Aretha Franklin, a rainha do soul, aniversariou esta semana! Conheça sua história enquanto ouve nossa playlist especial
Chegou o esperado momento de falar sobre a Rainha do Soul, Aretha Franklin
A cantora teria feito aniversário esta semana. Ganhadora de 18 Grammys, a cantora interpretou a profunda dor e o amor de todos aqueles que sentiam a perda de Martin Luther King,em seu funeral; se apresentou na posse de três presidentes norte americanos, Jimmy Carter, em 1977, Bill Clinton, em 1993 e Barack Obama, em 2009. Fervoroso fã da homenageada de hoje nesta coluna, Obama declarou na época: “Se eu fosse para uma ilha deserta e só pudesse levar dez discos, Aretha estaria entre eles. Porque ela me lembra que sou humano”. Acho que todos nós faríamos o mesmo e é claro que você, leitor, já percebeu que se trata da amada diva, Aretha Franklin.
*A partir de hoje, esta coluna terá trilha sonora, aperte o play que hoje viajaremos para Detroit.
Aretha Louise Franklin nasceu no dia 25 de março de 1942, em Memphis, Tennessee. Filha da cantora gospel Barbara Siggers e do famoso reverendo CL Franklin, começou muito cedo sua carreira, cantando, sempre sob a batuta do pai, em cultos itinerantes e na Igreja Batista New Bethel, em Detroit. Aprendeu a tocar piano sozinha, tendo a igreja como escola para seu canto e orientada desde cedo por Mahalia Jackson e Clara Ward, cantoras consagradas, que fizeram muito sucesso nas décadas de 1940 e 1950 e sempre acompanhavam o reverendo Jackson em suas viagens e shows gospel.
Aconselhada por Sam Cooke, se convenceu de que precisava voar o mais alto possível e em 1960 fecha contrato com a Columbia Records, por onde lança seus primeiros álbuns não gospel, o de estréia, Aretha: With the Ray Bryant Combo, sai em fevereiro de 1961. A produção perdida e a falta de autonomia de Aretha na Columbia, acabam a fazendo mudar para a Atlantic Records, em 1967, agora sim, a liberdade total que o produtor Jerry Wexler dá à artista, a levam a criar algumas das melhores músicas de soul de todos os tempos.
A música negra, especialmente o soul e o jazz, foram condutores para o movimento dos direitos civis norte americanos, é impossível separar arte e luta nesta época, quase todos os artistas negros tinham profundas ligações com o movimento e eram grandes apoiadores, com suas letras e vozes poderosas, com Aretha, obviamente não foi diferente e ela usou sua imensa voz para ajudar a ecoar o grito negro por direitos. O pai de Aretha transformou a igreja onde era líder, em um centro de luta pelos direitos civis. Em 1963 organizou a Detroit Walk to Freedom. Martin Luther King concluiu a manifestação com um trecho do emblemático discurso “Eu tenho um sonho”, a íntegra foi ouvida por milhares, dois meses depois, na histórica Marcha em Washington.
A poderosa Respect, de outra lenda do soul, o compositor Otis Redding, lançada como single pelo cantor em 1965, pela Volt Records, na voz de Aretha ganhou outro sentido, a cantora modificou a letra e adicionou o famoso refrão soletrando R-E-S-P-E-C-T e acrescentou “sock it to me” transformando a música em um hino dos direitos civis e da luta feminista, cheia de emoção, raiva e amor, Aretha pede independencia. Originalmente cantada por um homem que pedia respeito à esposa, agora a canção era cantada por uma mulher negra, que pedia respeito, apoiada por suas irmãs Carolyn e Erma, que entoam coros que fizeram o engenheiro de som cair da cadeira, se a gente contextualizar, mulheres gritando por respeito e repetindo quase em louvor “sock it to me” em plenos anos 1960, dá pra entender o motivo. As cantoras posteriores a isso, tomaram posse real do poder feminino no vocal e letras, porque Aretha e suas irmãs arrombaram a porta com essa música. A canção pode se enquadrar em qualquer luta, incluindo a LBGTQIA+, porque tudo que as pessoas querem, assim como Aretha queria, é respeito. Em 2017 a canção tornou se símbolo do movimento #MeToo, iniciado após denúncias de assédio cometidas por um ex-produtor de Hollywood e que incentivou milhares de pessoas a quebrarem o silêncio e compartilharem histórias de abuso.
O álbum I Never Loved A Man The Way I Love You (1967), que lançou Respect, alcançou o primeiro lugar na Billboard Hot 100 e assim permaneceu por pelo menos 12 semanas, rendendo à Aretha novos patamares de aclamação e popularidade, a última vez que foi contada, a canção havia sido tocada 7 milhões de vezes nas rádios norte americanas. O álbum contém ainda as faixas Save Me e A Change is Gonna Come, composta por Sam Cooke, entre outras.
Aretha participou do clássico filme The Blues Brothers (1980), dirigido por John Landis e estrelado por John Belushi e Dan Aykroyd, interpretando Think, do álbum Aretha Now, lançado em 1968. Alguns dos hits já tinham sido lançados como single antes de serem reunidos neste disco ,que abre com um tiro de canhão no seu peito com Think. Aretha mantém o impulso feminista e em canções compostas por homens, se coloca na primeira pessoa da letra e, de repente, o que era uma faixa a respeito da liberdade sexual masculina se torna um manifesto de uma mulher empoderada.
Aretha Franklin é uma deusa, vendeu 75 milhões de discos, ganhou inúmeros prêmios, gravou 42 álbuns e 131 singles, as músicas dela tocaram incessantemente e mesmo assim eu não canso de ouvir, ou rever clipes e docs, alguns bem difíceis de não amolecer até os corações mais duros. Assistam Amazing Grace, gravado em 1972 e dirigido por Sydney Pollack, o documentário lançado em 2019, depois de um longo trabalho de resgate e produção, traz dois dias que levaram Aretha de volta às suas origens na New Bethel Baptist Church, em Los Angeles, apoiada pelo Southern California Community Choir, ela canta de olhos fechados, louva e nos emociona com sua total conexão com o divino. O maravilhoso álbum Amazing Grace, proveniente dessas gravações foi lançado na época e também é indispensável. Em setembro haverá a estreia da cinebiografia Respect, dirigido por Liesl Tommy e estrelado por Jennifer Hudson no papel de Aretha e Forest Whitaker, que viverá o reverendo CL Franklin. Não vejo a hora de participar deste culto. Louvada seja Aretha!