

A partir da estreia, a artista se tornou uma das vozes do pop estadunidense da década de 80. Convivendo de perto com a epidemia da AIDS que tomou a comunidade LGBT+ na época, viu seu melhor amigo falecer e, em sua homenagem, compôs outro hit gigantesco de sua carreira, a linda True Colors. O conteúdo da canção a transformou em porta-voz da comunidade nos Estados Unidos, título que honrou com um posicionamento sem meias palavras, que dura até hoje.

Mais de 20 anos depois, Lauper organizou a True Colors Tour for Human Rights, uma sequência de shows pela América do Norte com parte da renda revertida a instituições que lutam pela causa. Um de seus trabalhos mais recentes (2013) foi a composição de toda a trilha sonora do musical Kinky Boots, sucesso mundial. A peça conta a história da drag queen Lola, que salvou uma fábrica de sapatos falida ao desenhar uma coleção de botas dedicadas à comunidade drag. Com o musical, veio mais um Grammy, o de Melhor Álbum de Teatro Musical, em 2014.

Rotulada como uma pessoa de sangue quente, sem papas na língua e “sincera demais”, a cantora deixou os holofotes em alguns momentos de sua carreira, mas jamais a música. Lançou 12 álbuns ao longo da vida, sendo Detour o mais recente, em 2016. A colorida pimentinha já vendeu mais de 50 milhões de discos em toda a carreira.

Além de toda a importância pregressa de Cyndi, o show do Rock in Rio ainda traz consigo uma importância extra. Será a última oportunidade de ver a cantora ao vivo. Sua apresentação faz parte de sua turnê de despedida nos palcos, cuja última e derradeira festa acontecerá em Paris, no dia 28 de fevereiro.

Esta sexta-feira traz uma das programações mais interessantes dentre todos os dias do festival. Justamente a data em que só mulheres sobem ao palco. A nova-iorquina divide o Palco Mundo com Ivete Sangalo, Karol G e Katy Perry, apresentando-se às 19h. Não há dúvidas, porém, entre o público do RiR ou até mesmo suas colegas artistas. O show da noite será de Cyndi Lauper.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.