FALA

8/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Projetos musicais surgidos dentro de um cenário festeiro não podem ser analisados separadamente da pista em que nasceram. Foi assim com As Frenéticas, grupo de disco music nascido no palco da discoteca Frenetic Dancing Days, no Rio de Janeiro, e também com o saudoso Que Fim Levou Robin?, gerado na Nation, em São Paulo. O representante atual da categoria é a Teto Preto, ligada em carne e osso com a Mamba Negra, rolê independente dos mais considerados em São Paulo.

O mundo, no entanto, mudou. E com ele, o aspecto “pura diversão”, que os irmãozinhos mais velhos da banda se dedicavam em seus álbuns festivos e hedonistas. Teto Preto é a cara da Mamba, que é a cara de São Paulo. Suja, industrial, guerrilheira. E FALA, o segundo álbum de estúdio do grupo formado por Laura Diaz, Entropia e Marian Sarine, já começo avisando, é muito bom. Mais do que isso: A TUA ONDA, faixa de abertura, tem um dos melhores breaks da história recente da música eletrônica. Uma virada de mesa em uma faixa de acid hard techno para uma espécie de nova MPB apocalíptica. Sensacional.

FALA propõe uma chacoalhada sonora sensacional, levando todos os conceitos da música brasileira para corredores úmidos e escuros, destes que a gente mais maluca se espreme todos os finais de semana em uma cidade gigante e caótica. Conforme o desenrolar do disco, vai aglutinando tudo o que interessa em um ambiente de música industrial. Sons rasgados, crus, com pitadas de breakbeat, hardcore e trip-hop, tudo com muitas e boas referências do underground londrino e berlinense dos anos 90, amarrados pela voz sulfúrica de Laura (a Angela Carneosso). É ela quem traz a brasilidade referida e imprescindível a um projeto nascido e criado em São Paulo.

Lançado no último 31 de outubro em formato digital, o disco tem tudo para tirar a Teto Preto do ninho de cobras em que se entrelaça. Os sons estão prontos para os palcos de bons festivais, que ganharão bastante com a carga de mensagens sonoras e visuais que as músicas da Teto Preto trazem consigo. A obra se apimenta das participações de Jup do Bairro, Getúlio Abelha, Thiago França e Saskia.

O melhor álbum brasileiro de música eletrônica até agora em 2024. Vai ouvir!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.