Barry Can't Swim - Loner
Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

Conhecemos de verdade um artista em seu segundo álbum. No primeiro, geralmente o pessoal faz o que dá pra fazer. Principalmente, transfere para o estúdio aquilo que se viu em suas primeiras temporadas no palco, fornecendo ao público uma forma de consumir algo que vem chamando a atenção ao vivo. No segundo, já transposta a tensão inicial, geralmente conhecemos sua verdadeira cara. Mais à vontade, a hora é de mostrar a que veio, o que tem a dizer e porque querem fazer diferença no mundo da música. Loner, segundo LP do escocês Barry Can’t Swim lançado no último dia 11 pela Ninja Tune serve bem como exemplo.

When Will We Land?, de 2023, retratava quem Joshua Spence Mainnie (o Barry que não sabe nadar) queria ser, com intenções mais “mundiais”. No disco dois, deliciosamente britânico, vemos quem ele realmente é. Loner deixa de lado as irritantes pegadinhas sonoras para soar bem em palcos de festivais e foca mais em influências históricas da música eletrônica popular de sua terra.

Ouve-se um pouquinho de Chemical Brothers, Orbital, muito da cultura rave da década de 90 e, de além-mar, Moby e LCD Soundsystem. O disco é mais soturno e esfumaçado, principalmente quando flerta com o breakbeat, trip-hop e progressive house daqueles tempos. Deixando o “palco grande” para o pequeno club, Barry Can’t Swim preenche uma lacuna deixada por seus conterrâneos do Disclosure, que fizeram o caminho contrário (e deu muito errado).

As duas primeiras faixas do disco, The Person You’d Like To Be e Different, são sensacionais — mais artísticas e menos formulaicas (teve muito disso em When Will We Land?). O feijão com arroz do “quero tocar no palco principal” ainda está lá, mas não estraga o álbum, embora seja dispensável.

Machine Noise For A Quiet Daydream, a oitava faixa, é o que chamávamos lá atrás de “anthem”. Um hit de rádio e hino de época, feito sob medida para a trilha sonora de um filme. Aliás, considerando que tem livro novo escocês saindo do forno neste exato momento — a continuação de Irvine Welsh para os personagens de Trainspotting —, fica minha dica para incluí-la na versão cinematográfica que talvez venha a tona em um futuro próximo.

Loner é uma pequena aula sobre a história da dance music britânica. E uma ótima opção para sua trilha sonora nos próximos dias.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.