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Um guia para conhecer artistas transgêneros que estão brilhando na cena musical independente

Trinta e um de março foi dia de celebrar a vida dos pessoas transgêneros, travestis e não cisgêneros, e a luta pela tomada de consciência sobre a discriminação enfrentada por essa população.

Em 2009, a ativista norte-americana Rachel Crandall criou a data para contrapor ao dia 20 de novembro, que é o Dia Internacional da Memória Transgêneros, que lamenta os assassinatos de pessoas dessa comunidade, mas não reconhece nem celebra os membros vivos. No Brasil existe também o Dia Nacional da Visibilidade Trans, 29 de janeiro.

Um dos países que mais matam LGBTQIA+ no mundo, o Brasil conheceu a diversidade de gênero graças a artistas como Rogéria, Jorge Lafond com o personagem Vera Verão e Roberta Close, que passaram pela mesa de jantar da família brasileira – por humor ou curiosidade – e pela televisão desde os anos 80. O tempo passou e outras vieram, mas com propostas artísticas diferentes.

Liniker, Linn da Quebrada, Jup do Bairro, Mel da Banda Uó e As Baías são alguns nomes ‘travestigeneris’ que se consagraram na música brasileira na segunda metade da década passada – e que, inclusive, transcendem à música, apresentam programas de TV como Linn, Jup, Mel e As Baías. Ou ainda, atrizes, como Liniker, que protagoniza Manhãs de Setembro, série que estreia este ano na Amazon Prime, e Linn, que estrela os filmes Bixa Travesti e Corpo Elétrico

LINIKER COMO REFERÊNCIA PARA TRANSGÊNEROS

Natália Carrera é uma delas. A instrumentista, produtora e integrante da Letrux conta em entrevista que essa cena foi imprescindível para sua vida. “Quando eu ouvi o trabalho da Liniker pela primeira vez, eu tinha acabado de decidir que começaria minha transição. Tinha conversado sobre isso com pouquíssimas pessoas, e estava decidida que não continuaria trabalhando no mercado da música. Isso porque, sabendo o quão machista é esse mercado, não imaginava que teria futuro nele. Ver Liniker me fez perceber que era possível. E, felizmente, foi! Agora, tento perpetuar isso, mostrando que é possível ser trans no mercado da música, inclusive nas posições de bastidores, como produtora musical e instrumentista acompanhante”. Natália este ano lança seu projeto solo Navalha Carrera

Natália Carrera. Foto divulgação

Apesar de abrir terreno, não significa que o espaço para artistas trans esteja consolidado, ainda mais em tempo de pandemia. Segundo a produtora e musicista Malka Julieta, que integra a banda de MC Tha e assina parcerias com a norte americana Rayna Russon do LCD Soundsystem, “a cena para artistas trans está como sempre esteve, feita por nós e movimentada por nós, inclusive no que se refere ao capital financeiro, sem ajuda externa da cisgeneridade”.

VALIDAÇÃO DA CISGENERIDADE

Para Malka, a própria comunidade se movimenta para fazer funcionar. “Embora eu tenha tido sorte de sair um pouco fora dessa equação nos últimos tempos por várias razões: tenho relações musicais fora da minha comunidade, que vem antes da minha transição. Acompanho artistas cisgêneros também, o que acontece muito também na arte, infelizmente, que para ter sucesso precisamos ser validadas pela cisgeneridade. Ser produtora também me permitiu ter mais autonomia, enquanto outras artistas que não têm essa possibilidade”, diz.

Ela também ressalta a questão da branquitude como outro ponto que a faz estar em evidência. Malka foi a criadora da extinta Trava Bizness, a primeira gravadora no mundo a lançar apenas artistas trans. Por lá saíram Albert Magno, Pamkapauli e Marina Mathey.

Marina Mathey. Foto Everton Ferreira

Albert Magno é baiana, radicada em São Paulo e ativista do Movimento Negro, no ano passado lançou dois videoclipes: Pão com Ovo, repleto de referências à religiosidade afrobrasileira e a cantora negras, e a dançante Corazón, com influência de música eletrônica, pagode baiano e reggaeton. Também se prepara para apresentar seu álbum solo.

Albert Magno. Foto divulgação

Pamkapauli é uma dupla de MCs, formada pelos “boycetas” Flóki e Mlk de Mel. O grupo transita entre os gêneros de rap e funk. São autores dos singles Coringa, Ninguém Viu e co-autores da faixa recém-lançada Na Boca do Caos, de Lili Black, lançados em todas as plataformas digitais com clipes.

A IMPORTÂNCIA DE REMEMORAR

Marina Mathey, atriz e cantora contemplada pelo edital Aldir Blanc, por onde faz uma série de seis lives entre março e abril, reafirma a necessidade de datas como esta para ressaltar a luta de grupos como os trangêneros (e LGTBTQIA+), movimento negro, indígena e feminista. “É importante lembrar que essas datas comemorativas não são à toa, são fruto de muita resistência e luta. Isso deveria acontecer nos 365 dias do ano, mas diante da tamanha violência que a gente sofre neste país, é necessário que existam datas marcadas, como esta, como o dia 29 de janeiro, como o Dia Internacional da Mulher, o da Consciência Negra para a gente rememorar e continuar com nossa luta”, analisa Marina Mathey.

Conheça outros nomes de artistas e influenciadores transgêneros:

MC Dellacroix, rapper

Magô Tognon, mestre em filosofia e maquiadora

Aretha Saddick, multiartista, apresentadora e modelo

All Ice, cantor e poeta

Kim Petras, cantora

Coletivo de Artistas Transmasculines

Leo Moreira, ator e ex baterista das Mercenárias

Daniel Veiga, ator

Leona Jhovs, atriz, diretora

Gabriel Lodi, ator

Renata Carvalho, atriz

Nay Mendl, diretor de cinema

O Rosa Caldeira, diretor de cinema

Ariel Nobre, artista e ativista vegano

Bernoch, cineasta

jupi77er, artista

Stefan Costa, Criador(a) de conteúdo digital

Ian Lila Habib, Artista

Noah Scheffel (ele/dele), Criador(a) de conteúdo digital

Théo Souza, Criador(a) de conteúdo digital

Leonardo M. B. Peçanha, professor, pesquisador, ativista

TIELY, artista

Bruno Santana, professor, pesquisador, poeta

Caê Vasconcelos, jornalista

Manfrin Manfrin, atriz

Amara Moira, escritora e acadêmica

Pedrx Galiza, artista

Giovanna Heliodoro, Artista

Indianara Siqueira, ativista

Ana Flor, ativista, educadora

Erika Hilton, Vereadora

Erica Malunguinho, Deputada Estadual

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