Vereador da noite? Tá tendo sim! Conheça 6 candidatos que têm a noite de SP no foco de suas propostas

Bia Pattoli
Por Bia Pattoli

No domingo dia 2 de outubro é dia de votar, você pode ir fazer isso com ressaca ou até mesmo virado da boate, mas o dia é de escolher (ou não!) prefeito e vereador. Por conta disso resolvemos trocar ideia com 6 candidatos a vereador que têm dentro de suas propostas políticas relacionadas à noite e à cena cultural da cidade de São Paulo.

Mas antes… vamos relembrar o que um vereador pode e não pode fazer de fato na sua função. O vereador é o sujeito que age na esfera do poder legislativo dentro do âmbito municipal. Ou seja, além dele criar, extinguir e/ ou emendar leis municipais que não se choquem com as do Estado ou da Constituição; ele também é responsável por ficar na cola do prefeito para ver se ele(a) está fazendo o papel do executivo adequadamente. Também cabe ao vereador fazer o controle externo das contas públicas junto ao Tribunal de Contas do Estado e criar comissões parlamentares de inquérito. Com isso em mente fica claro que tem algumas propostas que nem deveriam ser apresentadas, já que elas simplesmente não cabem ao poder que o vereador tem.

Veja o papo que tivemos com 6 candidatos com propostas que, entre outras coisas, abrangem o universo cultural da cidade. São eles:  André Pomba, Carla Carvalho, Edson Aparecido, Léo Coutinho, Márcio Black e Todd Tomorrow. Cada um tem abordagens diferentes sobre o que precisa de atenção na cena cultural e na cidade em si. É no mínimo interessante ver vários tipos de visões sobre o mesmo tema serem abordados de formas diferentes. Conheça quem são estes candidatos que estão pensando na noite de SP.

André Pomba (43969)

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Como surgiu seu interesse em ter uma atuação no poder público? conte um pouco da sua história.

Bom, eu atuo como militante desde 1979 (quando tinha 15 anos) quanto lutava pela reconstrução da UNE. Passei também pelo movimento sindical e me desiludi com posturas autoritárias dessa esquerda mais retrógrada. Aí passei a atuar como ativista independente nas causas que acredito (liberdades individuais, diversidade, sustentabilidade e cultura), sempre atuando em conselhos e conferências. Decidi me candidatar depois de ver o desprezo com que os parlamentares tratam as demandas dos cidadãos e creio que é uma evolução natural da minha atuação ativista.

Quais são suas principais propostas?

Costumo dizer que minha atuação será focada em 4 itens: Cultura, diversidade, sustentabilidade e a defesa da noite paulistana. Na área de diversidade, quero discutir a criação de casas de acolhida, para jovens e adolescentes que são expulsos ou vítimas de violência em suas casas e pretendo apresentar uma lei anti-discriminação municipal que puna toda forma de preconceito (racismo, machismo, homofobia, transfobia, de origem, contra pessoas com deficiência etc). Dentro da área cultural, pretendo revalorizar as casas de cultura nos bairros, hoje abandonadas; quero cobrar a implantação de um programa de incentivo municipal de cultura; quero efetivar a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas e reforçar o caráter de inclusão social através da cultura. Na área de sustentabilidade, pretendo focar na questão do lixo (reciclagem e compostagem), bem como defender com unhas e dentes as parcas áreas verdes da cidade hoje ameaçadas pela especulação imobiliária. Sou coordenador dos Movimentos Noite Paulistana e Em Defesa da Rua Augusta, e vou lutar pelo licenciamento online com renovação automática, apoiar a implantação do projeto São Paulo 24 horas e rever leis que prejudicam o funcionamento de estabelecimentos noturnos. E também buscar a valorização dos profissionais da área (DJs, barmen, hostess etc). Bom, tenho uma ampla gama de propostas e no meu site www.andrepombapv.com.br tem tudo o que defendo para a cidade de São Paulo e minha biografia.

Quais são suas propostas para a cena cultural da cidade? Há alguma política que já exista que deva ser melhorada ou alguma que deva ser extinguida?

Bom, além de DJ eu sou músico e produtor cultural e já foi conselheiro estadual da cultura e faço parte de Comitê de políticas do Ministério da Cultura. Fundei em 2004 a ONG Dynamite que trabalha com inclusão social através da música e no apoio a artistas independentes. Entre minhas propostas para a área cultural, estão a revitalização das casas de culturas no bairros, a implantação efetiva do ensino de música nas escolas e da lei municipal de incentivo à cultura (Pro-MAC). Acho que a Virada Cultural tem que ser repensada, de forma a fazer com que os equipamentos públicos já existentes em toda a cidade possam ser utilizados 24 horas nesse dia, mas para isso eles precisam ser revitalizados, pois todos sofrem com sucateamento.

Quais projetos você acredita que precisam ser colocados em prática “pra ontem” nas questões de minorias como LGBT, Negros e Mulheres?

Sempre prefiro utilizar o termo “diversidade” que abarca não só a população LGBT, mas os demais segmentos sociais: negros, mulheres, indígenas, pessoas com deficiência, migrantes, imigrantes. Elenquei alguns compromissos que terei em meu mandato:
– Propor a criação de casas de passagem para jovens e adolescentes vítimas de violência ou exclusão familiar.
– Propor uma lei municipal para punir estabelecimentos visando impedir toda forma de discriminação.
– Cobrar avanço nas políticas públicas e sociais rumo às periferias.
– Cobrar que os governos estaduais e municipais atuem conjuntamente e de forma padronizada nas políticas sobre drogas, unificando esforços na recuperação de dependentes químicos.
– Cobrar a atualização e ampliação de políticas integrais de saúde para a população LGBT, em especial aos soropositivos, travestis, mulheres transexuais e homens trans.
– Defender a liberdade e diversidade de crença, principalmente para as religiões de matriz africana, assim como para ateus e agnósticos.
– Apoiar eventos como a Parada do Orgulho LGBT e demais atividades culturais e esportivas que ajudem na inclusão social.
– Denunciar toda forma de intolerância e charlatanismo religioso, principalmente com relação aos fundamentalistas.

Qual sua visão sobre as festas que ocupam espaços públicos (principalmente no centro de SP) e sua relação com os moradores de rua? Tem algo que você acredita que daria para ser feito que possa gerar um maior engajamento?

Está aí um parceria que poderia ser mais disseminada, mas sinceramente creio que é um paliativo ante ao grave problema das ruas. Como moro e trabalho no centro, todo ano realizo e ajudo ações voltadas para os moradores de rua na região central, embora entenda que esse tipo de ação para ser efetiva dependa de uma mudança de paradigma. É necessário que os albergues tenham um tratamento mais humanizado, com horários e regras mais flexíveis para o resgate definitivo dessa população em situação de rua. Precisa entender as especificações de casais que são obrigados a dormir separados, falta de espaço para animais e respeito à identidade de gênero de travestis e transexuais, por exemplo.

Como você acha que a cultura de noite possa ser trabalhada de modo a ser benéfica socialmente nas regiões periféricas?

Toco em várias baladas em regiões periféricas e elas vão bem obrigado, com festas que nada ficam a dever ao centro expandido. Como conheço toda periferia de São Paulo e os principais equipamentos (casas de cultura, centros culturais, fábricas de cultura) para democratizar o acesso da cultura nas periferias, é necessário inicialmente uma maior variedade de artistas, grupos e gêneros acolhidos nos programas de contratações e editais da Secretaria Municipal de Cultura. A centralização de contratações impostas pela SMC nos últimos anos precisa ser revista, dando mais independência às casas de cultura e centros culturais nos bairros para valorizarem artistas locais e dar preferência ao público da região. Aí sim, acho que isso geraria um empoderamento local que refletiria em demandas que possam ampliar a cultura da noite em localidades com poucas opções de entretenimento noturno.

CARLA CARVALHO (50008)

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Como surgiu seu interesse em ter uma atuação no poder público? conte um pouco da sua história.

Sou Carla Carvalho. Paulistana do Jardim Miriam, zona sul. Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I da rede pública há 17 anos, sendo 13 na rede da cidade de São Paulo. A educação pública gratuita, laica, popular, cidadã e sua integração plena com a cultura e a arte é a causa pela qual tenho lutado toda a vida. Estudei Gestão de Políticas Públicas na USP pois entendi que atuar pela educação envolvia participar e entender os processos decisórios e a construção das políticas educacionais. Me envolvi com o processo de construção do Plano Municipal de Educação em todas as suas etapas e na Câmara Municipal assisti, desolada, à investida vitoriosa do fundamentalismo cristão contra o debate de gênero e sexualidade. Em busca de aprender e executar muitas das coisas que o machismo nos faz deixar pra trás, e discotecária apaixonada, aprendi a discotecar, para levar a resistência feminista às festas, como genuínas expressões políticas que são. Conheci a #partidA SP na sua fundação e junto com essas mulheres, me convenci de que só ocupando os espaços de poder poderemos ampliar a luta por uma sociedade mais justa e livre. Assim, para disseminar o feminismo como uma nova maneira de fazer política, coletiva e compartilhada, resolvemos ter uma candidatura e a mim coube essa importante missão. A hora de virar o disco, é a hora de conhecer o “Lado B” da história, no qual mulheres, negras e negros, LGBTs, indígenas e todos os povos que foram excluídos da contagem oficial, sejam os protagonistas de suas narrativas.

Quais são suas principais propostas?

#OLHARFEMINISTASOBREACIDADE: Combate combinado ao machismo, racismo e lgbtfobia. A cidade será outra quando as mulheres e as pessoas hoje excluídas puderem decidir mais sobre a utilização do dinheiro público e será ainda melhor se governada com base no feminismo, que defende o direito de todas as pessoas à felicidade.
#EDUCAÇÃO POLÍTICA: A escola é o espaço para a reflexão crítica, onde as diferenças devem aprender a conviver. Pensar uma educação política para a cidade significa o pleno direito a uma educação pública com criticidade, qualidade social, laica e popular. #DIREITOS DA INFÂNCIA: As crianças são sujeitas de direitos e precisam que suas demandas sejam atendidas. Precisamos garantir o direito à infância digna, às heranças culturais, à escola e atividades culturais, esportivas e artísticas. A cidade é um ambiente educador e deve ser pensada como um todo para o combate à violência e erradicação do trabalho infantil.
#VEREANÇA COMPARTILHADA: Queremos uma cidade onde o poder seja compartilhado com todas as cidadãs e cidadãos. Temos o desafio de aproximar as pessoas interessadas em fiscalizar as ações da prefeitura, propor e votar projetos de lei, e ir além: tensionar os limites da democracia representativa.
#POLÍTICASPARAANOITE: Queremos desenvolver novas maneiras de pensar a noite paulistana. Ocupá-la com atividades produtivas, culturais e de lazer. Garantir segurança pública sem toque de recolher. Com transporte, iluminação, wifi. Regular a noite preservando seu caráter transgressivo. Em busca de uma Cidadania 24h.

Quais são suas propostas para a cena cultural da cidade? Há alguma política que já exista que deva ser melhorada ou alguma que deva ser extinguida?

As políticas públicas sempre podem ser melhoradas, para isso é importante que a população seja ouvida e que o poder público atenda às suas demandas. As ações que existem hoje na cidade precisam ser ampliadas e descentralizadas. Ainda há concentração de atividades no centro e pouco nas regiões mais afastadas. Instrumentalização dos coletivos autônomos e maior participação social na construção das políticas e uso dos recursos. Propomos desenvolver (através de amplo debate social) mecanismos de regulação e mediação de conflitos para a vida cultural noturna e tradicional da cidade, preservando seu caráter transgressor, sempre com a participação dos atores importantes e pensando na economia criativa como mote.

Quais projetos você acredita que precisam ser colocados em prática “pra ontem” nas questões de minorias como LGBT, Negros e Mulheres? 

Programas de fomento especiais para estimular a produção cultural feita por mulheres, negras e negros, LGBTs, indígenas e aumento de ações afirmativas nos programas já existentes. Incentivo a programas de promoção da cultura afro-brasileira e indígena. Colocar na agenda o debate sobre as questões específicas para as mulheres que vivem a noite paulistana, incluindo trabalhadoras e artistas tratando questões de segurança e questões simbólicas.

Qual sua visão sobre as festas que ocupam espaços públicos (principalmente no centro de SP) e sua relação com os moradores de rua? Tem algo que você acredita que daria para ser feito que possa gerar um maior engajamento?

A ocupação do espaço público é imprescindível para que tomemos a cidade como nossa. As festas são ambientes políticos e devem ser tratados como tal. A descentralização das festas de rua é uma ação que precisa ser colocada na agenda municipal. Na região central, o conflito com as pessoas em situação de rua é comum, porém a prefeitura deve mediar esses conflitos para que o espaço seja democrático. A população de rua deve ser convidada a participar da realização desses eventos de alguma forma ou ouvida sobre soluções viáveis para equilibrar a situação. Soluções devem ser pensadas coletivamente, tratando como protagonistas todos os sujeitos envolvidos no conflito.

Como você acha que a cultura de noite possa ser trabalhada de modo a ser benéfica socialmente nas regiões periféricas?

É preciso retomar o espaço público também nas regiões periféricas. Colocar na agenda uma cidadania 24 horas para a cidade é uma maneira de trazer átona soluções possíveis de serem realizadas. A criação de um fórum que discuta políticas para noite paulistana está entre as nossas propostas. É preciso regular a economia da noite com vistas à economia criativa, respeitando as ações culturais já existentes e a cultura popular. Iluminação pública e segurança sem toque de recolher. Ampliação de equipamentos culturais nos bairros e com funcionamento noturno.

Edson Aparecido (45455)

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Como surgiu seu interesse em ter uma atuação no poder público? conte um pouco da sua história.

O meu interesse na política foi despertado no Ensino Médio, no antigo colegial, na Escola José Marques da Cruz, na zona leste da cidade. Eu tive uma professora de História muito engajada que me despertou para a política como forma de lutar por uma sociedade mais justa. Na época, a gente vivia a ditadura e eu participei do Movimento Estudantil e da luta pela democracia. Eu acabei me formando em História na PUC e nunca parei de fazer política.
Nos anos 80, atuei em diversas campanhas eleitorais. Nos anos 90, trabalhei com Sérgio Motta no Ministério das Comunicações numa gestão transformadora que permitiu a quebra dos monopólios e a grande oferta de celulares que vemos hoje em dia. Em 1998, me elegi deputado estadual, e me reelegi. Em 2006, me tornei deputado federal também por dois mandatos. E servi ao governo do Estado como secretário de Desenvolvimento Metropolitano (o primeiro dessa pasta) e chefe da Casa Civil, quando tive a oportunidade de participar das principais decisões do governo, principalmente em relação a investimentos e programas públicos

Quais são suas principais propostas?
 
Em primeiro lugar, eu acredito que São Paulo deve ser encarada como uma metrópole, e não como município. Quase um milhão de pessoas entram e saem da nossa cidade todos o dias para trabalhar, estudar e também em busca de serviços de saúde, de lazer e de cultura. Esse fluxo precisa de mais atenção.  Entre outras, eu destaco minha vontade de atuar em defesa da economia criativa e do empreendedorismo.  São Paulo só vai recuperar o dinamismo econômico e gerar bons empregos com o apoio a atividades como pesquisa e desenvolvimento, design, softwares, audiovisuais, e novas tecnologias. É preciso desenvolver e apoiar projetos que estimulem a criatividade.
Quais são suas propostas para a cena cultural da cidade? Há alguma política que já exista que deva ser melhorada ou alguma que deva ser extinguida?   
São Paulo precisa aproveitar a sua vocação para o entretenimento da noite. Mas a burocracia e leis antiquadas que atrapalham os empreendedores. A proposta é criar nova lei de alvará que inverte a lógica: a prefeitura é que terá prazo para dar a autorização, e não o empreendedor. Isso significa muitos empregos e mais renda na nossa cidade. Hoje em dia, o processo de liberação do documento passa por oito órgãos, o que apenas burocratiza e estimula a corrupção. Isso precisa acabar.
Outra ideia é a criação de Praças Vivas, uma iniciativa para transformar pelo menos uma praça pública de cada subprefeitura em um centro de convivência através do seu uso ordenado, com atividades de lazer e culturais e de comércio criativo. O objetivo é estimular a economia criativa e o bom uso dos espaços públicos, incentivando a descentralização da cultura em São Paulo. E, depois de consolidado esse projeto, quero estimular o intercâmbio entre as subprefeituras, levando a cultura da periferia ao centro e a do centro a periferia.

Quais projetos você acredita que precisam ser colocados em prática “pra ontem” nas questões de minorias como LGBT, Negros e Mulheres? 

Uma questão que me incomoda é a desigualdade no mercado de trabalho. É preciso inserir as minorias para consolidar os avanços na visibilidade e valorização que essas pessoas conquistaram nos últimos 20 anos.

Qual sua visão sobre as festas que ocupam espaços públicos (principalmente no centro de SP) e sua relação com os moradores de rua? Tem algo que você acredita que daria para ser feito que possa gerar um maior engajamento?

A ocupação dos espaços públicos com festas é algo de valioso na cidade. No entanto, tenho convicção de que é preciso organizar melhor esses eventos. Tenho me preocupado com essas festas que estão acontecendo em várias regiões da cidade, incentivadas pela atual gestão. Primeiro, com o bom pretexto de que é preciso ocupar o espaço público com atividades para a população, a prefeitura tem permitido que os produtores realizem eventos muito comerciais, com vasta arrecadação de recursos. Segundo, a estrutura desses eventos podem oferecer risco as pessoas: não têm segurança adequada, não têm bombeiros, não tem assistência médica adequada e, além disso, há consumo de drogas indiscriminadamente. Quem é da área, tenho certeza que se lembra bem da tragédia em Santa Maria, no Sul do Brasil. Não podemos correr esse risco e perder o direito ao uso desses espaços por causa de desorganização. Além disso, os donos de estabelecimentos são submetidos a rigorosas regras, é preciso, portanto, não sermos injustos com eles.

Como você acha que a cultura de noite possa ser trabalhada de modo a ser benéfica socialmente nas regiões periféricas?
Junto com o meu projeto de praças vivas, que estimula a descentraliza a cultura, eu acredito que temos que descobrir as características específicas de cada região e estimulá-las. Por exemplo, em alguns locais o funk é predominante, em outros, o hip hop, em outro a MPB. Precisamos ter um olhar cuidadoso e incentivar as culturas locais.

Também é preciso mudar o nosso transporte público e brigar por mais ônibus 24 horas, que vai beneficiar tanto quem está na periferia e quer ir a eventos na região centro, quanto quem está na região central e quer ir a eventos na periferia. O transporte 24 horas pode incentivar esse fluxo.

Léo Coutinho (45450)

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Como surgiu seu interesse em ter uma atuação no poder público? conte um pouco da sua história.

Eu nasci assim. Meu tio-avô Franco Montoro foi uma personalidade que influenciou inúmeras pessoas no sentido de participar das decisões do poder público. Sou uma delas, mas não sei dizer desde quando. Tenho foto ainda criança na Praça da Sé no comício das Diretas. Desde então fiz a minha parte, escrevendo, participando em entidades, no clube, criando movimentos culturais, lutando pelo patrimônio histórico.

Quais são suas principais propostas?

Descentralização e participação. Bandeiras do Montoro. São Paulo só será viável com as subprefeituras cuidando do dia a dia perto das pessoas que vivem na região e conhecem as necessidades e soluções. Elas devem estar próximas da administração.
E urbanismo e urbanidade. A Câmara municipal deve fazer o debate metropolitano, conectando todas as áreas geográficas e administrativas, envolvendo cidades vizinhas. Tudo com urbanidade, que é uma das maiores carências da atualidade. Diálogo, respeito, bom-senso.

Quais são suas propostas para a cena cultural da cidade? Há alguma política que já exista que deva ser melhorada ou alguma que deva ser extinguida?

Criar conselhos deliberativos de cultura em cada prefeitura regional. Com poder de decisão sobre o orçamento e a programação. Usar as salas dos CEUs para cinema, teatro, dança. Cada CEU tem possibilidade de funcionar como uma Fábrica de Cultura aos finais de semana e hoje estão subaproveitados. Quando estive na coordenadoria da juventude da prefeitura fizemos o CineCEU. No dia mundial do Meio Ambiente conseguimos com a Paramount a liberação dos direitos do filme Uma Verdade Inconveniente, do Al Gore, que não é exatamente uma obra fácil e leve. Mesmo assim mais de 18 mil pessoas assistiram ao filme em repetidas sessões. A demanda é enorme. A Escola de Música Tom Jobim, do governo do estado, tem 1300 alunos que precisam fazer apresentações para formação de currículo. Assistir é bom para todo mundo. Podemos conversar com as diversas igrejas existentes na cidade e incentivar apresentações, exatamente como ocorre em cidades pequenas que não têm teatros grandes na Europa. Basta vontade política e urbanidade.

Quais projetos você acredita que precisam ser colocados em prática “pra ontem” nas questões de minorias como LGBT, Negros e Mulheres? 

Acredito no poder transformador da cultura para todos os temas da sociedade, notadamente os mais sensíveis. Quem assistiu Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é uma pessoa melhor do que antes, com uma percepção diferente sobre acessibilidade, inclusão, tolerância. Quanto mais acesso à cultura, melhor será a sociedade.

Qual sua visão sobre as festas que ocupam espaços públicos (principalmente no centro de SP) e sua relação com os moradores de rua? Tem algo que você acredita que daria para ser feito que possa gerar um maior engajamento?

Ocupação do espaço público é sempre positiva. Essa onda voltou há mais ou menos dez anos com a Virada Cultural, um programa transformador. E tão exitoso que os dois prefeitos que vieram depois mantiveram. É uma vitória da cidade.
Sobre as pessoas desabrigadas, é urgente rever o modelo de albergues. Do horário de funcionamento até a possibilidade de haver canil, passando por ajuda psicológica e orientação profissional.
Engajamento já existe. Diversas entidades ajudam. Precisamos criar um polo para direcionar melhor as ofertas de ajuda e voluntariado. Temos pequenas regiões periféricas espalhadas por toda a cidade.

Como você acha que a cultura de noite possa ser trabalhada de modo a ser benéfica socialmente nas regiões periféricas? 

Recentemente, na abertura da semana da mobilidade, andei doze quilômetros entre São Miguel e o Itaim Paulista. Igual a tantas outras regiões, há um centro mais ou menos organizado, com urbanização semelhante a do centro expandido, que vai se deteriorando a medida em que a gente chega as vilas. Mas se você olhar para a Alameda Lorena verá que conceitualmente o fenômeno se repete. Nas quadras próximas às grandes avenidas, como a Brigadeiro Luiz Antônio ou a Rebouças, ela fica escura, com menos gente na rua, um certo ar de abandono. E a cultura da noite pode reverter esse cenário. Na última quadra da Lorena a vida da rua resiste por causa do restaurante Perttirosso, do Meats, de um clube que vai e volta. Outro exemplo é a General Jardim. A chegada do Jazz B, da Casa do Porco, somada ao IAB que vai reabrir o bar, transformaram a rua. O mesmo aconteceu quando o Vegas foi para o Baixo Augusta e vale para qualquer lugar de São Paulo e do mundo.

Por falar em IAB, o Paulo Mendes da Rocha diz que o fechamento de um bar indica a decadência de um bairro. Concordo e digo mais: a abertura de um bar é sinal de progresso. Mas para tudo a urbanidade é fundamental. Por isso propus a instituição do Prefeito Da Noite, que no mesmo modelo de Amsterdã, Barcelona, Paris, NY, que será um mediador da prefeitura regional nos distritos boêmios para ajudar na conciliação entre a turma da noite e os moradores dos bairros. O Prefeito da Noite será um servidor com talento e vocação para a urbanidade e mediação e ficará na prefeitura regional, em contato com os moradores e a turma da noite, mediando conflitos e encontrando as convergências.

Márcio Black (18111)

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Como surgiu seu interesse em ter uma atuação no poder público? conte um pouco da sua história.

Sou produtor cultural, cientista político e integrante do Coletivo Sistema Negro. Cresci na periferia de Osasco, vim para São Paulo para estudar na PUC, onde fiz minha graduação e mestrado. Ao vir morar aqui fui confrontado por um racismo terrível e, por isso, encontrei na ocupação das ruas de São Paulo com cultura e ativismo uma estratégia de existência e da importância da garantia de direitos para estar nela. Pois nas ruas sua reputação é baseada no que você faz e não na cor da sua pele, origem social ou carro que dirige.
Foi uma estratégia de existência numa cidade que trata muito mal sua população negra assim como outros segmentos marginalizados. Foi isso que me estimulou a me candidatar. Para construir uma cidade que garanta acesso para negros e negras em todos os espaços. Que garanta representação e direito a ocupar e transitar aos grupos que tem sido historicamente invisibilizados nessa cidade que aprendi a amar e lutar por ela.
Além disso, tive experiências específicas no executivo ao prestar serviços para a Secretaria Municipal de Cultura para a realização do Carnaval de Rua e Virada Cultural de 2016.

Quais são suas principais propostas?

Nossa campanha é baseada na proposta de um municipalismo de perspectiva negra. Municipalismo com recorte de classe, gênero e raça. Pois acreditamos que precisamos caminhar rumo a uma nova política municipal em torno de plataformas participativas, fortalecendo não só o tema do “direito à cidade” mas também práticas concretas e progressistas de produção de uma cidadania ativa e renovada. Sempre considerando um projeto político para nós, a comunidade, e protagonizada por nós mesmos. Aqui neste link você pode acessar nossa carta proposta com nossos eixos de atuação e propostas.

Quais são suas propostas para a cena cultural da cidade? Há alguma política que já exista que deva ser melhorada ou alguma que deva ser extinguida?

Temos muitas propostas para cultura e para maior parte delas não existe legislação ainda.
Estas são algumas:  Fortalecer o SPnaRua como espaço de deliberação dos coletivos de ocupação cultural com a realização de duas edições anuais. Projeto de Lei que regulamente as ocupações culturais públicas realizadas por coletivos. Contemplando a criação de edital específico para festas de rua que contemple demanda anual e por região dos coletivos. Estabelecendo critérios para que seja fornecida estrutura necessária (facilitação nos trâmites burocráticos, geradores, tendas e banheiros químicos.)
Proposta de Incentivo/Edital para iniciativas culturais que ocupem as vias do Programa Ruas Abertas em todas as regiões da cidade.  Outro tema que me mobiliza bastante é da “Prefeitura da Noite”, que já existe em outras cidades e que pode ajudar muito a organizar a noite de São Paulo, deixando-a mais segura e lucrativa para todos os tipos de empreendimento. De pequenos clubes, passando por negócios noturnos de todos os tipos até o trabalho de ambulantes. Também na pauta a realização de novas edições do Seminário sobre a Noite Paulistana e lei de incentivo para instalação de negócios noturnos.

Quais projetos você acredita que precisam ser colocados em prática “pra ontem” nas questões de minorias como LGBT, Negros e Mulheres?

Trabalhamos muito essas questões em nosso eixo de #DireitoaVida, pois são fundamentais para a cidade que precisa ser plenamente inclusiva. E são os pontos nos quais mais estarei dedicado.
Em relação ao combate ao racismo, acreditamos que devam ser introduzidas políticas de ação afirmativa para igualdade racial em todas as instâncias/órgãos públicos. 
E em relação ao genocídio da juventude negra, me responsabilizo em criar uma comissão na câmara municipal para discussão de políticas anti-proibicionistas em relação às políticas de drogas, o que pode radicalizar as políticas de redução de danos na cidade. Precisamos entender quais são os benefícios que a adoção de políticas anti-proibicionistas podem trazer para a cidade e para redução de mortes de jovens negros nas periferias.

Qual sua visão sobre as festas que ocupam espaços públicos (principalmente no centro de SP) e sua relação com os moradores de rua? Tem algo que você acredita que daria para ser feito que possa gerar um maior engajamento?

Estou há muito tempo nessa função. São quinze anos de produção de algumas centenas de eventos, ações e festas de rua na cidade de São Paulo. Da coordenação de eventos como a Mobilização Mundial pelo Clima, Carnaval de Rua e Virada Cultural até festas sem autorização sobre o Minhocão, na Praça Roosevelt, Viaduto Sta. Ifigênia, Bar do Gê, Bar do Netão na Rua Augusta, entre outros. São eventos e ações completamente diferentes, mas com um sentido em comum: a possibilidade de existir e experimentar plenamente as ruas de São Paulo. Uma história com início em uma época na qual o acesso aos produtos culturais era feito estritamente pelo acesso a clubes, ou seja, ouvia e experimentava a cidade de modo indoor e para quem tivesse condições de pagar. E, consequentemente, aconteciam os recortes que consideravam sua origem social, racial e gênero. Uma cidade fechada, paga, segregada.
Ao longo do tempo a cidade mudou. Outras perspectivas, ações e iniciativas surgiram para alimentar ainda mais essa demanda por experimentação da mesma. Coletivos de arte urbana, grupos focados em mobilidade urbana, hortas urbanas, manutenção de praças. Cada um com a sua especificidade, mas como um mote: precisamos experimentar a cidade de outras maneiras, fora da lógica segregadora, particular, gradeada. E, para isso, precisamos ser ativos na construção de uma cidade que seja amigável para isso. Ou seja, com praças sem grades, para que seja possível a comunidade gerir suas hortas, com ciclovias, parques, entre dezenas de experiências que temos pela cidade.
As ocupações precisam acontecer e o relacionamento com a cidade precisa ser pleno. Com a integração de catadores, moradores de rua e ambulantes no processo.

Como você acha que a cultura de noite possa ser trabalhada de modo a ser benéfica socialmente nas regiões periféricas?

Pessoalmente não acredito que precisemos tratar as periferias diferente do centro. As nossas propostas e perspectivas valem para a cidade toda. Os mesmos serviços que existem no centro precisam existir nas periferias. A cidade é um ecossistema com funcionamento diferente em cada região. E todo mundo deveria circular pela cidade toda e por isso a noite na cidade toda precisa ser potencializada. Com transporte público funcionando, banheiros públicos e incentivos para que negócios noturnos funcionem pela cidade toda.

Todd Tomorrow (50505)

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Como surgiu seu interesse em ter uma atuação no poder público? conte um pouco da sua história.

Acabei me jogando no ativismo justamente por perceber que existia uma onda ultraconservadora proibicionista, que atingia meus direitos, enquanto um cara gay que só queria ter uma existência descomplicada. Começamos articulando na rede e de repente estávamos de cartaz na mão disputando o imaginário nacional. Foi na crise do Feliciano, tomando a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Como eu sempre fui uma pessoa interessada no chamado “baixo clero”, aqueles deputados de menor projeção e interesses paroquiais, acabei assumindo, sem nenhuma pretensão anterior, boa parte da liderança desses levantes. De lá pra cá, a coisa tomou proporções que não estavam a princípio nos meus planos.

Quais são suas principais propostas?

Nós temos muitos planos pra algumas agendas que acreditamos ser urgentes, pra uma cidade que se pretende global. São Paulo tem um potencial incrível que é frustrado, justamente por conta do provincianismo paulistano. Essa é a maior cidade do país, em muitos aspectos, e ao mesmo tempo é daqui que são disparados os valores mais retrógrados pro resto do Brasil. Nós temos propostas que dialogam essencialmente com os Direitos Humanos e a Cultura. De criar um mandato de resistência e que seja um guarda chuva para minorias e minorizados (maiorias tratadas como minorias, como pessoas negras e mulheres) até enfrentar o proibicionismo implantado na cidade.

Quais são suas propostas para a cena cultural da cidade? Há alguma política que já exista que deva ser melhorada ou alguma que deva ser extinguida?

Queremos enfrentar a Lei do Uso do Solo que é higienista, uma legislação que permitiu a perseguição de artistas de rua e a repressão de festas organizadas pela juventude; enquanto assistimos à privatização dos espaços públicos por grandes empresas, que não têm muita dificuldade em conseguir uma autorização para realizar seus grandes eventos gradeados e privilegia quem tem muito dinheiro. Queremos democratizar esse território e dar para a cultura um papel de protagonista nessa cidade que se pretende Global mas tem uma elite de mentalidade tão atrasada. Das festas eletrônicas do centro ao pancadão das periferias, nosso sonho e nossa vontade é de entregar pro habitante de São Paulo um empoderamento que faça o cidadão daqui achar que é tão dono da cidade quanto o proprietário de um club. Parece inviável e utópico mas isso me move profundamente.

Quais projetos você acredita que precisam ser colocados em prática “pra ontem” nas questões de minorias como LGBT, Negros e Mulheres? 

Queremos impulsionar o Projeto Piloto TransCidadania da atual gestão, para fortalecer as atividades de recolocação profissional de travestis e mulheres transexuais, segmentos mais vulneráveis da população LGBT. E também escolarizar mulheres negras, maioria entre as chamadas “empregadas domésticas”. Não se trata de querer ensinar mas criar multiplicadoras entre essas mulheres pra que elas tomem seus destinos nas próprias mãos.

Qual sua visão sobre as festas que ocupam espaços públicos (principalmente no centro de SP) e sua relação com os moradores de rua? Tem algo que você acredita que daria para ser feito que possa gerar um maior engajamento?

Eu tenho uma relação de frequentador com esses espaços progressistas. Sou entusiasta dessas “ilhas” que trazem, inclusive, reflexão sobre o espaço público. Falta, por ora, uma relação mais integrada com essas populações mais vulneráveis que estão à própria sorte. Mas existem sinais de que essas ocupações culturais estão tendo contato direto com pessoas em condição de rua e impactando nesse imaginário que antes estava confinado em clubs caros e “exclusivos”, mas agora prefere frequentar festas de rua. Essa é a potência desses espaços de convivência. E isso não pode ser perdido. A cidade precisa atravessar as pessoas.

Como você acha que a cultura de noite possa ser trabalhada de modo a ser benéfica socialmente nas regiões periféricas? 

Vivemos um momento delicado. A Polícia Militar sempre chegou atirando nas festas da periferia. E está se sentindo à vontade pra tentar intimidar as festa do centro, tradicionalmente levadas pela classe média. A solidariedade e o fato de perceber essa repressão que está chegando no centro pode ser um fator importante de integração entre esses mundos. Tão perto e tão longe… Sentir na pele o que se passa nas regiões periféricas pode ser um choque de realidade pra classe média que ocupa os espaços públicos do centro. E isso pode mudar completamente a mentalidade de muita gente que nós conhecemos. Isso é transformador. Na adversidade enxergamos o outro como um de nós. E a atual conjuntura é do “cassetete democrático”. Vamos ter de enfrentar isso tudo juntos!

Agredecimentos especiais à Associação de Bares, Casas Noturnas e Entretenimento de São Paulo (Abcnesp) pelo intermédio e contatos

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