Conversamos com o diretor do longa-metragem documental Trilha Sonora da Cidade (2020), Edu Felistoque, que nos conta um pouco sobre o processo criativo de produção e a importância de registrar esses artistas de rua independentes que nos alegram enquanto passamos apressados pelas ruas de São Paulo. Logo no começo da nossa conversa, já falamos sobre liberdade e anarquismo, duas coisas que andam praticamente juntas. Logo pensei: essa conversa vai ser boa! E foi mesmo. Confira agora
A música e energia que emanam dos palcos pode estar em qualquer lugar? Sim. Prova disso é o que mostra o longa-metragem documental Trilha Sonora da Cidade, de Edu e Gab Felistoque. A ideia era contar a história dos artistas de rua que, por vontade própria e/ou necessidade, fazem de São Paulo o seu próprio palco. O doc foi lançado no final do mês passado na plataforma do In Edit Brasil mostrando como vivem mais de dez cantores e performers que ocupam diariamente as ruas da maior cidade da América Latina. O doc retrata o dia a dia de Teko Porã, Lilian Jardim, O Grande Grupo Viajante, Lamp, Elzo, entre outros.
Edu Felistoque conta que a ideia de fazer o documentário partiu de um coletivo de artistas que viram a necessidade de registrar todo esse movimento que tem acontecido (e crescido) na cidade. “Recentemente também li uma crítica onde dizia que a promessa da nossa MPB não tinha sido cumprida e pensei: como assim? Temos tantos artistas talentosos por aqui!” O diretor, que se diz um músico frustrado, apesar de saber do talento dos artistas, ficou impressionado com a qualidade artística e musical de cada um deles. “Me empolguei com a ideia, parei um outro filme que estava fazendo e me dediquei ao Trilha Sonora da Cidade.”
Edu se define como um anarquista e poder retratar toda essa liberdade foi motivo de grande satisfação ideológica também. “Sempre pensei que precisamos criar os nossos produtos culturais livres de qualquer censura. E no caso deste documentário, não há um lugar que seja mais livre e democrático para se fazer música e arte, de uma forma geral, como na rua.”
E, como a gente já sabe, todo artista tem um ego muito grande e, ao decidir ir para a rua, na visão de Edu, é o que ele chama de “exercício de humildade sem igual”. Muitos dos artistas retratados são formados. Uns são professores, outros são engenheiros. Tem até a Lilian Jardim, que é formada em direito mas que encontrou na música o seu meio de sobrevivência – financeiro e mental.
Os artistas se apresentam na região central da cidade, no metrô, trens, periferias e claramente tenta quebrar o estereótipo de que eles estão ali apenas pedindo dinheiro. Ele (o artista) está ali para fazer música, mostrar sua arte e criar uma trilha sonora para quem passa”, diz Edu.
Trilha Sonora da Cidade tem produção da Assum Filmes com as produtoras associadas Felistoque Filmes, Il Vagabondo Film Bakery, Giro 8 Produtora, Artistas na Rua, Fat Bear Produções e Reza Brava Filmes.
Assistir ao documentário em tempos de isolamento social é até meio nostálgico. Lembrei das tantas vezes que cruzei com esses artistas em meio às idas e vindas do trabalho. Quando podia, parava para prestigiar. Mas a verdade é que foram poucas as vezes que consegui. São Paulo ferve, não para. E enquanto estamos dentro dela, também não paramos. Comento sobre isso com Edu, que me responde com otimismo. “As coisas vão melhorar, 2021 vai ser o melhor ano de nossas vidas e esse filme vem para nos lembrar do quanto éramos felizes e vamos voltar a ser.” Vale dizer aqui o quanto essa frase mexeu comigo. Me emocionei quando ouvi e agora de novo, ao redigir.