Wu-Tang Clan Wu-Tang Clan. Foto: Reprodução

Depois de 6 anos, Wu-Tang Clan volta e tenta ressignificar sua relação com as mulheres

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Claudine, novo single do grupo norte-americano, é uma homenagem “a todas as mães, esposas e mulheres jovens”

Após seis anos sem apresentar nenhuma novidade aos fãs, o grupo de rap Wu-Tang Clan lançou na última sexta-feira (20) o single Claudine, acompanhado de um belo videoclipe. A música é linda. Nostálgica, com letras de Method Man e Ghostface Killah versando sobre o amor e a perda.

Produzida pelo parceiro de longa data do grupo, o DJ Mathematics, a obra é uma “homenagem à minha mãe e uma ode a todas as mães, esposas e mulheres jovens, refletindo sua luta, força, coragem e amor”, segundo nota do artista.

O vídeo é baseado no filme homônimo, de 1974, que trata sobre os mesmos temas.

Prestes a completar 30 anos, o Wu-Tang Clan olha para trás e parece enxergar suas escolhas de forma diferente.

Há um momento em nossas vidas em que finalmente temos amplitude existencial para compreender a batalha que nossos pais travaram, e os sapos que engoliram ao ter de “enfrentar” nosso eu egoísta e julgador, quando jovens.

Uma cortina se abre, em dado momento. Deixamos de vê-los como super-heróis. Tudo muda, em sua forma de ver o mundo, os outros e as relações. Para alguns, essa consciência chega tarde demais. E não dá tempo de voltar para casa e se apresentar, cheio de orgulho, como um ser humano completo, que compreende e perdoa.

“I got one for the lovers, two for the ones we loss”

A situação se complica na quebrada. Mães são obrigadas a longas jornadas de trabalho, dinheiro escasso, escolas sem qualidade e, em tantos, casos, delegam o cuidado diário dos filhos a amigos e parentes enquanto estão na luta. Esforço que só é reconhecido tardiamente por aqueles que são, afinal, o motivo de tanto sacrifício.

Contando com a linda voz da holandesa Nicole Bus, Claudine conflui letra sensível, arranjo e videoclipe para um reparo histórico. Apesar de estar recheada de histórias pessoais, vale para todos.

A rima se estende à figura da mãe buscada nos relacionamentos. E isso impressiona. O divã é tirado do consultório arrumadinho e levado para as ruas e os becos.

I only love her when she mad at me
She mass crappy
That make up sex be mad nasty
Our heads be bumping like bad (acting)
Sad actually

“Atuando”, entre parênteses, e “triste, na verdade”, concluindo o verso, são poderosos. Trazem uma tentativa de ressignificação das relações nas vidas de quem, como muita gente na música, são conhecidos por tratar o feminino de forma incorreta e distorcida.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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