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Turnê do Dekmantel traz Legowelt a São Paulo neste finde. Falamos com a lenda do techno holandês

Sete meses depois de estrear em São Paulo, o festival holandês Dekmantel volta à cidade com uma festa que parte da turnê da celebração da primeira década do selo/festival. Se depender do line-up, pode se preparar que vai ser um festão: Zopelar, Interstellar Funk, Palmbomen II, Shanti Celeste, Cashu, Tessuto, DJ Bone, Gop Tun DJs, Dekmantel Soundsystem e Legowelt, uma das lendas do techno holandês.

Danny Wolfers aka Legowelt é uma das figuras mais representativas do techno e do electro cujo perfil sintetiza muito do que os holandeses têm como seus melhores trunfos culturais: o humor seco, a seriedade estética e o esforço em transformá-la em um produto coeso no mercado musical. Tudo isso, obviamente, transformado em algo compatível com sua criatividade. Claro que, colocado de forma tão simples, pode parecer uma conquista fácil, mas ao ouvirmos como sua música se desenvolveu durante quase 20 anos, vemos bem como se desenrolou esse processo.

Acumulando uma batelada de lançamentos que figuram nos catálogos de muitos dos mais célebres e respeitados selos do planeta, ele tem muito pouco a provar hoje em dia, o que nos leva a crer que sua invejável produtividade se deve realmente a um impulso criativo dos mais intensos. Essa pujança é também outro de seus traços mais distintivos e que se acopla extremamente bem ao seu ecletismo e desinteresse por convenções e lugares-comuns, ainda que os manipule muito bem.

Legowelt@ Kraft, em Campinas, 2008

Tampouco sendo um estranho em terras tupiniquins, ele teve sua estreia no saudoso club Kraft de Campinas há quase dez anos. Ano passado ele passou pela ODD, numa apresentação que deixou marcas indeléveis na memória afetiva e sensorial de quem compareceu. Agora ele retorna como integrante da escalação da nova série de showcases do Dekmantel. Nada mais justo do que trocarmos uma ideia com ele.

Music Non Stop – Você já esteve na América do Sul algumas vezes. Se não me falha a memória, seu debut foi há exatamente uma década no Brasil. Quais as lembranças dessas visitas?

Legowelt – Sim! Eu gosto da energia do povo aí, especialmente nas festas, todos parecem tão relaxados.

Music Non Stop – E quanto à música num sentido mais amplo? Há alguns trabalhos ou artistas daqui da região que tenham te influenciado, de qualquer época?

Legowelt –  Eu lembro que da última vez em que estive por aí, acho que foi em São Paulo ou no Rio, alguém me deu uma fita com a imagem de um fantasma com um chapéu de feiticeiro. Não tenho a menor ideia de quem tenha sido, mas era muito legal. Tipo techno bem colorido e cru.

Music Non Stop – 2017 foi um ano com importante atividade entre suas alcunhas, com você lançando coisas sob seu próprio nome de batismo e até revivendo antigos projetos. Essas decisões seguem um planejamento? Você salta de um projeto para outro ou você chega a trabalhar em álbuns simultâneos por vezes?

Legowelt – Majoritariamente, isso se dá de modo espontâneo. Todo o processo de criar a arte, a música, mixar, pensar em títulos de faixas é um fluxo que pode levar até duas semanas. Então normalmente trabalho em um projeto de cada vez.

Music Non Stop – Sobre o tema dos pseudônimos: eles seguem uma lógica específica que é informada diretamente pelo seu processo criativo? São eles como capas que lhe permitem transitar livremente através da música sem ser reconhecido ou mais como capas de livros?

Legowelt – Mais como capas de livros, com certeza. O pseudônimo é parte do projeto como um todo – a imagem completa – a música, a arte, os títulos de faixas, o nome do álbum e o pseudônimo estão todos sintetizados em uma obra de arte total.

Music Non Stop – Pesquisando outras entrevistas que você já deu notei que é impossível encontrar a palavra “texturas” quando o tópico é sua abordagem do fazer musical. Você evita este conceito a fim de definir alguns aspectos do seu trabalho ou é apenas uma divertida coincidência? Se for, como você o aplicaria a suas perspectivas sobre a manipulação sonora?

Legowelt – Bem, para mim é algo bastante óbvio, acho… A textura sempre está lá e é a amálgama de tudo junto na peça musical. Na real, eu nem sei bem o que dizer a esse respeito, hahahahaha…

Music Non Stop – Por outro lado, o oculto, os meandros místicos ou as ciências antigas parecem ser algo bem presentes no seu trabalho. Você se considera um tipo de feiticeiro, conjurando feitiços através do maquinário?

Legowelt – Na verdade, não. Talvez mais um alquimista que usa poções, compostos e elixires que são os sintetizadores, efeitos e etc., buscando por algum tipo de sabedoria profunda na música. Agora, se esta sabedoria de fato existe, isso não interessa… eu me divirto na busca.

Music Non Stop – Você normalmente parece otimista sobre o papel das novas tecnologias nas formas como a música é produzida, reproduzida e distribuída hoje em dia. Você cresceu nos 90 com acesso escasso ao tipo nichado de música e equipos que apreciava. Acredito que agora há muito mais oportunidades à música obscura e a recursos mais portáteis para se apresentar. Mesmo assim, algumas vezes, você chega a pensar que tudo pode ter ficado “fácil demais”?

Legowelt – Não, acho que não seja o caso. É realmente muito bom que possamos encontrar praticamente toda música que tenha sido lançada ou ainda não em alguns cliques do mouse. Creio que nos velhos tempos você pudesse se sentir muito mais recompensado por encontrar algo especial que quase ninguém conhecesse. Mas se pensar a fundo nisso, é um tanto egoísta.

Music Non Stop – E quanto à idolatria de equipamentos? Como você vê a atual fetichização de sintetizadores modulares e outras peças, especialmente entre as gerações mais novas?

Legowelt – Olha, acho que é algo legal, não sei… Sinceramente não tenho uma opinião formada a respeito… As empresas de sintetizadores modulares se comportam como traficantes de crack vendendo seus módulos para viciados.

Arte da capa do álbum Legendary Freaks In The Trash Of Time, que Legowelt lança em outubro

Music Non Stop – Então, podemos finalizar com elas, certo? Algumas dicas ou palavras de esperança para aqueles que, por um motivo ou outro, se espelham em você?

Legowelt – Acho que talvez seja prudente mencionar que meu novo álbum, Legendary Freaks In The Trash Of Time, vai sair em outubro pela Clone. Olha como a arte está legal. É isso!

DEKMANTEL SÃO PAULO
Sábado, 30/9, a partir das 22h
Av. Jaguará, 1485, Jaguaré
Line-up: DJ Bone,Legowelt *live, Dekmantel Soundsystem, Palmbomen II *live,
Shanti Celeste, Interstellar Funk, Gop Tun DJs, Zopelar *live, Cashu e Tessuto
Ingressos aqui

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