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Way Out West, na Suécia, é o festival que você precisa conhecer em 2017. Saiba as razões pra começar a parcelar a passagem

Texto por João Perassolo
Fotos Way Out West

Há uma beleza insuspeita em um festival de verão na costa oeste da Suécia, onde o mais influente país nórdico encontra o Mar do Norte. Em seu décimo ano, o Way Out West levou, entre os dias 11 e 13 de agosto, milhares de pessoas ao lindíssimo parque Slotteskogen, em Gotemburgo, município a 470 km de Estocolmo, para curtirem música, filmes e palestras.

A organização não divulga o número exato de frequentadores porque diz que não está preocupada com a quantidade, embora reconheça que esta foi a maior edição da história, em termos de público e de cobertura da imprensa. E por que Gotemburgo, e não na capital? “Há uma resposta fácil para esta pergunta, que é a localização central do Slottsskogen. Um parque bonito no meio da cidade”, diz Joakim Skoglund, chefe de marketing do evento.

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Foram três dias de programação totalmente integrada à natureza, em um cenário natural de lagos e vegetação verde, com árvores servindo de moldura para os palcos – dois principais, um menor para música eletrônica, uma tenda para bandas indie, uma tenda para filmes e um palco extra para as palestras. Assim como tantos outros festivais do calendário de verão europeu, as maiores atrações eram as bandas que estão no hype do momento; no entanto, o que torna o WOW único é seu caráter deliberadamente engajado, presente de várias formas na programação principal.

Sim, este é o parque onde se realiza o Way Out West. Quem vamos em 2017?

Conhecido por ser um evento vegetariano, as tendas de comida não vendiam alimentos com carne (nem de peixe), em determinados momentos a fila para comprar café era maior do que a da cerveja, um dos patrocinadores era uma bebida de leite de aveia com frutas e garrafas pet vazias eram distribuídas gratuitamente para serem enchidas com a água pura das torneiras. Havia também um local onde era possível carregar o iPhone com a força gerada por uma engenhoca movida a energia solar.

Tem mais. Neste ano, a novidade foi a série Talks, programação de palestras sobre temas contemporâneos: o Brexit, a indústria da alimentação, a crise migratória na Europa e a ascensão de Donald Trump estiveram em pauta. Entre um show e outro, o público acompanhou, sentado da grama, personalidades como a ministra sueca do meio-ambiente, Karolina Skog, e o ex-vocalista da Rollins Band, Henry Rollins.

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“Sempre fomos uma organização com valores muito sólidos. Com o Way Out West temos uma plataforma única para nos comunicar com as pessoas e isto [a mistura de entretenimento com política] é algo que queremos aproveitar. Com as nossas ações temos a possibilidade de ampliar o debate”, completa Skoglund.

TEORIA E PRÁTICA

É compreensível o veto à carne vermelha, assim como o fato de que o mercado sueco esteja evoluído a ponto de as comidas veganas e vegetarianas serem muito saborosas, mas me parece despropositada a comercialização de refrigerantes, doces industrializados e salgadinhos neste contexto. Por exemplo, bem ao lado de um dos palcos, havia um canhão que disparava sacos de Doritos para o público nos intervalos dos shows, uma cena entre o engraçado e o lamentável.

Vale destacar que o consumo de álcool é regulado: como a entrada de menores é permitida, só se pode beber em áreas delimitadas, o que às vezes é chato, porque abre-se mão do prazer de assistir a um show de rock com uma cerveja na mão. Por outro lado, como ninguém está muito louco, não há empurra-empurra na plateia dos artistas mais concorridos nem bêbados inconvenientes. Ganha-se em conforto, isto é, se pode ir ao festival apenas para socializar, ver o que está rolando, relaxar, curtir um fim de dia.

WAY OUT WEST FASHION WEEK

O visual do público era um show à parte. Nada de colocar roupas confortáveis para andar pra cá e pra lá na imensa área do parque (pense em um Ibirapuera), o que contava era o estilo. No primeiro dia, o preto foi a cor dominante, tipo visual gótico, com calça rasgada no joelho, Doc Martens e chapéu de aba larga. É estranho se pensarmos que é verão, mas faz sentido quando as temperaturas não passam dos 15 graus e o vento sopra gelado.

Peguei a primeira roupa do guarda-roupa, apenas

Nos dois dias seguintes o tempo fechou, com chuva, vento e frio constantes, dando uma oportunidade para que os suecos mostrassem porque são muito estilosos. Capas de chuva em várias cores e galochas coloridas compunham o look. Era como se não estivesse rolando água e alguns locais diziam que festival só era festival com este tempo. “Kill the rain, not the fun”, resumia a frase estampada em muitos ponchos.

Molhados, mas estilosos

HIGHLIGHTS

Elena Tonra, vocalista e guitarrista do trio Daughter

DAUGHTER – o trip hop do Daughter vira um dream pop ao vivo, com guitarras pronunciadas e uma cantora com voz de anjo e atitude blasè. Lembra Cocteau Twins e em alguns momentos é como se eu estivesse assistindo o novo Slowdive.

CHVRCHES – inacreditável a presença de palco da cantora de apenas 28 anos. Segurou lindamente um dos stages principais com seu synth pop contemporâneo.

PJ HARVEY – O show da PJ Harvey é algo precioso, delicado. Como se abríssemos uma caixinha de música e saísse uma mini-orquestra com guitarra de dentro. É lindo, ela encena ao invés de dançar, veste um figurino de alta costura com um adereço na cabeça que parece a asa de uma ave. É gótico, no sentido Idade Média do termo, tipo um culto. Dividido em duas partes, a primeira só com músicas do disco novo e dos dois anteriores; e o segundo tempo é composto por alguns hits. São dez músicos em cena, a bateria é dividida em duas e há momentos em que os bateristas pegam o bumbo e saem andando e batucando pelo palco; tem músicas com três saxofones e há até um grande solo de saxofone. Tive a impressão de que o disco novo (The Hope Six Demolition Project) é para ser visto assim, não ouvido em fones de ouvido.

CHELSEA WOLF – A diva gótica dos hipsters faz um show pesado e arrastado, como se fosse música da antessala do inferno. Remete a Ministry, só que mais lento e com vocal feminino.

M83 – Vibrante e malucão, tipo um Of Montreal turbinado.

MORRISSEY – Fechando o primeiro dia, fez um show muito parecido com o do Citibank Hall, em São Paulo, a um só tempo pop e engajado. Na hora de tocar Ganglord, falou mal de Donald Trump e de Hilary Clinton e disse à plateia para se abster de votar. Dedicou I’m Throwing My Arms Around Paris para Nice e Paris.

JULIA HOLTER – Acho insosso em estúdio, mas ao vivo ganha vida, é orgânico. No entanto, boa parte do público não estava lá para vê-la, mas sim para se abrigar da chuva torrencial no único palco coberto disponível.

Stormzy: grime pra esquentar o verão sueco

STORMZY – Não teve banda de rock que animasse os suecos tanto quanto esta dupla inglesa de DJ e MC de grime. Até eles ficaram surpresos com a energia da plateia.

NAO – Outra grata surpresa do festival, a cantora inglesa de R&B levantou a plateia tocando debaixo de chuva no palco eletrônico. Muito groove.

MURA MASA – Ícone da geração milennial, o produtor inglês mostrou versatilidade, se desdobrando entre um sintetizador, um teclado e uma bateria eletrônica, além de cantar. O público jovem dava uma ideia do que faz sucesso hoje na geração de 20 e poucos anos.

O veterano do punk rock Henry Rollins trocou a quebradeira sonora por um talk show divertido e acertado

HENRY ROLLINS – ex-vocalista das bandas de hardcore Black Flag e Rollins Band, o americano agora cinquentão fez um talk show engraçado e irônico. Munido apenas de um microfone, contou causos do rock, criticou seu país natal e, por fim, deu uma aula de humanismo, falando sobre a necessidade de ternura entre os seres humanos. (Escrevendo assim parece piegas, mas ao vivo foi emocionante).

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