Artista em ascensão da eletrônica latina, Nicola Cruz é atração da festa Sonido Trópico em SP e no Rio. Falamos com ele

Claudia Assef
Por Claudia Assef

O Brasil está finalmente fazendo as pazes com seus vizinhos da América do Sul. Isso não tem nada a ver com política, estamos falando de música mesmo. Enquanto nossos ouvidos se acostumaram a consumir novidades e velharias da Europa e dos EUA, nossos hermanos sul-americanos foram construindo cenas musicais interessantíssimas, que, talvez pela barreira da língua ou por pura distração, deixamos de conhecer.

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Nicola Cruz vem pela segunda vez ao Brasil, novamente para a festa Sonido Tropico

Um dos DJs mais interessantes dessa recente geração de artistas da música eletrônica que misturam elementos sul-americanos e indígenas, o francês radicado no Equador Nicola Cruz retorna ao Brasil pra ajudar a acelerar esse processo de (re)descoberta do tempero latino na música eletrônica, pouco mais de uma década do sucesso (pelo menos por aqui) de nomes como Ricardo Villalobos, Luciano, Matias Aguayo e Pier Bucci.

Nicola é uma das ótimas atrações da festa Sonido Trópico, que rola nesta sexta (18), em São Paulo, e sábado (19), no Rio de Janeiro. O line-up ainda tem o argentino Chancha Via Circuito, que virá com sua banda, além dos brasileiros Salvador Araguaya, DJ Nirso, Spaniol e Meraki, em São Paulo, e Pigmalião, Carrot Green, Rebola, TSFN, Durante, Teluj e El Amaral no Rio.

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O argentino Chancha Via Circuito é um dos nomes quentes da eletrônica latina

A Sonido Trópico tem dado duro pra trazer latinidade ao público das festas independentes de São Paulo. Em dois anos de existência, a festa já fez mais de 40 edições e já trouxe artistas como Rampue (Alemanha), Oceanvs Orientalis (Turquia), Matanza (Chile), Thornato (EUA), além de Nicola e Chancha, que retornam agora e dos residentes da festa, os brasileiros Spaniol, Nirso, Salvador Araguaya e ElPeche. Em 2016, Sonido Trópico virou um selo, que já realizou turnê internacional, com mais de 20 datas pela Europa.

Se você ainda não conhece o trabalho de Nicola Cruz, cata este Boiler Room com ele, gravado em abril deste ano em Tulum. É simplesmente de tirar o fôlego. Em seguida, já emenda na entrevista que fizemos com ele por e-mail.

Music Non Stop – Você já veio algumas vezes ao Brasil. O que você acha da cena eletrônica local, acha que ainda está muito isolada do restante da América do Sul?

Nicola Cruz – Está será a segunda vez que toco no Brasil. Gosto muito da cena local daí, ainda que a conheça pouco. É muito livre, um requisito indispensável para propor ideias. Não me parece muito distante do restante da América do Sul, mas sem dúvida o Brasil me parece pioneiro desde sempre em tudo o que tange a arte.

Music Non Stop – Estive em Quito este ano e é impossível não se encantar com as pessoas e com a grandiosidade da natureza. Você foi pra lá com que idade e qual é o impacto do Equador na sua música?

Nicola Cruz – Cheguei da França aos três anos de idade, o Equador é onde eu cresci. O impacto se dá até os dias de hoje acho, aqui se respira um ar muito puro e há muita bondade. O Equador sempre será uma fonte de inspiração pra mim.

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Nicola curte os produtores brasileiros Psilosamples, Thomash & Marina, L_cio e Xavier Dunwich

Music Non Stop – Ainda que aparentemente distante, a música eletrônica brasileira tem feito esforços para chegar mais perto dos sons latinos, como projetos como Frente Bolivarista e produtores como Psilosamples. O que você acha desse movimento?

Nicola Cruz – Não me parece tão distante como alguns julgam, mas para mim o que tem saído do Brasil sempre foi parte integrante da música sul-americana. Falando de música eletrônica, há projetos muito bons, como você citou; Psilosamples, Thomash & Marina, L_cio, Xavier Dunwich, apenas pra citar alguns… eles têm se encarregado cada um à sua maneira de representar o que acontece em suas regiões.

Nicola Cruz – Mantis (L_cio remix)

Music Non Stop – Você acha que a música pode curar o planeta, que anda um tanto doente?

Nicola Cruz – Quem sabe! Seria bem bonito ver a música como este super-herói, mas na verdade essa mudança sempre começa por cada um; fazer o que sabemos fazer de melhor com uma boa mensagem.

Music Non Stop – Sua música está muito ligada à cultura indígena e aos Andes. Como ela se conecta com a confusão que é estar em grandes festivais e festas ao redor do mundo.

Nicola Cruz – Bom, aí é que está o truque, como traduzir essa mensagem ou essa inspiração na qual está baseada minha música ao exterior. Em certos casos minha música é compreendia 100%, em outros, não. Procuro escolher os lugares mais legais pra apresentá-la, onde me sinta conectado com as pessoas e entenda que elas irão recebê-la bem, não há nada mais gratificante que isso. Quando isso não for possível, então não “sacrifico” minha música, prefiro fazer um DJ set com uma seleção eclética de músicas que estou escutando no momento, o que também é bem divertido.

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Nicola Cruz prefere tocar sua música apenas em lugares onde ela será compreendida

Music Non Stop – Quem são seus ídolos pioneiros da música eletrônica mesclada com sons latinos?

Nicola Cruz – Não tenho ídolos na verdade… bons projetos que conseguiram combinar música eletrônica com ritmos ritmos latinos são Quantic, Chancha via Circuito e, claro, Matanza.
Quantic & Frente Cumbiero presents Ondatrópica

Music Non Stop – E quais são seus artistas favoritos no Brasil?

Nicola Cruz – São muitos… Gilberto, Tom Zé, Bixiga 70, Ney Matogrosso

SONIDO TRÓPICO E RED BULL MUSIC ACADEMY SP
Sexta, 18 de novembro, a partir das 23h
Local a ser divulgado
Preço: R$ 30 (segundo lote)

SONIDO TRÓPICO E RED BULL MUSIC ACADEMY RJ
Sexta, 18 de novembro, a partir das 23h
Rua City Lab
Avenida Professor Pereira Reis, 50
Preço: R$ 30 (antecipado)

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.