Personagem de Brooklyn Nine-Nine foi interpretado por Andre Braugher, que nos deixou aos 61 anos de idade
“Ele não tem uma vibe gay?”, pergunta Gina Linetti, personagem de Chelsea Peretti, no primeiro episódio de Brooklyn Nine-Nine. A piada se refere ao Capitão Raymond Holt, o novo chefão da delegacia de polícia, e é engraçada porque, durão e sério, Holt não passava vibe gay alguma. Até que, ao final daquele capítulo, ele assume, casualmente, que de fato era homossexual.
Magistralmente interpretado por Andre Braugher, 61, que nos deixou nessa segunda-feira (11) — a morte só foi revelada publicamente na noite de ontem (12) —, o Capitão foi um dos grandes trunfos da sitcom de maior sucesso da última década. O personagem seguiu uma receita que parece infalível: com um quê de espectro autista, tem uma inteligência muito acima da média, mas dificuldades de socializar e entender nuances emocionais, quase um robô, vide Sheldon Cooper (Jim Parsons), de Big Bang Theory, e Maurice Moss (Richard Ayoade), de The IT Crowd.
Com uma diferença circunstancial: ele era um chefe de polícia preto e gay.
Um dos grandes trunfos de Nine-Nine, que bombou absurdamente por oito temporadas, foi conseguir encaminhar esse tipo de questão dentro da comédia de uma forma natural, na medida certa e sem nenhum tipo de desrespeito. Com sua projeção de figura paterna, Raymond Holt foi, sim, um desses personagens idiossincráticos que todos amam e marcam gerações, mas, além disso, foi fundamental para ressignificar o homossexual dentro da comédia.
Até pouco tempo atrás, fosse no humor americano, no brasileiro ou de qualquer outro lugar, o gay era motivo de riso por si só. Personagens com trejeitos estereotipados e que, basicamente, tinham a única função de servirem como alívio cômico. A homossexualidade de Holt, por outro lado, embora constantemente endereçada na série, não servia como motivo de chacota. Todos o respeitavam, ele era notável por diversas outras características e o fato de ser casado com um homem era visto como algo natural, como deveria ser em qualquer lugar.
Felizmente, os tempos estão mudando, e, assim como Larry David tem feito com maestria em Curb Your Enthusiasm, Braugher e a equipe de Brooklyn Nine-Nine conseguiram tocar nesta e em outras feridas da atualidade, como as que envolvem minorias, de uma forma hilária e não ofensiva — mostrando, por um lado, que o tema não precisa ser tabu, a ponto de não se poder brincar com ele, e, por outro, que é possível se fazer comédia, sem amarras politicamente corretas, falando sobre esses assuntos de maneira descontraída e respeitosa.
E nisso, o último grande personagem interpretado por Andre Braugher foi figura-chave.
A morte de Andre Braugher
O ator faleceu na última segunda-feira, 11, por conta de “uma breve doença”, conforme foi comunicado por sua assessoria de imprensa nessa terça, 12, sem entrar em detalhes.
Andre Braugher tinha 61 anos e deixa a esposa, Ami Brabson, e três filhos.