Iggy Pop sorrindo de camiseta preta Iggy Pop – foto: divulgação

Aos 78 anos, Iggy Pop lança disco surpreendente, voltado às suas raízes punk

Matheus Henrique Pires
Por Matheus Henrique Pires

Iggy Pop nos mostra que segue cheio de energia aos 78 anos, com o lançamento de Every Loser, uma “volta às raízes”

Na sexta-feira (6), foi lançado o novo disco de Iggy Pop, Every Loser.

Décimo nono álbum de estúdio da carreira do cantor – descontando os com os Stooges e Kill City (1977), em parceria com James Williamson – conta com a produção de Andrew Watt, que recentemente obteve destaque ao trabalhar em discos de artistas díspares como Miley Cyrus e Ozzy Osbourne.

E como de praxe, nos álbuns em que o produtor pôe a mão, convidados especiais como Duff McKagan (Guns n’ Roses), Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) e Dave Navarro (Jane’s Addiction) marcam presença.

Até mesmo o finado Taylor Hawkins aparece postumamente em uma faixa (“Comments”).

O título do disco vem da própria música com o falecido baterista do Foo Fighters – Taylor ainda é creditado como um dos compositores de “The Regency” – que contém a frase “Every loser needs a bit of joy” (tradução: “todo perdedor precisa de um pouco de alegria”).

O disco é o primeiro de Iggy a ser lançado pelo selo Gold Tooth Records, selo de Andrew Watt em parceria com a Atlantic Records.

Em resenhas mundo afora, aparecem elogios da crítica especializada. A famosa revista britânica New Musical Express (NME) cita que o iguana soa feroz como não se via (e ouvia) a muito tempo, e deu quatro estrelas, assim como o The Guardian, que também cita uma “volta às raízes” do frontman – seu disco anterior, Free (2019), fugia do rock e apostava numa abordagem mais jazzista.

“Frenzy”, o primeiro single, já havia sido divulgada em outubro do ano passado, ganhando também um clipe em animação. A linguagem, aliás, se manteve nos clipes de todas as outras músicas do disco.

Uma banda que ganhou o nome de The Losers, formada pelos já citados – e participações mais presentes em Every Loser – Duff McKagan e Chad Smith no baixo e bateria, respectivamente, além de Andrew Watt e Josh Klinghoffer (ex-companheiro do baterista no Red Hot Chili Peppers) nas guitarras, servirá como grupo de apoio de Iggy para a promoção do disco.

O DISCO

Não é novidade para Iggy Pop estar bem acompanhado – e, porque não, bem direcionado – em um novo lançamento. Desde as colaborações com David Bowie nos anos 70 e 80, passando pelo seu disco mais vendido (Brick by Brick) sob a produção de Don Was, e chegando até ao mais recente Post Pop Depression, sob a batuta de Josh Homme (líder do Queens of the Stone Age), o vocalista soube aproveitar de quem estava a seu lado para produzir bons trabalhos.

Alguns deles, definitivos, como The Idiot e Lust for Life (ambos de 1977).

E quando Andrew Watt foi anunciado como produtor, esperava-se que ele imprimisse seu estilo no trabalho,
influenciando diretamente não só no som como também nas composições.

No entanto, por mais que os convidados sejam praticamente os mesmos dos discos que Watt gravou com Ozzy Osbourne, Every Loser consegue ter uma sonoridade própria, até porque não faria sentido algo assim – Iggy não canta metal.

A sonoridade é fincada na seara do rock alternativo, oscilando entre o punk e o pós punk, que o próprio iguana ajudou a inventar com os Stooges.

Mas, ao mesmo tempo, soa bem atual. A timbragem dos instrumentos soa moderna, porém sem apelar
para a pasteurização, como às vezes acontecem em alguns discos.

O conceito de “volta às raízes” é empregado, até certo ponto, sem ser um revival datado. Há canções mais agitadas, como “Frenzy” e a até certo ponto juvenil “Neo Punk”, com participação de Travis Barker (Blink-182) na bateria.

Mas há também espaço para abordagens mais variadas. “Strung Out Johnny” coloca o baixo e o teclado em destaque, e assim como “Comments”, é bastante calcada no pós punk dos anos oitenta, de bandas como Cure, Joy Division e Siouxsie and the Banshees.

Canções mais ‘reflexivas’ como “Morning Show” e “New Atlantis”, que podem talvez serem consideradas as ‘baladas’ do disco, convivem lado a lado com outras mais roqueiras, como “Modern Day Ripoff” e “All the Way Down”, onde os riffs de guitarra tomam a frente.

Iggy também mostra versatilidade nas interpretações, soando bem e coerente em todos os estilos citados, como é de seu habitual.

A essa altura do campeonato, não se sabe até quando podemos esperar novos discos e shows de Iggy Pop, já que a idade pode pesar a qualquer momento – o vocalista chegou recentemente aos 78 anos de idade. E mesmo Every Loser surpreende de certa forma, já que Post Pop Depression já tinha uma cara de despedida uns anos atrás. Mas se esse, na teoria, for o último álbum de estúdio de sua carreira, dá pra dizer que ela foi encerrada de maneira digna.

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