Doechii Foto: Reprodução

Muito além do TikTok: conheça Doechii, a rapper que gostaríamos de ver em 2026

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Artista de 26 anos combina experimentação e presença de palco para se firmar como uma das novidades mais empolgantes do rap dos EUA

Se destacar no universo do rap estadunidense não é nada fácil. Além da tradição acumulada pelos inventores do gênero, a força de seu mercado fez com que tudo ali se profissionalizasse mais do que em qualquer lugar do mundo. Grandes gravadoras, grandes estúdios, produtores tarimbadíssimos e, principalmente, uma massa gigante de jovens tentando, todos os anos, pular dentro dessa caçarola artística. Isso faz com que a ascensão de uma nova garota ao estrelato se torne um grande evento, principalmente em tempos recentes, onde tudo parece já ter sido feito no universo da música. Essa é a história de Doechii.

Nossa torcida é para que a artista venha ao Brasil para se apresentar no Lollapalooza 2026. Isso aconteceria dois anos após ter cancelado seu show no festival AFROPUNK, em Salvador, por “motivos pessoais”. Caso nosso desejo seja atendido, ela chegará sendo conhecida por muita gente como “um fenômeno viral do TikTok“. É muito mais do que isso. Quando o festival baiano a escalou para visitar o país pela primeira vez, em 2024, havia acabado de lançar o excelente álbum/mixtape Alligator Bites Never Heal. Um petardo do chamado alternative rap, mais experimental; um subgênero que geralmente é a porta de entrada para novos e bons artistas nos Estados Unidos. Na época, foi saudada como uma nova Missy Elliott, mas declarou que Lauryn Hill é sua verdadeira inspiração. A menina (hoje tem 26 anos) cresceu ouvindo The Miseducation of Lauryn Hille efetivamente trouxe para sua música a experimentação e a atmosfera cool da ídola.

Se você acha “Doechii” um nome artístico estranho (não tem nenhum significado, segundo a própria inventora), saiba que ele foi escolhido na época da escola para substituir o de nascença, que ela achava ainda mais esquisito: Jaylah Ji’mya, inventado pelo pai, o ex-rapper Snatcha Da Boss. A excentricidade, claro, lhe rendeu uma onda de bullying no colégio, e a futura estrela da música achou que “Doechii” era um apelido que a tornava mais forte.

Foi educada para a arte: estudou balé, tap dancing e teatro, mas acabou seguindo os passos do pai para se expressar. Em 2016, aos 18 anos, lançou sua primeira música, de forma independente, no Soundcloud (Girls, ainda assinando como Lamdoechii). A carreira, no entanto, começou e engatar quando botou na rua a mixtape Coven Music Session, Vol. 1, elogiada por revistas e pela comunidade do rap, levando-a a assinar, em 2022, seu primeiro contrato com uma grande gravadora, a Capitol Records, e entrar de vez no rolê.

Doechii lançou um único álbum até agora. Mas não é qualquer um. Alligator Bites Never Heal faz com que a garota passe longe de ser uma “promessa” e se coloca como uma grata e estabelecida novidade do rap feito nos Estados Unidos. Ela ganhou o Grammy de “Melhor Álbum de Rap” com a produção.

Caso venha a São Paulo, a rapper já trará consigo a experiência de ter passado pelos palcos do Lollapalooza Chicago – onde foi uma das atrações mais celebradas e aplaudidas -, Glastonbury, Forward e o australiano Spilt Milk. Enquanto espera, aplaque sua curiosidade seguindo a recomendação do seu Music Non Stop: Alligator Bites Never Hill merece sua atenção.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.