The Smiths The Smiths em 1984. Foto: Reprodução/Rough Trade

Morrissey coloca à venda sua parte nos direitos autorais do The Smiths

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Com direito a mágoa e exposição pública, icônico frontman da banda britânica afirma estar fazendo isso pelo bem da sua saúde

Família vende tudo! Bem… no caso de Morrissey, lendário vocalista e criador dos Smiths, o slogan correto seria “Vendo tudo para me livrar da família”. O polêmico artista surpreendeu a todos publicando em seu blog que está se desfazendo de absolutamente tudo o que é relacionado à sua ex-banda: direitos autorais, merchandising, artes e logotipos usados nos discos, e até mesmo o nome do grupo. Quem arrematar, poderá viver da renda futura das músicas lançadas entre 1984 e 1987, anos de atividade da banda. Só falta combinar com o antigo companheiro, Johnny Marr.

Como não poderia deixar de ser, dado o histórico treteiro de Morrissey, o anúncio veio acompanhado de uma boa dose de reclamação, mágoa e exposição pública. Em seu blog, justificou:

“Estou queimando todas as minhas conexões com Marr, [Andy] Rourke e [Mike] Joyce. Estou cheio de associações maléficas. Durante toda a minha vida, paguei a eles pelos direitos dessas músicas e imagens. Eu quero, agora, ser desassociado daqueles que não me desejam nada além de destruição, e esse é o único motivo da minha decisão. Essas músicas são ‘eu’ — mais ninguém —, mas eles me perseguem com suas comunicações corporativas que me causam mais cansaço, ano após ano. Eu preciso agora me proteger, especialmente a minha saúde”.

A discórdia é clássica, comum há muitas bandas de rock. Morrissey acha que ele é o The Smiths, os outros integrantes obviamente não concordam. A banda soou daquela forma graças a todos os envolvidos, independentemente de quem compôs as músicas. E dá-lhe, “ano após ano”, disputas judiciais.

Legalmente, os direitos são divididos. Metade é de Marr e metade de Morrissey (algo não citado pelo vocalista no anúncio de venda). O comprador que resolver assumir essa bucha vai obrigatoriamente lidar com um sócio, Johnny Marr, no que diz respeito, por exemplo, a uma futura coletânea ou disco ao vivo lançado no futuro.

Comprar direitos e catálogos de artistas é um baita negócio, e muitas empresas ao redor do mundo investem nisso. Um especialista calcula quanto a música vai render em direitos autorais nas próximas décadas e oferece um valor à vista para arrematar tudo. Os compositores recebem uma bolada na hora e desistem dos rendimentos futuros. Vai da situação financeira de cada um.

Ainda não há uma estimativa pública do quanto valeriam os direitos dos Smiths, mas obviamente o valor negociado (caso Morrissey mantenha a decisão) será na casa dos milhões. No entanto, para ajudar nosso leitor a fazer as contas e mandar uma oferta ao titio, saiba que Bob Dylan já vendeu 600 de suas canções por 300 milhões de dólares, o Kiss negociou o catálogo inteiro também por 300 milhões, e Justin Bieber entregou tudo o que já havia escrito por duzentão.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.