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Opinião: Gwen Stefani vai de ícone pop-punk a carolismo cristão

Gwen Stefani

Foto: Reprodução

Jota Wagner denuncia a “encaretização” da famosa cantora, ao mesmo tempo que mostra que dá pra ser religioso e continuar legal

“Junte-se a mim e a milhões de cristãos do mundo todo para celebrar a verdade de nosso Deus, que ama tanto o mundo a ponto de nos dar seu único filho.” Assim Gwen Stefani, grande ídolo do punk bubblegum dos anos 90, banhada no padrão classe média conservador estadunidense (e da retórica religiosa de tratar mitologias como verdades absolutas), convida seus fãs para baixarem um novo app religioso que está promovendo.

Apesar de não ser raro artistas recorrerem à religiosidade na fase madura da vida, principalmente em um meio profissional que não lhe economiza pancadas, a encaretização de Stefani causa certa aflição. Mais do que buscar paz e apoio nas aflições, o que nos levanta as sobrancelhas é a capacidade do padrão “sonho americano” de ver o mundo de sempre acabar cooptando gente que, até pouco tempo atrás, se dedicava a apontar as rachaduras no sistema.

O vídeo de Stefani é um conjunto de símbolos desta estética: o figurino, a árvore de natal próxima à lareira da mansão, e principalmente a eloquência nos momentos-chave do convite. “Nosso Deus”, “seu único filho“, “a verdade“, e por ai vai, dando pinta de que, na cabeça estranha de muitos, eles são os únicos que estão do lado certo.

Não é preciso virar a Regina Duarte para curtir os benefícios da espiritualidade. George Harrison e Bob Dylan, por exemplo, buscaram o catolicismo depois de passearem por outras praias místicas, mas sempre deixando claro que aquela era uma questão pessoal. Dentre as muitas verdades diferentes, escolheram a que mais compreendiam para cultuar seu equilíbrio.

Até mesmo nosso Rodolfo, ex-Raimundos, que mudou do extremo “maconha e misoginia” para o evangelho, a fim de justamente se livrar definitivamente do antigo estilo de vida, seguiu fazendo música e professando sua fé sem meter o dedo na cara de quem não conhecia a verdade.

Gwen Stefani, hoje com 51 anos, sempre foi católica. Mas somente nos últimos anos assumiu a postura de fervorosa temente a Deus, a ponto de dedicar sua imagem à conversão de sua base de fãs. Má notícia para os entusiastas da banda que a projetou, o No Doubt. A cantora rejeitou uma baita proposta de reunião para uma turnê no último ano. Para ouvi-la, agora, só mesmo nos tradicionais CDs natalinos que os estadunidenses amam, além de sua carreira solo. Stefani acabou de lançar Bouquet, seu quinto álbum após deixar o antigo grupo.

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