7 fatores que podem explicar por que a sua banda é uma merda

Guilherme Silva
Por Guilherme Silva

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São raros os exemplos de bandas que conseguem viver com sua música. Entretanto, faz sentido, não dá para todo mundo ter o melhor trabalho do mundo. Quem consegue é porque ralou (muito!) e em algum momento da trajetória teve sorte; estava no lugar certo, na hora certa.

Mas, afinal de contas, por que a sua banda não dá certo? Que injustiça desse mundo, não? Você é um gênio, toca muito, suas composições são melhores do que as do Pink Floyd e as letras melhores do que as do Alex Turner. Mas como ninguém ouviu falar da sua banda ainda?

Vamos lá.

1) Você não trata a sua banda como uma empresa.

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Se você quiser viver de música, precisa entender do “music business”. Se não entende ou se não quer entender porque você é muito artistão, trabalhe com alguém que entenda. Pode ser alguém da sua banda, pode ser um amigo com mais tempo na profissão, pode ser um manager, pode ser até a sua avó, contanto que entenda do negócio. Sempre brinco que na minha banda tem vários departamentos, incluindo o comercial, o financeiro e até o de psicologia. Você só vai ganhar dinheiro com a música quando tratar a sua banda como uma empresa, não tem segredo. Vale à pena mencionar que, como qualquer outra empresa de qualquer segmento, na música você também precisa daqueles três, quatro, cinco anos de investimento inicial para fazer o “negócio” girar. Se você não quiser entender isso e achar que com um ano de banda já vai estar fazendo turnê autossustentável pelo Brasil, nem se dê o trabalho de começar.

2) É essencial saber dividir funções.

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Eu sempre fui bom no networking e nessa parte “comercial”, de marcação de shows, agendamento de entrevistas etc. Porém, sou péssimo com finanças e passo longe delas na banda. Se tivesse que cuidar de tudo, incluindo as finanças, estaria ferrado, e a banda demoraria o dobro para cobrir a mesma distância que cobrimos andando como um time. Valorizem as diferenças e qualidades de cada um. Não é bom para um time ter peças iguais. Um time tem que ter suas diferenças complementares.

3) Vivemos na era da internet;

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a era da informação rápida; a era de textos curtos; a era na qual você tem uma música favorita por semana. As bandas precisam entender que, para se manterem relevantes hoje em dia, têm que produzir material constantemente. O seu nome tem que aparecer direto nas redes sociais e blogs para que as pessoas assimilem isso e falem: “pô, tenho ouvido falar muito dessa banda, vou ouvir” ou “vejo o nome deles em tudo quanto é lugar”. O curador do festival ou o dono da casa de show vai lembrar de ter visto o nome da sua banda e vai te chamar para tocar.

4) Entenda o trabalho da assessoria de imprensa…

 

… do produtor, do booker, dos selos, da distribuição física e digital, do técnico de som, das agências. Eles são grandes players do mundo musical e cada um deles pode ajudar de um jeito diferente na sua jornada. Use-os!

5) O seu produto é a sua música, certo?!

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Quem vai fazer você tocar por aí e conseguir se sustentar é a sua música. Então por que raios não investir esse pouco de tempo e grana que você tem na música? Grave direito, com carinho. Preste atenção nos timbres, não seja preguiçoso. Trabalhe nas letras, melodias e harmonias. Não se fixe na primeira ideia; outras melhores podem surgir, mas você viciou nessa primeira e não consegue evoluir. Saia da sua zona de conforto; afinal de contas, música é arte. Os melhores artistas que já existiram nesse planeta que chamamos de Terra foram os que saíram totalmente da sua zona de conforto.

6) Você não vai aos shows das outras outras bandas…

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… não conhece pessoas da música, não vai atrás de quem é quem, e por aí vai. No meu primeiro texto publicado aqui no Music Non Stop, mencionei como é importante que as bandas sejam amigas e conversem. Então não tem segredo, é isso! Bote a cara na rua! Uma amiga uma vez me disse: “Gui, quando você sai pra balada ou pro bar, você já está trabalhando. Quando você conhece alguém, você está trabalhando. Quando você dá as caras no show das outras bandas, você tá trabalhando”. Sábia! Ao trabalhar com arte, saiba que você é um produto. Ponha esse produto para circular e faça com que as pessoas o conheçam.

7) Por fim, aprenda a falar “NÃO”.

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Esse ponto é fundamental. No mundo da música o que mais tem são vagabundos exploradores e eles estão loucos pra te achar! Aprenda a julgar o caráter das pessoas. É muito difícil fazer isso quando se tem 20 anos e chega um cara mais velho prometendo que vai fazer o teu som chegar no Pitchfork; que vai te apresentar pro dono da 4AD e que você vai ser o próximo Cocteau Twins ou que vai te colocar em todos os festivais do Brasil. Eu sei que é difícil porque já vivenciei isso na pele algumas vezes e, sinceramente, só aprendi a falar “NÃO” depois de ter me ferrado um bilhão de vezes. O artista sempre vai querer tocar. Sempre! Essa é a magia desse trabalho, nós amamos o que fazemos. Porém, o seu “não” agora pode valer um “sim” bem melhor no futuro. Saiba se valorizar. Ninguém vai fazer isso por você.

Para concluir, acho importante dizer que não existe uma fórmula mágica que faça a sua banda dar certo. Escrevo sob o meu ponto de vista e de acordo com as experiências que vivi. Cada um tem o poder de traçar a sua história. Só não vale ficar no seu quarto reclamando que você é muito bom e que o mundo não te compreende ainda.

GUILHERME SILVA É BAIXISTA DA BANDA INKY, DONO DO SELO UIVO RECORDS E ESCREVE SOBRE MÚSICA INDEPENDENTE PARA O MUSIC NON STOP

Guilherme Silva

Guilherme Silva trabalha com música há 18 anos. Membro fundador e booker das bandas INKY e Pessoas Estranhas, é uma voz atuante da última década na cena independente brasileira. Através dos anos, levou a INKY para tocar em festivais como o Primavera Sound (Espanha), CMJ (EUA), Primavera Fauna (Chile), Veltrac (Peru), Bananada (BR), Festival doSol (BR), Popload Festival (BR), MECA Festival (BR), entre outros. Com a banda, também ganhou prêmio de melhor videoclipe nacional e foi um dos dois artistas patrocinados pela Red Bull Brasil, o outro sendo Emicida. Guilherme viveu bons anos como artista e hoje trabalha em uma plataforma de streaming, podendo, assim, ter uma visão única sobre o mercado musical brasileiro.