Nick Cave e Brad Pitt Nick Cave e Brad Pitt – foto: Sara Hilden Art Museum

Ao completar 65 anos, Nick Cave se une a Brad Pitt em exposição de suas esculturas

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Nick Cave surpreende inaugurando exposição de suas esculturas junto com Brad Pitt. A Vida do Diabo tem dezessete obras criadas entre 2020 e 2022

Em sua newsletter “Red Hand Files“, onde responde perguntas enviadas por fãs, Nick Cave escreveu o que pensava sobre a polêmica entre separar a arte do artista, no caso de pessoas com um trabalho musical sublime e, na vida privada, atos condenáveis.

Dono de um único e doce pragmatismo, o crooner australiano respondeu ao fã:

“Eu não acho que podemos separar a arte do artista, e nem devemos fazê-lo. Acho que podemos olhar para uma obra de arte como uma parte redimida e transformada do artista, e nos maravilhar com a miraculosa jornada que o trabalho artístico tomou para chegar até a melhor parte da natureza de uma pessoa. Aquela pessoa ruim que fez algo lindo é um motivo de esperança. Ser humano é transgredir”.

Sua visão sobre o assunto é algo absolutamente translúcido, sereno. E para mim, definitivo.

A leitura semanal de suas cartas, tão pessoais e corajosas, nos mostra também que, no caso de Nick Cave, não separar a arte do artista é sensacional.

Completando 65 anos neste 22 de setembro, o  cantor, escritor (e agora também escultor) coleciona tragédias pessoais em sua vida que desafiariam a esperança no mais forte dos homens. Teve dois filhos levados de forma precoce e trágica, conviveu com o vício em heroína e, mesmo assim, superou tudo de uma forma sobre-humana, a ponto de tratar sobre  todos estes assuntos nas respostas que envia a seus admiradores através das newsletters.

Cave pratica uma espiritualidade criada por ele mesmo, apropriando-se de elementos vindos de diversas religiões e filosofias. Expressa sua visão sobre a alma humana com letras profundas, bons livros, alguns  rascunhos doidões feitos em sacos de vômito de avião (que também viraram o livro The Sick Bag Song) e, agora também em esculturas.

Sua primeira exposição começou dia 20 de setembro na Finlândia, ao lado do astro do cinema Brad Pitt, que também esculpe. A dupla de peso se reuniu ao britânico Thomas Houseago, que participa da mostra.

Nick Cave está mostrando, pela primeira vez, dezessete obras que criou entre 2020 e 2022, mostrando que soube usar seu tempo durante a pandemia. A série se chama “A Vida do Diabo”, entidade de incontaveis significados que visitou Cave tantas vezes em sua vida, a ponto de se tornar uma espécie de amigo íntimo.

“Queria fazer o diabo, porque gosto de vermelho. E gosto da cor vermelha do verniz”, disse o músico à revista finlandesa YLE. “Finalmente, decidi fazer a história da vida do diabo. Para mim, pessoalmente, diz algo sobre a ideia de perdão ou a necessidade de ser perdoado. É um trabalho muito pessoal”.

Para os nossos leitores que passarão pela Finlândia, a exposição fica em cartaz até janeiro de 2023. Aos demais, resta esperar quando desembarca por aqui. Então teremos a oportunidade de conhecer mais um palco da alma de Nick Cave, desta vez contada pelo próprio diabo.

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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