Psilosamples: o techno que saiu de Pouso Alegre e vai entortar o mundo, ouça antes Biohack Banana e leia o papo com Zé Rolê

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Lembro de uma vez de ter tocado uma música do Psilosamples num programa de rádio que eu fazia uns quatro anos atrás, e o programador ter me perguntado: “a música é assim mesmo?”.

A música do mineiro de Pouso Alegre Zé Rolê aka Psilosamples é assim mesmo. A princípio pode causar estranhamento, mas vai te marcar pra sempre. Seu som poder ir da eletrônica experimental ao techno de pista de dança, com um sotaque peculiar que, pra mim, sempre foi traduzido como música eletrônica do mato.

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Zé Rolê aka Psilosamples em ação

Seu disco Mental Surf, lançado em 2012, virou peça obrigatória nos players de todos os fuçadores de boa música eletrônica nacional. Desde então, seu som ganhou diferentes sotaques, até porque trocou sua Pouso Alegre natal por São Paulo. A beleza e amplitude dessa faceta mais urbana, que se traduz em forma de techno, ganha vida digital nesta sexta (11) através das oito faixas do álbum Biohack Banana, primeiro título do Psilosamples a ser lançado pelo prolífico e bacanudo UIVO Records, de São Paulo.

“Quando o Zé chegou pra mim e disse ‘tô fazendo meu primeiro disco de techno pra UIVO, achei que era brincadeira”, diz Rodrigo Coelho aka grassmass, produtor de nível AA e patrão do selo. “O Biohack Banana acabou por se mostrar algo muito maior que apenas um álbum. Pode ser considerado o primeiro capítulo de uma série quase teatral de música eletrônica pra relaxar no mato, na praia ou na estrada. Psilosamples tece um intricado fio de recortes, samples e referências imagéticas de um Brasil meio arcaico, meio futurista, desaguando num estilo unicamente brasileiro de produção eletrônica”, define, na mosca, Rodrigo Coelho.

O Music Non Stop adianta em primeira mão Biohack Banana para audição e compra, aperta o play.

Ao mesmo tempo em que é muito brasileiro, o álbum também celebra uma aproximação com o som sul-americano de artistas como Nicola Cruz e Chancha Via Circuito. “Tem uma galera muito unida por aqui influenciando muita gente de fora, o Frente Bolivarista mesmo é um projeto muito legal por isso. Vale acompanhar! Pra mim é complicado me situar em algum conceito, eu nunca sei exatamente o que estou fazendo. Gosto de experimentar, o termo ‘música brasileira’ como um todo me contagia muito, não me preocupo mais com essa necessidade de ‘tropicalizar’ pontualmente tudo que produzo pra tocar, as criações simplesmente acontecem”, resume . Batemos um bom dedo de prosa com ele, confira aí embaixo.

Music Non Stop – O Biohack Banana é um disco de techno brasileiro criado no mato, né? Conta um pouco sobre como ele foi feito, que tipo de samples e equipamento foram usados, qual foi a rotina de criação?

Psilosamples – Na verdade eu produzi esse disco em São Paulo, onde atualmente vivo, mas minha cidade natal é bem perto, então passo a minha vida indo e voltando, tentando manter esse equilíbrio entre cidade grande e pequena. De fato eu gosto de como essas vivências influenciam meu trabalho. O Biohack Banana eu já toquei bastante, atualmente já produzo outras coisas.

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A capa do álbum é tão criativa e doidona quanto seu conteúdo

Quase todos os meus álbuns na verdade são projetos de live que eu faço, quase tudo sobre o Psilosamples está ligado a performance ao vivo, as músicas do Biohack Banana fazem parte desse projeto produzido pra ser tocado, para que seja possível que cada vez que executado ele possa soar bem diferente a cada performance. As músicas estão vivas nas minhas mãos, eu posso sentir o ambiente e tocar conforme o clima, não tem BPM fixo. Durante esses últimos anos, tive uma fase de gravar muita coisa analógica, máquinas, sintetizadores, machine drum, samplers, editando e sequenciando tudo no computador.

Music Non Stop – Achei que a faixa Pineal Futebol Clube (aliás, que título bom!) tem uma pegada bem latina, remete a trabalhos de produtores como Luciano, Nicola Cruz, Villalobos, Matias Aguaio. Você acha que existe pouco intercâmbio entre o Brasil e seus países hermanos da América do Sul, apesar de esforços como o projeto Frente Bolivarista?

Psilosamples – Tenho percebido o contrário. Eu diria que tem aumentado. Muitos amigos produtores e DJs sul-americanos tocando em diversos festivais pelo mundo. É pouco visível esse movimento, mas tem uma galera eufórica com esse conceito, estão na sintonia. Eu mesmo já remixei Nicola Cruz, Chancha via Circuito, Lulacruz, vários caras, sempre encontro tocando por aí. Sou muito satisfeito por ter tocado onde já toquei e já ter algumas datas pra tocar em grandes festivais ano que vem, mesmo sem lançar muita coisa. Então acredito que o solo esteja bastante fértil pra quem consolida alguma coisa verdadeira e segue a jornada. Tem uma galera muito unida por aqui influenciando muita gente de fora, o Frente Bolivarista mesmo é um projeto muito legal por isso. Vale acompanhar!

Pra mim é complicado me situar em algum conceito, eu nunca sei exatamente o que estou fazendo. Eu gosto de experimentar, o termo “música brasileira” como um todo me contagia muito, não me preocupo mais com essa necessidade de “tropicalizar” pontualmente tudo o que produzo pra tocar, as criações simplesmente acontecem.

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De Pouso Alegre pro mundo: Zé Rolê

Music Non Stop – Como você aí em Pouso Alegre observa o fortalecimento da música eletrônica brasileiras amplificado por novos núcleos de festas e selos?

Psilosamples – A internet uniu todo mundo, aplicativos, pessoas e gostos em comum em grandes escalas. Na rua, todas as festas e festivais por todo o Brasil e mundo, parceiros que surgiram dali, várias festas e hoje selos. Tenho acompanhado o som de uma galera daqui, muitos estão cada vez mais sérios e profissionais. Acho interessante, estamos todos aprendendo juntos.

Music Non Stop – Seu disco Mental Surf é até hoje um dos discos mais criativos da música eletrônica nacional. Como é seu trabalho de pesquisa para elaborar um novo disco? Neste Biohack Banana, por exemplo, você começou pelo conceito, por uma música, por algum título?

Psilosamples – Na verdade, eu começo a compor como uma história, algo para explorar, as músicas vão fluindo como mantra e muitas vezes interagindo com diversos tipos de sonoridades, da música popular à eletroacústica. Eu gosto muito de experimentar ao vivo, soa mais linear, eu diria, mas é algo sempre muito imprevisível como vai soar ao vivo, a acústica, o sistema de som etc. Funcionou muitas vezes!

Psilosamples – Estrada de Terra

Music Non Stop – Hoje com a tecnologia seu estúdio fica mais conectado com o mundo. Como a tecnologia te ajuda, além desse enorme adianto que é a possibilidade de realizar parcerias remotamente?

Psilosamples – Fantástico! O espaço está perdendo cada vez mais o sentido. Esta cada vez melhor! Pra mim tem sido ótimo poder sair de São Paulo sempre que posso. Estou sempre produzindo e colaborando com muita coisa! Trabalhando com muita gente que admiro. As coisas não param de acontecer. Estou muito feliz com estúdio e jardinagem e cada vez mais interessado em trabalhar com agricultura. Com equipamentos adequados, esse estilo de vida é completamente possível, e me faz muito bem.

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Music Non Stop – O que é Biohack Banana?

Psilosamples – É o nome de um live que virou álbum, foi o nome do projeto, veio na cabeça na hora, mas eu tô tentando entender ainda, livre interpretação (risos).

Music Non StopPineal Futebol Clube é uma homenagem à capacidade humana de transcender, de intuir e de captar ondas eletromagnéticas desconhecidas?

Psilosamples – (risos) SIM! Obrigado! Pode ser! Eu gosto muito de acreditar que isso seja possível! Já são 16 anos estudando isso! Mordomo de extra-terrestres, vários clubes, festas, festivais, propagandas, mídias, religiosidades são ótimos laboratórios de representações para toda essa minha busca de como uma performance ao vivo possa estimular sentimentos. É uma grande viagem que muitos de nós compartilhamos. Pineal Futebol Clube é só o nome mesmo, sem sugestões.

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Music Non Stop – Falando em pineal, você morando no mato, usa sua sensibilidade para processar a natureza e traduzir isso em música (se for viagem minha não precisa responder rs)?

Psilosamples – Sim, exatamente como as suas palavras! Começou tudo sem referencia conceitual nenhuma. Pensando profissionalmente isso pode ser frustrante, porque você não produz algo tão comercializável. Ninguém sabe o que é, cadê as músicas, é techno ou não é? E por aí vai. Quando funciona, é uma experiência incrível. Juntando com tecnologia moderna é muito satisfatório!
Não só no mato, mas ficar isolado da cidade pra criar me fez e faz muito bem.

Ouça a faixa Chipanzé Hormional com exclusividade aqui

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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