50 anos de hip-hop: saiba como surgiu o movimento
Dia Mundial do Hip-Hop é comemorado em 12 de novembro, data da fundação do coletivo Universal Zulu Nation, de Afrika Bambaataa
O aniversário do hip-hop, 12 de novembro de 1974, foi a referência para a data comemorativa que celebramos hoje. 50 anos do gênero que provocou revoluções sociais, muito além da música. A data foi escolhida por Afrika Bambaataa, um dos mestres do movimento, por ser o dia de nascimento do coletivo Universal Zulu Nation. Ali, segundo o próprio Bambaataa, os quatro elementos do hip-hop (rap, break, grafite e MC) foram reunidos pela primeira vez, em um evento cultural feito por dissidentes de uma gangue nova-iorquina, os Black Spades.
A iniciativa nasceu de um sentimento que estava em embulição em 1974: o de que os pretos deveriam se unir para lutar contra o sistema, e não contra si mesmos. O nascimento da revolução que o hip-hop representa na mentalidade da juventude periférica.
Nova Iorque, no começo dos anos 70, era tomada por gangues. Uma forma dos jovens se apoiarem, pertencerem a um grupo em que significavam algo. A cidade virou palco de tretas. Microtribos se estapeavam (e muitas vezes se esfaqueavam) em busca por território. Através do pensamento de alguns visionários, como Bambaataa, a Black Spades começou a se desintegrar. Primeiro, através da formação de espécies de subgangues, que faziam parte da estrutura principal, mas reuniam jovens com ideias diferentes. Grupos como Savage Nomads, Seven Immortals e Savage Skulls, com poucos integrantes, davam a dica de que o pensamento original começava a desandar.
Foram esses caras, além de algumas outras gangues da cidade, que começaram a organizar eventos culturais em suas áreas, geralmente becos ou salões de festas dos complexos habitacionais, os CECAPs e Singapuras que temos aqui. Tudo influênciado por um tipo de rolê que havia surgido há apenas um ano antes, e que estava tomando conta de todos os cantos da cidade, as bloc parties. A velocidade com que tudo aconteceu ajuda a compreender o tamanho que (novamente) a revolução do hip-hop fez a cabeça de uma juventude inteira, antes dividida, inimiga.
Em agosto de 1973, uma garota chamada Cindy Campbell queria levantar uma graninha para comprar umas roupas bacanas para a volta às aulas. A garota vivia no bairro do Bronx. Mais precisamente, na avenida Sedgwick, colada nas linhas de trem suspensas, em um complexo viário cheio de viadutos poeirentos e o rio Harlem. Descolou um salão de festas e precisava da música. A solução veio de casa, seu irmão de 16 anos Clive, que na área era chamado de Hercules, por ser meio fortinho.
O irmão mais novo, excitado com a novidade da primeira apresentação, adotou o nome de Kool Herc, e a festa se chamou oficialmente “A DJ Kool Herc Party”. O flyer foi desenhado à mão, com caneta esferográfica, em um pedaço de folha de caderno. Ladies pagavam 25 centavos, e os Fellas, 50. Rolaria das nove da noite às quatro da manhã.
O jovem Herc apresentou uma sacada que estava treinando em casa, com dois toca-discos. Ele botava para tocar dois discos iguais, um em cada deck, e repetia as partes instrumentais das músicas, principalmente os breaks de bateria, estendendo-os. Não bastasse a novidade, um amigo do moleque, Coke La Rock, teve a ideia de pegar o microfone durante a festa e gritar o nome dos amigos durante os breaks que Herc mixava. Estava oficialmente inventado o rap.
O rolê bombou com 300 pessoas, e no dia seguinte Kool Herc era uma celebridade. Suas festas foram ficando cada vez mais concorridas e a galera que ia não resistia ao movimento. Os mais desinibidos começaram a inventar seus passos de dança (o break). Os amigos passaram a escrever letras para cantar (o rap) em cima das mixagens que Herc (o DJ) fazia ao vivo, inspirando garotos como Bambaataa e sua turma a criar as próprias bases rítmicas. E a turma do grafite, que já havia pixado Nova Iorque inteira, claro, se integrou ao movimento que, em novembro do ano seguinte, partia para sua mais importante aventura: trazer paz e expressão aos jovens da cidade, função que repete no mundo todo após cinco décadas.
O senhor virou um belo de um cinquentão, Mr. hip-hop. Feliz aniversário e longa vida!