Foto: ReproduçãoChappell Roan: a incrível história do mais novo fenômeno pop
Ícone queer, cantora do Meio-Oeste americano faz sua estreia no Brasil em 2026
Ter uma história para contar ajuda qualquer artista em sua carreira. Uma história triste, com tons de autoajuda, mais ainda. É o caso do fenômeno pop Chappell Roan, uma garota caipira de cidade pequena, que cresceu indo à igreja três vezes por semana, e acabou arrastando o maior público para um show vespertino na história do Lollapalooza estadunidense, em 2024. Em março de 2026, a mais recente vencedora do Grammy de Artista Revelação desembarca pela primeira vez no nosso país, para cantar no Lolla Brasil.

A tal história de Kayleigh Rose Amstutz, nascida na pequena Willard, no Missouri, tem mais os requintes de um bom roteiro cinematográfico, daqueles que rendem uma fantástica biopic. Roan viu na música uma oportunidade única para se transformar. Mas isso só aconteceu depois que começou a fazer algum sucesso nos Estados Unidos. Antes disso, andava mais perdida do que amendoim em boca de banguela. A garota descobriu que sabia compor, utilizou-se da descoberta para se libertar, e ganhou o mundo de presente. Um mundo que lhe foi retirado de surpresa. Abandonou a carreira, voltou e agora desfruta do sucesso. Tudo isso em pouquíssimo tempo — tem apenas 27 anos.
A cena inicial é da infância classe média baixa no interior, onde pegava sapinhos no lago perto da área rural em que vivia. Como bons rednecks, seus familiares eram chegados numa igreja, fazendo com a que a garota fosse sua assídua frequentadora. Com 16 anos, já estudante de piano há quatro, conseguiu convencer os pais a mandá-la para um acampamento artístico, de onde voltou com um single gravado, Die Young.
Com os vídeos que subia no YouTube, chamou a atenção de uma gravadora gigantesca, a Atlantic Records, que, em 2015, esfregou na fuça da família um incrível contrato de cinco anos. A Atlantic é famosa por encontrar novos talentos e transformá-los em ícones mundiais, como fez com Bruno Mars, Ed Sheeran, Charli xcx e Fred again.., para citar apenas alguns. Aos 17, Kayleigh pensou encontrar o pote de ouro no final do arco-íris. Em idioma de gravadora, um contrato de cinco anos significa o seguinte: “nós vamos dar tudo o que você precisa para se tornar uma grande estrela, e então você vai ser nossa para sempre”.
Com o contrato assinado, se mudou para Los Angeles, a Meca da produção artística estadunidense, e caiu na noite. Seguiu trabalhando em novas músicas, conheceu a comunidade queer da cidade e encontrou uma liberdade até então desconhecida. Passou a fazer shows abusando dos figurinos, inspirada na cultura drag queen, e incluiu em suas letras a vida notívaga, o sexo, bebidas e, como ela mesma declarou, “all the gay stuff”. Enquanto mantinha um namorado lá na pequena cidade natal, percebeu que havia muito mais a experimentar, no que diz respeito a afetos. A Atlantic passou a lançar seus singles enquanto a princesa do meio-oeste vivia um sonho. Mas foi acordada com água fria no rosto.
Quase que simultaneamente, Chappell Roan teve o azar de tomar três pés na bunda. Em 2020, apenas três meses após lançar seu então single de maior sucesso, Pink Pony Club (uma homenagem ao club gay que frequentava em Los Angeles, The Abbey), a Atlantic Records rompeu o contrato com a artista. Nada de tretas ou rebeldias por parte da contratada. O departamento financeiro simplesmente decidiu que os números não se refletiriam em grandes lucros no futuro, representando uma aposta errada de seus olheiros.
Por tabela, foi abandonada também por Dan Nigro, o produtor que trabalhou como um orientador de carreira e parceiro de composições nos tempos de Atlantic. Nigro havia acabado de fechar contrato com Olivia Rodrigo. Para concluir a má fase, ainda teve de lidar com o final do namoro de quatro anos — o que, talvez, tenha sido mais um alívio do que uma decepção. Roan declarou mais tarde que “sempre faltava alguma coisa” em seus relacionamentos com homens, e hoje se assume lésbica.
A paulada foi tamanha que, sem o salário mensal da gravadora, precisou voltar a morar com os pais, no Missouri. Arrumou um emprego em uma cafeteria e parou a carreira na música, após ter rodado o país com seus shows e ter aberto uma turnê inteira do cantor e compositor australiano Vance Joy. Seu fim? Não, apenas mais um plot twist. Foi enquanto esperava clientes no drive thru da cafeteria que, após processado os diversos lutos, Chappell Roan escreveu novas músicas e decidiu que seguiria na batalha, como uma artista independente.
Fez as malas, mudou de volta para Los Angeles, descolou um emprego de assistente em um estúdio da cidade e voltou a gravar. “Vou fazer uma música, tentar um único tiro, e se não der certo em um ano, desisto de vez”, comentou em entrevista ao podcast de Tom Power. Convenceu Dan Nigro a retomar a parceria e lançou na unha, pelo selo independente do produtor, Amusement Records, o single Naked in Manhattan.
A estratégia deu certo, e não deu muito tempo nem de Roan curtir (ou sofrer) a vida de arista independente. A garota foi procurada pela Island Records (chupa, Atlantic!). Já “experiente”, assinou um contrato melhor. Muito melhor. A gravadora montou uma turnê para promover a cantora, com shows por todo país em casas com capacidade máxima para 600 pessoas. A ideia era começar de novo. Não precisou. No meio da tour de 2022, a produtora precisou mudar os locais da apresentações para casas maiores, pois a nova Chappell Roan já lotava casas para sete mil pessoas em poucos minutos de vendas de ingressos.
Uma estratégia perfeita para o lançamento de seu álbum definitivo (até agora). The Rise and Fall of a Midwest Princess (“A Ascensão e a Queda de Uma Princesinha do Meio-Oeste”, em português) saiu em setembro de 2023 e, para desespero dos executivos da Atlantic Records, solidificou o fenômeno. Olivia Rodrigo, a cantora que talaricou o produtor de Roan, Dan Nigro, também se redimiu e contribuiu para seu enorme sucesso atual. Convidou-a para abrir sua turnês entre fevereiro e abril de 2024 — o que ajudou a impulsionar o disco de estreia ao topo das paradas do Reino Unido e ao segundo lugar na Billboard 200 (EUA) naquele ano.
Na crista da onda, a “princesinha do Meio-Oeste” passou por outros grandes festivais, como Coachella, Primavera Sound e Reading & Leeds, e, além da conquista no Grammy (que contou também com indicações em outras seis categorias), foi a grande vencedora da lista Sounds of 2025, da aclamada BBC Radio 1. É com essas credenciais que Chappell Roan vem pela primeira vez ao Brasil em março, em show que já é um dos mais aguardados do Lollapalooza Brasil 2026.



