David Bowie Foto: Reprodução

O musical que David Bowie começou a escrever antes de morrer

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Entregues ao Victoria and Albert Museum, anotações do astro revelam projeto que nunca saiu do papel

Você é diagnosticado com câncer e precisa passar por um intenso tratamento, que pode não ter chances de sucesso. Como lidar com isso? Se você é David Bowie, escreve, grava e entrega um álbum inteiro falando secretamente sobre o tema, Blackstar (2016), emendando a coautoria de um musical de sucesso na Broadway e, no tempo livre (de onde arrumou, ninguém sabe), escreve outro projeto: mais um musical, cuja história se passa na Inglaterra do século 18.

O projeto não lançado foi revelado na megaexposição dedicada ao cabra no Victoria and Albert Museum. Dentre os milhares de itens entregues pela família ao espaço, estava um organizado caderno com suas pesquisas e alguns detalhes sobre a história que estava escrevendo, usando como referência um jornal publicado em Londres por volta de 1711. Já em tratamento para o câncer, o artista revirou os arquivos disponíveis, leu tudo o que foi publicado e separou as notícias da época, dando notinhas de 1 a 10 em seu caderno.

Analistas do museu revisaram sua anotações e entregaram à BBC detalhes sobre a história, que tinha três personagens principais: Jack Sheppard, um ladrão carismático, Jonathan Wild, um justiceiro que prendeu Sheppard, e The Mohocks, uma gangue que realmente existiu na Inglaterra daquela época, formada por filhinhos de papai, da classe alta londrina, que se reuniam para espancar pessoas mais pobres nas ruas. O nome provisório do musical era The Spectator, homônimo ao periódico que consumiu seus últimos meses de vida em ávidas pesquisas.

David Bowie anotou com especial carinho algumas histórias que achou interessantes no período, além da rotina dos Mohocks. Deu oito estrelinhas para o caso de um crime envolvendo duas irmãs, enforcamentos públicos e um suposto caso de uma briga de cirurgiões que saíram no tapa por cima de alguns cadáveres.  Suas notas também incluíam uma cronologia artística e política de todo o século 18.

Infelizmente, os cadernos de The Spectator não estão disponíveis online. Mas nada que não possa ser resolvido com um empréstimo bancário e alguma falta de responsabilidade para uma viagem de última hora. Vamos?

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.