São Paulo Foto: Calil Neto/Reprodução

10 gravadoras brasileiras independentes que você precisa conhecer

Jota Wagner
Por Jota Wagner

No Dia da Independência do Brasil, bora celebrar os grandes selos indies do país!

Independência! Palavra bonita, que passeia pela história da música altiva, orgulhosa. De mãos dadas com outra, de beleza igual: liberdade.  Ser independente é escolher sem as amarras impostas por outros, de maior poder. E na arte, estas escolhas são primordiais para criar o novo.

No mundo das grandes gravadoras, dança-se ao som do capitalismo. São empresas, afinal. Ao escolher por um artista, há sempre a segurança de algo que já deu certo, uma fórmula que vende. Mas… e o novo? E aquela música que ainda não foi feita, desconhecida e experimental?

Para esses artistas, existem as gravadoras independentes, geralmente fundadas por malucos com pouco ou nenhum apreço pelo próprio dinheiro, movidos apenas pelo amor à música. Em salinhas de escritório espalhadas por cidades de todo o Brasil (entulhadas de discos, CDs e documentos), o mundo artístico respira e inspira novos gênios com a coragem necessária para criar o que ainda ninguém ouviu.

No Dia da Independência do Brasil, celebraremos dez gravadoras indies que você precisa conhecer.

Baratos Afins

Considerada a pioneira do mercado de gravadoras independentes no Brasil, a Baratos Afins é um braço da icônica loja fundada pelo visionário Luiz Carlos Calanca no Anhangabaú. A ideia de fundar um selo surgiu quando Calanca soube que Arnaldo Baptista, fundador dos Mutantes, não encontrava ninguém para lançar seu segundo disco solo, Singin’ Alone, em 1981.

A partir daí, a Baratos virou a casa de bandas de rock de vanguarda no país, com lançamentos de clássicos de Fellini, Akira S & As Garotas Que Erraram, Voluntários da Pátria, Gueto e muita, mas muita gente do pós-punk, do punk e do metal nacionais. Assim como a loja, a gravadora segue viva até hoje.

Lira Paulistana

Fundada em torno do icônico teatro que reuniu a nata da chamada “vanguarda paulista”, a Lira Paulistana deu as caras no mundo em 1979 e contava com a facilidade de encontrar artistas. Afinal, todo mundo frequentava o boteco do teatro. Em seus áureos tempos, a Lira foi responsável pelo lançamento de artistas como Itamar Assumpção, Premeditando o Breque, Língua de Trapo, Tom  e até mesmo os pioneiros do punk Cólera e Ratos de Porão. A gravadora fechou as portas em 1986, mas seus discos ainda podem ser encontrados com um bom garimpo nos melhores sebos.

Tinitus

Criada pelo genial Peninha Schmidt, que mais tarde chegou a ser presidente da Associação Brasileira de Música Independentes (ABMI), a Tinitus tinha a missão de encontrar novos talentos da música nacional e, no tempo em que esteve em atividade (entre 1990 e 1998), trouxe ao mundo discos de artistas como Virna Lisi, Concreteness, Mauricio Pereira (ex-Mulheres Negras e pai de Tim Bernardes), Karnak, Nomad e Nasi (Ira!). Curiosamente, a gravadora quase lançou o primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi, mas foram “roubados” pela Chaos (Sony Music) enquanto faziam as contas para vialibilizar o lançamento.

Eldorado

Uma das maiores gravadoras independentes brasileiras, a Eldorado abriu as portas em 1972 e foi a catapulta de muito artista bom. Eclético, o selo ligado à rádio contava com estúdio próprio e atingia um alto nível de qualidade em seus lançamentos, vindo de gênios como Raíces de América, Daniela Mercury, Zizi Possi e até mesmo Raul Seixas, na fase em que deixou de ser interessante para as grandes. A exemplo das outras indies, a Eldorado não virava a cara para a música mais pesada. Lançou Ratos de Porão, Viper, Angra e P.U.S. Encerrou suas atividades em 2004.

Trama

A Trama sacudiu o mercado musical em 1998, seu ano de fundação. Criada por João Marcelo Boscoli com uma bela grana no caixa, teve o azar de aparecer justamente no momento da virada gigantesca no mundo da música, que acabou com a venda de CDs e deu vida ao comércio digital. Deu tempo, porém de lançar discos de artistas como Otto, Fernanda Porto, Max de Castro, Cansei de Ser Sexy, Câmbio Negro, Rappin’ Hood, entre muitos outros. Foi também a primeira independente a abrir as portas para a música eletrônica, lançando nomes como Anderson Soares e Bruno B.

A empresa tentou se reinventar como Trama Virtual, um site que hospedava o catálogo de artistas e vendia arquivos MP3, mas acabou fechando suas portas em 2013.

Biscoito Fino

“Biscoito fino para as massas!”, já dizia Oswald de Andrade. A gravadora, fundada em 1993 no Rio de Janeiro por Kati de Almeida Braga e Olivia Hime lança clássicos e novidades da MPB em produtos de alto valor agregado, caprichados mesmo. São um exemplo de viabilidade no mundo da música independente. Em seu catálogo desfilam nomes como Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa, Angela Ro Ro e Rita Lee. O segredo para convencer gente grande a lançar pela Biscoito Fino é dar-lhes um empacotamento requintado e som de prima. Deu certo. A gravadora segue ativa até hoje, lançando vinil e CDs. E seu catálogo é gigantesco.

Monstro Discos

A gravadora de Goiânia é um patrimônio nacional da música. Mãe do festival Goiânia Noise, a Monstro funciona no andar de cima de uma simpática loja de discos no centro da cidade. De lá, lançam até hoje nomes que despontam no cenário musical brasileiro, como YPU, Wry, Cascadura, Walverdes e muita, muita gente. A Monstro também criou a “série ouro”, um catálogo de reprensagens de grandes discos brasileiros, que vão de Júpiter Maçã a Odair José. Em 2024 o projeto celebra nada menos do que 26 anos de vida!

Senhor F

Nascida da mente do jornalista Fernando Rosa, a Senhor F era uma revista digital de música. O projeto virou gravadora e festival, voltado para o rock independente. Por seu catálogo passaram grupos como Superguidis, Beto Só, Watson, Graforréia Xilarmônica e até mesmo os argentinos do El Mató a Un Policía Motorizado, hoje gigantes na Argentina. O último lançamento da gravadora foi em 2014.

Midsummer Madness

O selo carioca Midsummer Madness, formado por Rodrigo Lariu, é incansável. Surgiu no movimento das fitas cassete dos anos 90, quando ainda era uma “bedroom label”, e distribuiu fitinhas de vários artistas bacanas em buracos de todo o Brasil. Evoluiu para gravadora de verdade e segue até hoje, com muuuitos lançamentos de gente como Fellini, Fanfarra Paradiso, Killing Chainsaw, Low Dream e Mickey Junkeys.

Psicotropicodelia

Criado por Harlem Pinheiro e Evandro Iwaszko, o Psicotropicodelia é um selo brasileiro que distribui música digitalmente, com um enorme catálogo e muita diversidade. Fundado em 2007 e ativo até os dias atuais, o selo aposta em coletâneas e lança álbuns que vão do trip-hop e breakbeat à música concreta e experimental. Doideira.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.