Wilco Wilco na coletiva de imprensa. Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

Wilco fala sobre paixão pela música brasileira

Adriana Arakake
Por Adriana Arakake

Prestes a se apresentar no C6 Fest, banda americana participou de coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 24 de maio

“Acho que a música tem esse poder de atravessar linhas culturais, fronteiras, idiomas. E isso é uma das maiores alegrias que um artista pode ter.”

Jeff Tweedy, vocalista do Wilco, olha para os jornalistas com a serenidade de quem não tem respostas fáceis, mas carrega décadas de estrada, discos, desvios e permanências. A banda se apresenta amanhã (25) no C6 Fest, em São Paulo, e participou ontem de uma coletiva de imprensa. Entre reflexões sobre algoritmos, resistências e clássicos brasileiros perdidos dos anos 70, perguntei como eles se sentem ao saber que a música da banda é conhecida e amada tão longe de casa — e o que os inspira pessoalmente e faz se sentirem bem hoje.

“O que mais me inspira é isso mesmo: estar aqui, saber que algo que a gente fez chegou a vocês e significou alguma coisa. Eu sou profundamente apaixonado pela música brasileira. Algumas das minhas canções favoritas são daqui. Mesmo sem entender as letras, elas me enchem de emoção. Saber que isso pode acontecer também do outro lado é mágico”, continua Tweedy.

Os músicos se empolgam ao lembrar de artistas como Milton Nascimento, Joyce e Nelson Angelo, Quarteto em Cy, Tropicália, MPB e sons psicodélicos setentistas que continuam influenciando o grupo.

Wilco

Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

“Tem algo na música brasileira que faz a gente se sentir mais vivo. A harmonia, a cor, a naturalidade… Mesmo sem saber o que está sendo dito, a gente sente. Isso nos inspira como músicos e como pessoas.”

O Wilco nasceu em Chicago nos anos 90, das cinzas da banda Uncle Tupelo, e desde então vem atravessando o tempo com a elegância de quem prefere a experimentação à previsibilidade. Misturam rock alternativo, folk, ruído e silêncio, em discos como Yankee Hotel Foxtrot, A Ghost is Born, Sky Blue Sky e o recente Cousin (2023), produzido por Cate Le Bon.

Na conversa com a imprensa, falaram sobre se manterem independentes, produzirem seus próprios discos, criarem sua própria escola, festival e comunidade: “Ninguém escapa do algoritmo, mas acho que a gente conseguiu se proteger um pouco, criar nosso próprio ritmo com o mercado”, seguiu o frontman.

E sobre a Inteligência Artificial na música? “Eu desafio a IA a errar como seis seres humanos erram no palco. Ela está a mil anos de conseguir isso.”

Errar, experimentar, sentir. Talvez por isso Wilco ainda soe tão vivo, mesmo sendo clássico; mesmo atravessando tantas fases, modas e mudanças. Talvez porque, como disse Jeff, rock’n’roll ainda é um modelo de expressão individual valioso. E essa faísca, quando é verdadeira, atravessa oceanos.

Adriana Arakake

Adriana Ararake é DJ e a especialista em jazz, soul e blues do Music Non Stop.