Icônica cantora islandesa voltou a descascar em cima do padrão de mercado que as plataformas de streaming impuseram aos artistas
“O Spotify foi a pior coisa que aconteceu para os músicos. A cultura do streaming mudou toda uma sociedade e toda uma geração de artistas.” A frase é de Björk, que, em entrevista ao jornal sueco Dagens Nyether, voltou a descascar em cima do padrão de mercado que as plataformas impuseram aos artistas.
“Por sorte, eu não preciso mais sair em turnê para conseguir ganhar dinheiro, coisa que os novos artistas são forçados a fazer”, continuou ela, que atingiu uma enorme base de fãs antes do advento do serviço, na primeira década de 2000, o que a permite ainda receber uma boa grana em direitos autorais.
O bode não é novo. Em 2015, Björk simplesmente não disponibilizou seu álbum Vulnicura nos serviços de streaming. “É loucura. Trabalhar dois ou três anos em algo e então alguém diz ‘olha, agora é de graça’. Não é pelo dinheiro, mas pelo respeito. Respeito por toda a equipe e toda a energia e trabalho colocados naquilo.”
Mais tarde, no entanto, a cantora liberou o álbum, que agora pode ser encontrado em plataformas como o Spotify.
Antigamente, quem não queria optar pela pirataria comprava um álbum em vinil, CD ou arquivo digital MP3. Uma parte ia para o lojista, a distribuidora e a gravadora, e o restante ficava com o artista. Quando as plataformas começaram a dominar o mercado, os músicos passaram a receber por plays (cerca de um dólar para cada mil plays, em média), o que fez minguar as receitas vindas das “vendas” de suas obras. O aqué, principalmente para as novas gerações, tem de vir dos shows.
A islandesa usou seu estilo único para explicar por que o negócio é roubada:
“É somente na escuridão que você pode plantar uma nova semente. Para que vire uma saudável e vigorosa planta, você precisa de privacidade. Precisa de alguns anos sem ninguém saber o que se está fazendo, nem mesmo você. Atualmente estou ocupada tendo novas ideias dentro de mim. Me sinto longe da conclusão e o tempo está acabando”, refletiu, ao explicar que correr atrás de shows o tempo todo para pagar o aluguel é um tremendo empecilho para se “plantar” grandes álbuns.
A islandesa não está sozinha na luta por retomar a noção de valor que existe em um álbum. As vendas de mídias físicas, como vinil e CDs, crescem a cada ano, apesar de ainda representarem uma porcentagem mínima do consumo de música atual. Em 2015, o grupo de rap Wu-Tang Clan lançou um álbum com apenas uma cópia em vinil (que hoje vale milhões). A ideia era justamente propor uma discussão sobre olhar um disco como uma obra de arte.