Wendy Carlos, primeira artista trans da história, rompe silência e contesta biografia recém-lançada
Após onze anos em silêncio, a pioneira da música eletrônica Wendy Carlos, responsáveis por trilhas sonoras de filmes icônicos como Laranja Mecânica, Tron e O Iluminado, veio a público para fazer duras críticas à sua biografia recem lançada Wendy Carlos – A Byography de Amanda Swell, o primeiro livro sobre a vida da compositora.
A mestra suprema dos sintetizadores (em especial dos Moog) contou que nem ela e nem ninguém com quem trabalhou foi entrevistada sobre isso. Já Amanda Swell repondeu que tentou repetidas vezes conversar com Wendy e foi inclusive encorajada por pessoas com quem trabalhou a não escrever o livro.
A polêmica e o livro trazem de volta ao holofote um dos mais geniais artistas da história da música. Wendy coleciona feitos considerados ainda hoje abissais, como por exemplo manter um disco de música clássica por 17 semanas nas listas da Billboard.
Lançado pela CBS, o disco Switched on Bach (algo como “ligado em Bach”), de Walter/Wendy Carlos [jajá explico o porquê dos dois nomes], fez aniversário de 50 anos (eu disse CINQUENTA ANOS) em 2018. Se você ouvi-lo hoje, não vai acreditar o quanto ele soa moderno e diferentão. Clicando aqui, você ouve o disco inteiro. As únicas obras disponíveis nas plataformas de streaming da Wendy são as trilhas sonoras de Tron e O Ilumiado.
O álbum gerou grande polêmica, porque pela primeira vez um intérprete ousava tocar Bach usando um instrumento eletrônico, o teclado Moog. Mas ali tinha muito mais do que essa inovação.
Apesar de muitos terem torcido o nariz, o disco foi um sucesso comercial e rendeu prêmios. Vendeu mais de 1 milhão de cópias (tornando-se o disco de música clássica mais vendido da história), ficou no top 40 da Billboard durante 17 semanas e ainda rendeu em 1970 três prêmios Grammy (melhor performance de música clássica, melhor instrumentista solo e melhor gravação clássica).
Em 1972, Walter Carlos trabalhou com Stanley Kubrick, na trilha sonora do filme Laranja Mecânica (são dele seis das 15 músicas da trilha). Mais tarde, em 1980, voltaria a trabalhar com Kubrick, na trilha de O Iluminado… só que usando outro nome.
O lance é que Walter Carlos, americano nascido em 14 de novembro de 1939 em Rhode Island e pianista desde os 6 anos de idade, havia feito, em 1967, uma operação de troca de sexo. Walter virou Wendy, mas sem fazer alarde.
Portanto, em 1968, quando lançou Switched On Bach, Walter já era Wendy. E tornou-se a primeira trans da música eletrônica.
Mas foi só em 1979, doze anos após a cirurgia, que Walter assinaria um álbum (Switched-On Brandenburgs) como Wendy. Daí, sim, a polêmica foi geral. Pra coroar o bafo, Wendy/Walter deu uma longa entrevista à revista Playboy americana naquele ano. Apesar de tratar de música e synths durante quase a entrevista inteira, a publicação foi considerada um escândalo na época.
Vivendo em Nova York desde 1962, Wendy continua na ativa, principalmente fazendo trilhas sonoras. Um de seus hobbies, fotografar eclipses, acabou virando profissão. Wendy mantém até um site onde é possível ver várias de suas fotos.
Agora de volta ao “Switched on Bach”. É claro que é mais fácil baixar. Mas eu encontrei uma cópia perdida num sebo no final da Rua Augusta, no meio de um monte de porcaria. Estava na pilha de vinis por uma merreca! Não fui a única. Um amigo achou um jogado num sebo da Pedroso de Moraes, também.
Seja em vinil ou nos MP3 da vida, Wendy Carlos é o nome que você precisa adicionar à sua coleção.