Quem viu um menino com nome gringo, jeito simpaticão de brasileiro e um arsenal de hits encerrando o EDC (Electric Daisy Carnival) em São Paulo, em dezembro passado, deve ter se perguntado: afinal, quenhé esse DJ?!
Se você faz parte do imenso secto de fãs do rapaz, já matou a charada. Se não faz, eu explico. Trata-se do Vintage Culture, o DJ das “tracks boas”, um sul-mato-grossense de 22 anos que está simplesmente estourado no Brasil todo.
Nada mais justo do que o Music Non Stop tentar entender qualé, afinal, o segredo do sucesso de Lukas Ruiz, o nome por trás do aka que cultua o passado.
A carreira do Lukas começou em 2013, quando lançou as primeiras produções. No ano seguinte ele já estava viajando pelo Brasil todo, tocando em festivais e festas gigantes. Em 2015, o Brasil ficou pequeno e Lukas saiu de rolê pelo mundo, tocando apenas nos seguintes países: Egito, França, Rússia, África do Sul, Inglaterra, Sri Lanka, Canadá, Ibiza, Turquia, Austrália…
Veja o vídeo On The Road #7, série que Lukas faz para mostrar a vida na estrada aos fãs
Com hits como What U Want, Secret Love e um remix próprio de Another Brick in the Wall, do Pink Floyd na manga, ele simplesmente virou ídolo. Hoje ele pode até andar pra lá pra cá de jatinho, mas ninguém sabe o duro que ele deu, então a gente foi perguntar.
“Comecei a produzir em 2008, com uns 15 anos, em Mundo Novo, interior do Mato Grosso do Sul. Meu pai me deu um computador Positiva e eu ia na lan house baixar os programas, pois não tinha internet em casa. É meio surreal, me emociono falando nisso, perdi meu pai num acidente em 2015 e ele não pode estar comigo aqui agora, vendo e vivendo tudo isso que aconteceu comigo”, contou o DJ ao Music Non Stop.
A gente quis saber mais, daí mandamos essas perguntas aí embaixo pra ele responder, no meio das merecidas férias em Camboriu (SC).
Music Non Stop – Como nasceu essa parada de Só Track Boa?
Vintage Culture – O Só Track Boa começou junto com alguns amigos de Curitiba, meio que numa idéia de ser um portal orientado pra música, lançando podcasts, faixas (gravadora) e como uma plataforma aberta, um fórum pra quem quisesse participar, discutir, agregar, sempre com foco na música. Daí o nome pegou e virou uma febre, talvez porque represente bem a essência da nossa cena atual, irreverente, com muitos artistas locais fazendo um trabalho legal, relevante, além de ser uma iniciativa plural, democrática, que não se prende a bairrismos, a idéia é agregar e agregar, sempre.
Music Non Stop – Quem são seus ídolos na música?
Vintage Culture – Gosto muito dos anos 80 então clássicos como Depeche Mode, New Order, Duran Duran, Queen, Pet Shop Boys, Cazuza e DJs que vão de Frankie Knuckles a Karmon, especialistas em fazer da house music uma mistura de groove e emoção.
Music Non Stop – Você tem viajado muito pelo Brasil e feito gigs pra muuuita gente. Tá se sentindo pop star?
Vintage Culture – Eu não esperava isso, nunca esperei, não tinha histórico na cena pra isso, sempre fomos alternativos, representantes de um nicho à parte. Eu não sei o que está acontecendo, não tem receita, não tem enredo, é um dia após o outro com muito amor e dedicação pelo que faço e com mais amor ainda pelo carinho que recebo, pelas pessoas, é a música, não tem explicação, é sentimento.
Music Non Stop – É muito legal você fazer esses vídeos pros fãs acompanharem seus momentos longe dos palcos. Tem algum artista que você gostaria de fuçar a vida, saber como vive quando não está trabalhando?
Vintage Culture – Eu gostaria de ter conhecido a vida desses artistas que citei, da era pré-internet, pré-globalização, hoje em dia tudo é muito dinâmico, tudo é muito reciclado, passageiro e ao mesmo tempo democrático, o que é muito importante mas queria ter acompanhado a vida desses artistas…
Music Non Stop – Você vem de uma cidade pequena (Mundo Novo, Mato Grosso do Sul), que não tem tradição na música eletrônica. Como começou sua relação com a dance music e os DJs?
Vintage Culture – Começou com um CD de hard trance de um tio que tava jogado em algum canto e me despertou pro 4 x 4. Até então curtia muito a eletrônica das bandas dos anos 80, mas não conhecia essa lado mais pista de dança.
Music Non Stop – Uns 10 anos atrás, um DJ brasileiro com tão pouco tempo de carreira ter uma agenda lotada como a sua seria muito improvável. Naquela época a garotada curtia sertanejo, pagode, micareta… o que você acha que rolou com essa geração que está curtindo seu som hoje?
Vintage Culture – Como público, eu sempre curti DJs e produtores brasileiros, era o que chegava até mim e eu sempre valorizei muito os artistas nacionais por isso. O que eu acho que está acontecendo agora é que finalmente temos uma onda grande e relevante de produtores brasileiros, artistas locais que estão fazendo as próprias músicas e ganhando projeção em função disso, ou seja, é algo muito sólido, a música é própria e isso gera uma conexão muito mais profunda com as pessoas, ainda mais entre nós brasileiros que já somos mais emocionais e engajados com nossos ídolos do que outras culturas.
Music Non Stop – Você começou a produzir com que idade? Com que equipo? Quem te ensinou?
Vintage Culture – Comecei a produzir em 2008, com uns 15 anos, em Mundo Novo, interior do Paraná. Meu pai me deu um computador Positiva e eu ia na lan house baixar os programas, pois não tinha internet em casa. É meio surreal, me emociono falando nisso, perdi meu pai num acidente em 2015 e ele não pode estar comigo aqui agora, vendo e vivendo tudo isso que aconteceu comigo. Fui autodidata e hoje só posso dizer que não existe limitação, talvez exista predestinação, mas o mais concreto mesmo é a determinação, acho que foi isso.
Music Non Stop – O que passa na sua cabeça quando vc está tocando diante de uma galera de milhares de pessoas?
Vintage Culture – Coisas simples: felicidade, alegria, como fazer daquele momento o mais especial possível pra todo mundo, êxtase!
Music Non Stop – Se você pudesse dar apenas um conselho pra um DJ que estiver começando a carreira hoje, qual seria?
Vintage Culture – Seja determinado, seja sensível, seja bom no que estiver fazendo e com os outros, seja especial e sempre busque conhecimento. Saiba ser diferente, saiba agregar, faça o que ninguém esteja fazendo ou faça melhor aquilo que os outros já fazem. E seja solidário, ninguém faz nada sozinho!
Music Non Stop – Você acha que qualquer pessoa pode se tornar DJ?
Vintage Culture – Na medida em que a música está na vida de praticamente todo mundo, sim, independentemente do estilo musical, todos somos DJs da trilha sonora de nossas vidas.
Music Non Stop – Qual foi o momento mais surreal e emocionante que você viveu até hoje na profissão?
Vintage Culture – Foram alguns, tipo receber feedbacks da minha musica de regiões tão remotas quanto Sri Lanka ou, tocando, fazer o encerramento do palco principal do EDC Brasil e perceber que tinha algo especial acontecendo comigo, não só a oportunidade em si, mas de energia, foi uma experiência extrema.
Music Non Stop – Se pudesse escolher um artista brasileiro pra fazer uma musica com você, quem seria?
Vintage Culture – Gosto muito da MPB dançante dos saudosos Cazuza e Tim Maia, então acho que seria algo nessa linha, Jorge Ben, alguém assim.