Com curadoria de Chico Dub, Virada Sônica: a escalada do som na arte contemporânea fica aberta até metade de outubro
Nos acostumamos com narrativas visuais, mas você já parou para pensar qual o papel do som na arte contemporânea? O termo “virada sônica”, lá pelos anos 90. já lançava mão do interesse repentino em destacar o som nas diversas formas artísticas. E esse conceito de protagonismo sonoro acaba de ser evidenciado em exposição inédita no Brasil.
Inaugurada na última sexta-feira (5), e apresentada pelo Ministério da Cultura, Zurich Santander, Emdia e Santander Brasil, Virada Sônica: a escalada do som na arte contemporânea ocupa as galerias do 23º e 24º andares do icônico Farol Santander São Paulo até 13 de outubro, com curadoria de Chico Dub.
A mostra coletiva conta com 26 artistas nacionais e internacionais, apresentando conceitos como a fisicalidade do som, fenômenos acústicos, fonofotografias, sonificação plástica, paisagens e gambiarras sonoras, sons inauditos, cosmofonias, escuta profunda e a utopia do silêncio.
“Arte sonora, de forma genérica, é um tipo de prática e de obra multimídia que tem o som como protagonista ou que silenciosamente reflete sobre o áudio e sua cultura. Trabalhar com arte sonora é muito difícil, por isso estamos falando de uma exposição que deve ser celebrada por todos nós, principalmente no Brasil pós-pandêmico que tem ousado muito pouco na produção artística. Quero agradecer ao Farol Santander por entender e apostar nessa proposta de arte que ainda é muito nova no país”, comenta Dub.
“Quando a gente amplia nossa escuta e começa a escutar o mundo ao redor, nos colocamos de forma mais presente no mundo e passamos a nos escutar e escutar o outro… Algo muito importante no mundo em que vivemos hoje”, completa.
Tal reflexão é proposta aos visitantes da mostra, que são convidados a pensar sobre a importância do som na percepção do mundo e, mais do que isso, a celebrar a sua potência e o conceito de escuta como atos de conexão ativa com o ambiente, dentro de um espaço que dialoga sobre o poder do som para transformação social.
Com instalações, objetos, esculturas, ambientes e instrumentos sonoros, quadros, discos conceituais, vídeos, partituras e fotografias, a exposição conta com obras de pioneiros mundiais e de artistas brasileiros de diferentes gerações.
Considerada uma das mais importantes da arte conceitual do século 20, a obra 4’33’’, de John Cage, está entre os destaques da exposição, contando com partitura e vídeo de uma apresentação. Trata-se de uma peça interativa que não fala sobre o silêncio, mas sobre a impossibilidade do silêncio, para mostrar que tudo é música. Por meio dela, com câmera que isola o som, você pode escutar o seu coração.
Há ainda obras de Walter Smetak e Yoko Ono, e trabalhos inéditos no Brasil, como Ephemera, de Christian Marclay (EUA); Au Clair de la Lune, de Rafael Lozano-Hemmer (Canadá); Close Readings + Echo Trap, de Christine Sun Kim (EUA); Earth Pulse, de Darya Efrat (Israel), Joana Burd (Brasil) e João Dias-Oliveira (Portugal); e Cuchicheos, de Nicole L´Huillier (Chile).
Em Waves, de Daniel Palacios (Espanha), temos uma das instalações mais chamativas. São dois motores que oscilam pedaços de corda, criando uma lembrança visual em forma de onda digital, com um zumbido a partir do movimento da corda cortando o ar em diferentes velocidades. Ela reage a quem a assiste, já que a movimentação do público ao redor influencia a velocidade dos movimentos.
Outra obra inusitada é Rush, de Esteban Viveros, Fernando Iazzetta e Julián Jaramillo Arango (Brasil), que utiliza o processo de transformar dados em sons (sonificação), tornando o tráfego da frota de ônibus de São Paulo em arranjos sonoros. Ou seja: até mesmo o trânsito pode se tornar uma peça sonora.
Com classificação livre, os ingressos custam de R$ 20,00 a R$ 40,00, e podem ser adquiridos no site do Farol Santander, com visitação disponível de terça a domingo, das 9h às 20h.