EUSEXUA

EUSEXUA

FKA Twigs

Electronica / Pop | 2025

9/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

Na corrida das homenagens ao maravilhoso passado raver britânico, Charli xcx acaba de ser sumariamente ultrapassada por FKA Twigs. Charli, a sensação de 2024, bradou aos quatro ventos que BRAT era seu álbum para resgatar a energia das pistas de dança e das raves na terra da rainha. Um discaço. Mas perto de EUSEXUA, que Twigs acabou de lançar (24 de fevereiro), ficou pequeno.

Claro que para o público não existe competição de música boa. Quanto mais bons trabalhos, melhor para o planeta dançante. Mas a comparação é válida — afinal, rankings e charts estão aí para isso — como um apontamento de tendência (ou de retrotendência, no caso), entre duas ótimas artistas britânicas. A Inglaterra vive um momento de saudar a incrível produção musical que se espelhou para o mundo na década de 90.

EUSEXUA é deliciosamente minimalista, techno e esquisito. Um disco de música eletrônica, com 11 canções mariposando entre Underworld e Björk. Difícil resenhá-lo sentado em uma cadeira. Da canção de abertura, Eusexua, à oitava, Childlike Things, é irretocável. Dá uma leve derrapada nas três músicas do final, trazendo a FKA Twigs dos álbuns anteriores. Mas neste ponto do circuito a corrida está ganha. Que momento vive a música pop britânica!

Exceto pela sonoridade modernosa dos beats, com um certo desprezo pelos agudos e muito espaço para respirar, o coração de EUSEXUA está embebecido nos anos 90, com pitadas de techno, house, minimal e breakbeat servindo de gelo para a patinação vocal de Tahliah Debrett Barnett, hoje com 37 anos (nascida em Gloucestershire, no sudoeste da Inglaterra), no ápice de sua criatividade. Abre no ouvinte a vontade de ver um show deste álbum ao vivo, objetivo principal de um lançamento musical nos dias de hoje.

EUSEXUA é um álbum de música pop. Guarde isso na mente ao considerar as comparações sonoras e históricas feitas nesta resenha. Seu grande feito é trazer de volta a experimentação aos grandes palcos para servir de bandeja a quem está chegando agora no mundo da música. Faz refrescar a memória do momento em que todo mundo ficou de olho nas raves eslameadas e os clubes esfumaçados, na virada do milênio, para copiar suas fórmulas — de Madonna a Britney Spears. Ouça Room Of Fools, a melhor do álbum, e sinta os cruzamentos estéticos que se estapeiam por ali. Grande serviço prestado à música. É, como dizíamos lá atrás, um anthem.

Para a música de pista, 2025 começou bem.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.