Em atitude rara, Kraftwerk toca cover de Ryuichi Sakamoto
No Fuji Rock Festival, em Tóquio, Ralf Hüther surpreendeu ao anunciar que o grupo tocaria uma versão de Merry Christmas Mr. Lawrence
O mestre da música eletrônica japonesa Ryuichi Sakamoto mal chegou no paraíso celestial e já pode tirar onda de seus colegas de Éden. Afinal, não é qualquer um que recebe uma homenagem como a que ganhou no último sábado (27). Um raríssimo cover executado pelo histórico quarteto alemão Kraftwerk.
Durante apresentação no Fuji Rock Festival, em Tóquio, Ralf Hüther surpreendeu a todos ao anunciar, no meio do show, que o grupo tocaria uma versão de Merry Christmas Mr. Lawrence, de 1983, de Sakamoto. No telão, uma belíssima foto dos dois no ano em que se conheceram (1981) em um momento descontraído.
Hüther disse ao microfone, na clássica entonação Kraftwerkiana: “a próxima composição é do meu amigo, Ryuichi Sakamoto. Desde nosso primeiro show com o Kraftwerk, em 1983, até a apresentação para o No Nuke Festival, em 2012, Sakamoto escreveu letras em japonês para eu incluir em Radioactivity“. A homenagem é encantadora.
Sakamoto deixou um álbum póstumo, gravado quando já estava ciente de que o câncer não o deixaria curtir por muito tempo sua vida na Terra. Executou uma sequência de 20 composições ao vivo, em seu estúdio, de uma só vez. O registro será lançado em agosto.
Desde que apareceu para o mundo com seu grupo Yellow Magic Orchestra, a turma de Ryuichi desenvolveu profunda relação com a banda alemã. O YMO era frequentemente rotulado pela mídia como o “Kraftwerk japonês”. Quando partiu em carreira solo, no entanto, este tipo de classificação acabou caindo por terra. Sakamoto se aprofundou no experimentalismo, na música ambiente e no mundo das trilhas sonoras e, embora exímio pianista, não deixou de lado as peripécias eletrônicas. A própria Merry Christmas Mr. Lawrence é a música tema de um filme homônimo, em que atua ao lado de David Bowie.
De pioneiro, Sakamoto assumiu o posto de gigante, produzindo música nova até o fim da vida (ao contrário do Kraftwerk, que segue aproveitando o seu legado, sem novidades por décadas). Hüther começou ídolo, virou amigo e acabou como admirador da obra do colega japonês.