Do palco à multidão: como Twenty One Pilots dominou o Allianz Parque
Vitória Zane conta como foi a perna paulistana da turnê brasileira realizada recentemente pelo duo americano
Definitivamente, já me esqueci de como são os shows em que as bandas simplesmente sobem no palco, tocam seus instrumentos, cantam, dizem umas frases legais e encerram a apresentação. Confesso que estou mal acostumada. As produções ao vivo têm surpreendido positivamente. Twenty One Pilots foi mais uma delas. Dois caras em cima de uma estrutura gigante, que parecia pequena com o tamanho estrondoso da performance de ambos. Realmente, o palco não era o suficiente. Eles precisavam de mais espaço — e conseguiram, ao andar em meio a um Allianz Parque praticamente lotado.
Com The Clancy World Tour, turnê que celebra o álbum mais recente da banda, Clancy, eles têm rodado o mundo. Só no Brasil foram três shows, repletos de pessoas de todas as idades. O público era diverso, mas uma coisa os unia: roupas, acessórios e maquiagens envoltas na narrativa criada por Tyler e Josh durante mais de uma década. Balaclavas no rosto, pescoços e mãos pintados de preto, camisetas estampadas com Clancy e roupas vermelhas em alusão às alegorias que chegaram a um capítulo final com o lançamento de 2024.
O evento também espelhava todo esse universo e replicava a identidade visual de cada era da banda, marcada pelos álbuns Blurryface, Trench, Scaled and Icy e, claro, Clancy. As cores do palco mudavam, os cenários também. O que não alterava era a empolgação de ambos, que disseram amar se apresentar em solo brasileiro. Parece conversa fiada de todo artista gringo, né? Dessa vez não. Perdi as contas de quantas vezes eles desceram do palco, correram pelas passagens entre setores e fizeram uma performance mais intimista no meio da multidão. Ok, isso rola em todo show, mas a gente sabe que no Brasil tem aquela vibração diferente, estava estampado nos seus rostos — e no dos fãs também.
Entre os momentos marcantes da apresentação, está o da faixa Ride, na qual Tyler escolhe alguém para cantar um trecho. Em São Paulo, no Allianz, a sortuda foi a fã mirim Maria Eduarda. Outra parte emocionante foi em Mulberry Street, com o público acompanhando os vocais e melodias do piano com as lanternas coloridas dos celulares.
Com letras que falam sobre as complexidades da mente, como medo, ansiedade e depressão, as faixas do Twenty One Pilots são capazes de criar uma comunhão quando entoadas ao vivo. Elas têm o poder de criar uma comunidade, colocando a própria banda em posição comum, ao lado de cada fã que atravessa as mesmas dificuldades. Definitivamente, nenhuma experiência é individual. E isso fica claro num show da dupla, que sabe criar uma catarse coletiva com excelência.