O Music Non Stop renova seu amor à DJ desbravadora das rádios brasileiras apresentando um vídeo inédito de um dos seus inúmeros projetos, a Banda do Quarto Mundo.
Sonia Abreu colecionou, em uma carreira de cinquenta anos, inúmeros feitos importantíssimos para a música brasileira abusando do seu talento, olho clínico para música, pesquisa e determinação.
A história da sua vida, recheada de passagens incríveis e divertidas, foi contada no livro Ondas Tropicais (nome de seu seminal sound system), escrito pela Claudia Assef, criadora do Music Non Stop, grande fã e amiga de Sonia.
Hoje faz um ano que Sonia nos deixou. Para lembrar desta personagem gigante do universo das rádios, dos DJs e da música brasileira o Music Non Stop resgatou, com a ajuda da documentarista Ruth Slinger, imagens de um show de sua Banda do Quarto Mundo no Aeroanta em 1.991.
Para compreender um pouco do tamanho da influência de Sonia Abreu e do quanto suas ondas tropicais reverberam por aqui, também coletamos alguns depoimentos de personagens do cenário musical sobre “a mãe da porra toda”.
Lucinha Turbull – Musicista
Quero mandar um beijo a ela onde quer que ela esteja e eu acho que ela está muito bem. Dia 26 de agosto coincide com o dia da passagem da minha mãe! E ai, mãe, espero que vocês estejam se conhecendo aí. Sonia sempre foi uma pessoa que fez o trabalho dela com muita alegria. E o fato de ela ser a primeira mulher DJ não fez dela uma pessoa agressiva, no sentido de mostrar que a mulher também sabe fazer. Ela tinha vontade de fazer aquilo, gostava de fazer e fazia. Simples assim. Uma pessoa admirável, muito batalhadora e com um amor profundo pela música. Eu deixo aqui minha grande admiração por ela e… qualquer hora a gente se encontra, né Sonia? Com certeza né!! Um beijão pra você e olhe por nós.
Otávio Rodrigues – DJ
Minhas memórias da Sonia me levam lá para o meio dos anos oitenta. Eu trabalhava na redação de uma revista especializada em música, a SomTrês, e a Sonia gravitava, entre outras entidades do mundo musical e artístico, ali na redação. A principio eu ouvia falar da Sonia. Lia notinhas no jornal, música no Ibirapuera, DJ que atuava na revista Pop… e aquilo me deixava intrigado. Não era tão comum mulheres com este tipo de atitude e iniciativa, ocupando espaços com desenvoltura que era mais própria dos homens naquela época. Sonia estava à frente! Mas isso eu só vim descobrir pelo caminho, quando a gente se conheceu e ficamos amigos. Eu ficava olhando aquela menina com uma Combi cheia de caixas acústicas… fiquei louco, né. Eu vinha de uma cultura meio caribenha, meio jamaicana, com aquela cultura do sound system… e era exatamente o que ela trazia. A vi incontáveis vezes em Campos do Jordão, Praça do Por do Sol, Ibirapuera, USP, um sem número de vezes que acompanhei aquela rádio ambulante e também o trabalho dela nas emissoras… especialmente na 89FM, onde dividimos programa, levávamos artistas, etc. Mas afora a importância da Sonia para tudo e para todos, eu particularmente me ressinto muito da perda da minha querida amiga porque a gente se falava sempre que ouvia uma música nova, um artista novo, enfim… se o domingo amanhecia com sol ou com chuva a gente se falava também… já tenho perdido muitos amigos e amigas pelo caminho, isso é verdade, porque a vida é assim mesmo, mas a Sonia é sem dúvida uma das personagens que mais faz falta. Eu recomendaria pra você, que gosta do trabalho da Sonia, que ouviu falar de seu trabalho, ou você que nunca ouviu falar de Sonia Abreu, há um trabalho muito bom à disposição na internet . Basta fazer uma busca e encontrar vários programas Ondas Tropicais lá, numa das últimas séries que ela fez para o UOL. Dá pra ter uma noção da diversidade e do alcance do trabalho dela e também da resistência, da abnegação e da dedicação que com que ela, mesmo desafiando males bastante desconfortáveis, avançar até o final e lutar fazendo aquilo que ela mais gostava música. Fica aqui meu beijo para Sonia Abreu.
Marky – DJ
Sonia é uma pessoa que vira e mexe está nos meus pensamentos. Eu era bem grudado a ela. A gente não se via muito mas a gente tinha uma adoração, um carinho, muito grande. Quando eu tocava uma música e ela gostava, eu mandava pra ela, que ficava muito feliz… ela faz muita falta.
Seo Osvaldo – DJ
Me lembro da Sonia nos encontros do livro Todo DJ Já Sambou. De lá teve um crescimento muito grande da nossa relação. Fizemos muitos eventos juntos e foi muito gratificante participar com ela discotecando. Foi uma participação muito bonita. Tambem estivemos juntos na Assembleia Legislativa, muito à vontade… um companheirismo muito grande. Foi uma perda muito grande para nossa área, dos DJs. Ela deixou muita saudade É uma lembrança muito forte para mim. Foi embora muito cedo. Tinha uma vida muito bonita e muito ativa.
Ruth Slinger (documentarista)
Conheci a Sonia tocando em um coreto na rua Augusta, provavelmente 1980. Em 81 ela fez parte de um show em que eu fazia parte da turma que organizou… tocaram Verminose, Tutti Frutti, Raul Seixas e a DJ Sonia Abreu e suas Ondas Tropicais. Ela foi pioneira em muitas coisas… nessa alegria de tocar, de encantar, e de levar a música onde quer que ela ia, com sua combi mágica. Depois eu a ouvi no rádio, anos depois, em meados de 80 na rádio Brasil, um programa incrível. Depois ela volta na minha vida com a banda Quarto Mundo, que ela idealizou convidando uma galera incrível, inclusive um dos meus grandes amigos até hoje, o Fernando Figueiredo, que canta, produz é DJ.
Claudia Assef – Jornalista e DJ
A Sonia pra mim hoje é uma lembrança muito feliz. Trabalho aqui no escritório com uma fotinho dela… ela meio que virou minha guia espiritual. Já era muito importante pra mim aqui no plano terrestre e agora olho pra ela todos dias. A ida dela foi muito bem resolvida. Inclusive, quando fomos buscar o livro dela, dois anos antes dela falecer, ela falou assim “bom agora só me resta morrer”. E ela não tinha ainda nenhum sinal da doença que a acometeu. Ela é uma fada na minha via, uma guia, um anjo. Isso o que ela se transformou para mim. Lembra dela com alegria. Tristeza, de jeito nenhum.
Millos Kaiser
Infelizmente, não tive a oportunidade de conhecer a Sonia Abreu. Mas sinto como se quase tivesse sido amigo dela depois de ler suas histórias, investigar suas coletâneas e ver suas fotos. Dia desses, vendo um documentário sobre Iacanga, o Woodstock brasileiro, lá estava Sonia de novo. Acho que quem viveu assim não morre nunca.