Camila Jun Foto: Divulgação

Destaque da house music no Brasil, Camila Jun fala sobre carreira e collab com Roland Clark

Vitória Zane
Por Vitória Zane

DJ e produtora emplacou lançamentos por selos como Toolroom e Nervous Records, e foi finalista de concurso da ANTS

Em oito anos, a DJ e produtora Camila Jun vem mostrando uma sólida trajetória na música eletrônica, tornando-se um dos grandes destaques da house music no Brasil. Tocando em festivais como Primavera Sound São Paulo e Universo Paralello, ela pretende mostrar que o gênero é mais que bem-vindo nos mais diversos cenários do país, desde festivais multigêneros até eventos focados em vertentes mais nichadas. A house, meus amigos, sempre está lá!

Apaixonada por essa cultura que moldou as bases da cena eletrônica, Camila mostrou que a vertente combina com tudo. Em um projeto de lives, ela gravou uma série de sets tocando em locais icônicos de Brasília, sua cidade, combinando a arquitetura de pontos turísticos com a sonoridade da música (assista aqui). E, claro, vem elevando essa nova geração da house made in Brazil a novos patamares.

Recentemente, lançou Super After pela gravadora internacional Toolroom, com suporte de Mark Knight, e brilhou mais ainda conseguindo uma colaboração com Roland Clark, voz lendária da vertente, em uma composição exclusiva na Nervous Records. Estamos falando da faixa Shake The Ground.

Como finalista do concurso ANTS: Next Gen, da label ANTS, Camila Jun concorreu a um spot no line-up do Ushuaïa Ibiza, entre outros prêmios, depois de um mix 100% autoral. Conversamos com ela para saber mais detalhes.

Vitória Zane: Vimos que a Shake The Ground é uma grande aposta sua! Como rolou o processo de produção, desde a criação até a chegada da track nas plataformas?

Camila Jun: O vocal da house music sempre foi algo muito marcante para mim. As vozes, as letras e os timbres icônicos me estimularam a querer produzir algo nesse sentido. E ter uma música com o Roland Clark sempre esteve em meus pensamentos. Nós já nos conhecíamos pelo Instagram, mas nada tão profundo. Então, a ideia foi produzir uma base inicial, para enviar para ele e ver se ele toparia fazer a track comigo. E ele topou!

Começamos o processo de briefing da letra, que fluiu superbem, e chegamos na mensagem final da Shake The Ground, que é bem linda e potente. Sempre foi um sonho ter uma música assinada por uma label tão icônica quanto a Nervous, e fui atrás deles na cara e na coragem. Procurei os possíveis contatos na internet, escrevi o e-mail e mandei as duas versões que tinha finalizado. Para minha surpresa, eles responderam rapidamente que gostariam de assinar uma delas, e que tinham gostado muito da música. Foi realmente incrível. Já recebi muitos feedbacks especiais de artistas, produtores e público falando do quão bonita e marcante é a faixa, e acho que isso é o que mais importa: as pessoas se envolverem e curtirem.

Ter uma faixa com Roland Clark é para poucos! Tem algum outro nome com o qual deseja colaborar?

Conheço algumas vozes incríveis e estou sempre de olho em vocalistas, mas tem uma artista e cantora que venho conversando ao longo desse tempo e que sou realmente fã do trabalho, que é a SeeMeNot. Ela é uma potência!

Sabemos que não é fácil conseguir lançamentos em gravadoras tradicionais, como a Nervous e a Toolroom. Como você criou essa conexão com esses selos, que foram pouco explorados por brasileiros?

Atuei 100% de forma independente e intermediei todo o processo com eles, do começo ao fim. Procurei os contatos na internet, fiz um bom e-mail com o conteúdo que eu julgava ser o mais coerente e enviei as demos para análise.

Por mais que possa parecer piegas, creio que o primeiro passo é acreditar muito no seu trabalho e no seu potencial. Depois, obviamente, é garantir a qualidade necessária do material que você está enviando — a ideia pode até não ser a final, mas enviar um arquivo com boa qualidade, mix e master, faz diferença. Ter as suas redes sociais minimamente organizadas e em dia também é importante. É por ali que eles vão pesquisar um pouco mais sobre você e sua trajetória. Tem que tentar, sem medo, e com o maior nível de profissionalismo possível. Uma hora, o “sim” vem!

A house music é uma das bases da música eletrônica. Como você enxerga o espaço que essa sonoridade tem na cena eletrônica atual?

Desde o seu surgimento, a house sempre teve papel essencial na cultura da música eletrônica, e nunca deixou de existir na cena. Mas, assim como outras sonoridades, teve e tem os seus momentos cíclicos… Às vezes mais forte e presente nas festas e clubs, às vezes mais nichado. De alguns anos para cá, senti uma retomada da popularização do gênero dentro das casas, eventos e selos, inclusive, com a amplificação do consumo nas plataformas de streaming e vendas digitais. Hoje já temos inúmeras festas e coletivos de house pelo país, em constante operação, que contam com um público diverso e cativo. 

Como você vê o mercado nacional da house hoje em dia?

É evidente como o mercado da música eletrônica, no geral, vem se expandindo e crescendo no Brasil. Basta notar a quantidade de novas festas, selos, artistas, produtores e público em geral que vem consumindo o gênero. Isso, de alguma forma, é positivo para a cultura, para o entretenimento e para a cena em si e, nesse sentido, podemos até falar que o país vive uma de suas melhores fases no segmento. Mas nem sempre esse crescimento se dá de forma coerente e equilibrada, tanto por parte de quem constrói a cena, quanto por de quem consome. 

Camila Jun

Foto: Divulgação

A sua identidade visual e sonora como DJ e produtora é impecável. De certa forma, isso também foi uma necessidade que você sentiu como mulher dentro do mercado? Te demandou ter um posicionamento mais forte para conseguir espaço?

Eu sou escorpiana, então tudo o que faço é intenso (risos).

É da minha personalidade fazer tudo com muito esmero, dedicação e cuidado, desde muito nova. Eu sempre me entrego totalmente ao que me proponho a fazer e sempre tento fazer da melhor forma possível. E isso acaba refletindo em meu trabalho, nas minhas relações profissionais e em como eu me posiciono na cena.

Definitivamente, eu sei da importância ainda maior que isso tem quando se é uma mulher dentro do cenário eletrônico. Você precisa estar em constante vigilância para aparar qualquer aresta que te coloque em um lugar de instabilidade. De alguma forma, esse motivo acaba sendo também um impulsionador da minha entrega, mas o que de fato me motiva a ser como sou é uma vontade enorme de evoluir e ter a música como o fio condutor da minha vida.

Você foi uma das dez finalistas e a única representante do país no ANTS: Next Gen! Como rolou esse concurso, e qual o sentimento com essa conquista?

Eu conheço o selo e sigo o trabalho deles nas redes já tem um tempo, mas nunca tínhamos interagido de forma mais específica. Daí, vi o post do contest no Instagram, e na mesma hora senti vontade de participar! Criei um set 100% autoral e enviei com mais algumas outras informações. Eu estava confiante, mas como o anúncio demorou um tempo, acabei ficando na dúvida se ia acontecer ou não.

Quando eles me marcaram como uma dos dez finalistas, fiquei muito feliz! Afinal, é uma conquista superlegal saber que dentre mais de 1.300 artistas inscritos do mundo todo, o meu set, só com músicas minhas, foi escolhido como um dos melhores. O título não veio pra mim dessa vez, mas agradeço aos amigos e fãs pela ajuda. Podem ter certeza: ainda vamos conquistar muitas coisas juntos!

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.