Tommy Imagem: Reprodução

Há 50 anos, 1ª ópera rock da história chegava aos cinemas

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Inspirado no álbum do The Who de 1969, o filme Tommy trazia nomes como Elton John, Jack Nicholson e Tina Turner

Dia 19 de março de1 1975, chegava aos cinemas a versão cinematográfica de Tommy, a primeira ópera rock da história, criada pelo The Who. O lançamento foi nos Estados Unidos (na Inglaterra, terra natal da banda, chegaria 11 dias depois). Inspirado no álbum homônimo de 1969, o filme foi produzido de forma independente, mas graças à popularidade da banda na época, saiu do forno com pompa.

No elenco, nomes como Elton John, Jack Nicholson, Tina Turner, Robert Palmer e Eric Clapton interpretaram os personagens de uma trama nada óbvia e bastante emaranhada nos traumas da sociedade em que foi inscrito. A obra foi dirigida por Ken Russell, já uma estrela do cinema alternativo britânico.

Tommy é um garoto que vê o próprio pai, um pilo da Segunda Guerra, ser assassinado pelo novo marido da mãe que, tentando não ser incriminada, insiste em convencer o garoto de que ele “não viu nem ouviu nada”. O trauma faz com que o protagonista desenvolva cegueira e surdez psicossomática. O “menino burro, surdo e cego” passa a viver nas ruas, onde tenta a cura conhecendo um líder religioso e um traficante de LSD, não sem antes se tornar um campeão de fliperama, jogando por instinto.

Os discos conceituais, em que todas músicas giram em torno do mesmo tema ou história central, começaram a ser explorados pelos Beatles a partir de 1967, com Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), Magical Mystery Tour (1968) e Yellow Submarine (1969). Mas o que o The Who fez com Tommy, também em 1969, foi de outro nível. Trata-se de um livro dissecado em canções que narram histórias de cada personagem. Definitivamente, uma ópera. Mostrou ao mundo, em uma época em que havia um vasto campo de coisas a serem inventadas na música, novos caminhos para aproximar aquele som popular e barulhento feito para a molecada, da alta arte dos conservatórios.

A obra foi filmada na vila em que Ken Russell morava, o vale Borrowdale, e em Portsmouth. Levou apenas 12 semanas para ser concluída. Fez um baita sucesso logo que foi lançada, provando que a união de rockstars com o cinema era um grande negócio: somente nos Estados Unidos, arrecadou 119 milhões de dólares, em valores atualizados. Pela crítica, foi recebida como “errática e propulsiva, como um jogo de fliperama”, e “a última palavra, se tratando da pop art”.

Os caras do The Who queriam mais do que “apenas” inaugurar uma nova conexão entre literatura, cinema e música. Tommy foi mixado em um novo sistema de som, ainda experimental, chamado de quintafônico. O vovô do surround sound, que décadas mais tarde tomaria conta dos cinemas e sistemas de home theater.

Em 50 anos, vários outros artistas se aprofundaram no formato da opera rock: David Bowie e seu Ziggy Stardust, Pink Floyd, com The Wall, e vários outros. Nada, porém, desceu tão fundo na literatura quanto a história do garoto que encontra na rua, nas viagens lisérgicas e no fliperama uma tentativa de sobrevivência.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.