A história por trás de Elvis, o herói caído e inseguro retratado por Baz Luhmman é uma obra quase definitiva

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

“Elvis” já está disponível para assinantes na grade de programação do HBO Max e à venda nas plataformas digitais

Elvis: Quando era criança, senhoras e senhores, eu era um sonhador. Lia revistas em quadrinhos e era o herói das histórias. Eu assistia aos filmes, e era o herói das aventuras. Então, entre tudo que sonhei, consegui realizar 1oo vezes os meus sonhos”.

 

As tocantes palavras acima fazem parte de um discurso que ganhou fama mundial por ser uma das raras aparições de Elvis Presley em um programa de TV, mais precisamente, no evento JC’s Accpetance Speech, onde o Rei do Rock foi incluído entre as 10 mais importantes personalidades jovens dos EUA no ano de 1971.

A cena de arquivo inserida nos instantes finais de Elvis – de Baz Luhmann (que acaba de entrar na programação do canal por assinatura HBO Max e locadoras online) funciona como uma amostra do estado de espírito do Elvis vivido por Austin Butler na cinebiografia. Poética, mas cheia de melancolia. E, desta forma, praticamente definitiva.

Mais da metade do filme, aliás, carrega um tom melancólico. Seu roteiro é uma espécie de contagem regressiva até a conclusão da jornada de Elvis Presley como o principal nome da cultura pop mundial da história no fatídico 16 de agosto de 1977.

Dito isso, a intenção de expor ao público a verdadeira face manipuladora de seu único empresário, Coronel Tom Parker (nome de guerra do ardiloso holandês Andreas Cornelis van Kuijk, vivido por Tom Hanks), justifica a ideia do cineasta de não ser tão imersivo em detalhes na primeira etapa do longa de 2h40 de duração.

Só não podemos desprezar totalmente a primeira hora do longa. Esta etapa do filme faz questão de apontar que Elvis era um amante da música negra e que nunca escondeu sua afinidade com lendas como Little Richard – e com seus amigos oprimidos por uma sociedade que demonstrava alto cunho racista nos anos 1950.

Se você não é familiar com a rica literatura disponível sobre o artista nascido “numa fria e congelada manhã” de 8 de janeiro de 1935, em Tupelo, aqui vai a dica: para entender melhor essa comparação, saiba que Elvis, de Baz Luhmann, se assemelha muito mais à segunda parte da biografia escrita por Peter Guralnick Careless Love – The Unmaking of Elvis Presley” do que com a primeira: “Last Train To Memphis” (disponível em português).

Em “Careless Love”, o autor fornece todo o escopo que acompanhamos da metade para o fim longa da Warner Bros., onde Tom Hanks – que, em tese, seria o coadjuvante – desponta como o grande vilão, capaz de tudo: desde chantagem financeira até o controle psicológico de seu pupilo (incluindo drogas prescritas). Tudo para convencer o Rei de que “ele não seria nada sem ele”.

Elvis: do breve renascimento ao último suspiro

Não à toa, Elvis dá um grande salto, de 1959 para 1968, como se quisesse acelerar o processo e revelar a deterioração de Elvis como homem e como ídolo.

Afastado do EUA por quase dois anos para servir o exército, Elvis Presley reaparece ao menos mais uma vez na trama, em grande estilo, no lendário especial de TV “Elvis 68” da NBC. É nesse ponto do longa que até mesmo o sempre inseguro Elvis acredita que está prestes a se libertar das garras do Coronel para tentar voos mais altos fora dos EUA. Em vão.

Aliás, o “exílio” de Elvis em uma base militar na Europa ficaria marcado como sua única viagem internacional. Um verdadeiro escárnio para um artista que quebrou todos os recordes imagináveis na indústria fonográfica.

O suspiro de liberdade do Rei, exibido quando ele tinha somente 33 anos e sentia-se acabado por conta da péssima condução da carreira, foi exatamente isso. Um suspiro.

Logo após atuar na TV e gravar o excelente From Elvis In Memphis, onde replicaria em vinil o sucesso atingido no especial da NBC, Elvis é convencido a fazer uma longa residência em um hotel de Las Vegas, onde permaneceria atuando até quase até sua última performance.

Neste ponto do filme, vale destacar, o diretor Baz Luhmann é muito competente ao ilustrar os últimos passos do herói caído com maestria.

Na cena final, a imagem de Austin Butler se funde de forma quase sobrenatural a do verdadeiro Elvis, cantando como se não houvesse amanhã, o clássico dos Righteous Brothers, “Unchained Melody”, penúltima música apresentada no Rushmore Civic Center, em South Dakota, em 21 de junho de 1977.

Menos de dois meses depois, Elvis sairia do recinto para sempre.

“Sem uma canção, o dia nunca terminaria. Sem uma canção, um homem não tem amigos”.

– Elvis Presley

 

 

 

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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