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Três reis magos do techno brasileiro, Renato Cohen, Anderson Noise e Mau Mau consolidam parceria a seis mãos

Eles estavam na sala de parto quando a música eletrônica nasceu no Brasil. O então dançarino e funcionário do Bradesco Maurício Bischain, antes mesmo de atingir a maioridade (ele tem 48 hoje), já estreava como DJ num dos clubes mais importantes de São Paulo nos anos 80, o Madame Satã. Um pouco depois, inspirado por sets de techno que via no Hell’s Club, outro paulistano, o então estudante de artes Renato Cohen, hoje com 41, estreava no palco do afterhours um live P.A. com computador de mesa e toda uma parafernália eletrônica pra apresentar produções próprias, que anos mais tarde explodiria na forma do maior hit de techno que o Brasil já produziu, a faixa Pontapé. Enquanto isso, em Minas Gerais, o bagunceiro Anderson Noise, 46 anos, cujo aniversário de 28 anos de carreira celebramos neste entrevistão, criava as festas mais doidas de Belo Horizonte (uma delas dentro de um hospício, inclusive), que tinham sua mãe, a bafônica Mama Noise, como hostess.

Resumindo, estamos falando de Mau Mau, Renato Cohen e Anderson Noise, simplesmente nosso trio de ouro do techno nacional, que de uns tempos pra cá, meio que até por acidente, resolveu começar a tocar junto, a seis mãos, num back3back. Não foi uma nem duas apresentações, já passam de uma dezena, com uma recente incursão em Londres, no clube Egg, aliás.

Aproveitando que eles tocam neste sábado (18), em São Paulo, pensamos em jogar cinco perguntinhas aos três Reis Magos da techneira brasilis. Eis o que deu.

. NOISE . MAU . COHEN .

Music Non Stop – Como funciona o back3back, existe alguma lógica ou é tudo no improviso?

Noise – Trabalhamos revezando nos decks e este revezamento sempre depende do tempo que estamos tocando. No Rock in Rio tocamos por uma hora e meia, e cada um de nos tocávamos uma música cada. No Deputamadre tocamos por quase toda a noite do Natal, começamos tocando 3 músicas cada um ,depois fomos para 2 músicas cada até chegarmos a 1 música cada um de nós.

Mau Mau – Tudo depende de quanto tempo temos de set, aí combinamos quantas músicas cada um toca e a ordem de quem começa ou termina. Particularmente eu gosto quando tocamos apenas uma música cada um, assim o set fica mais dinâmico.

Renato Cohen – A ordem de quem entra depois de quem não muda, fora isso um tem que seguir o que o outro fez.

Music Non Stop – Vocês planejam estender essa colab em produções?

Noise – Eu acredito que vai acontecer em breve, estamos com uma boa conexão e só esta faltando oportunidade para nós três trabalhamos juntos no studio.

Mau Mau – Acho um ótimo caminho para divulgar ainda mais nosso projeto, mas o problema é conciliar a agenda de todos, ou encontrar um jeito de compartilhar as idéias para começarmos separadamente as produções, mas é um caminho que provavelmente seguiremos.

Renato Cohen – Não falamos sobre isso, mas ja é difícil juntar os três durante a semana até pra fazer essa entrevista…

Music Non Stop – Como veem a cena de techno hoje no Brasil?

Noise – Eu acho que agora o Techno está voltando ha ser moda novamente no Brasil, mas o mais engraçado é que tem muita gente que toca outros estilos e diz que anda tocando Techno.

Mau Mau – Há alguns anos, quando o Deep House era o estilo da “modinha”, Techno era quase um palavrão no Brasil (rs), não faz muito tempo que as pessoas faziam cara feia ao ouvir o termo. Hoje em dia, a maioria dos DJs dizem que tocam Techno. Eu particularmente prefiro não rotular meu set, mesmo porque sempre misturei vários estilos em uma única noite. Adoro quando no mesmo set algumas pessoas dizem que meu som “House” foi legal, enquanto outros dizem que toquei uma “Technera nervosa”, hahaha. Eu nunca fui de seguir modinha, também não tenho nada contra quem segue, cada um que seja feliz fazendo o que gosta … “prefiro ser aquela metamorfose ambulante”, saca?

Renato Cohen – Eu não vejo cenas separadas por estilos musicais. Vejo gente que gosta de música e está aberta a tudo que é assimilado, ou gente que só quer saber do mesmo que já conhece (ou de alguma moda passageira). Para essas pessoas abertas musicalmente o Techno hoje em dia interessa bastante.

Music Non Stop – Do que têm saudades dos tempos em que começaram a tocar?

Noise – De como era difícil conseguir bons vinis para tocar, era muito prazeroso tocar os vinis quando chegavam.

Mau Mau – Nunca fui nostálgico, sempre vivi o presente da melhor forma possível, a mesma paixão pela música que me movia há anos, continua vibrando pois amo o que faço. Sinto falta de alguns amigos que já não frequentam mais a noite, mas tenho a oportunidade de encontra los em outros lugares. Cada fase é uma história diferente, eu não sou dessas pessoas que ficam falando, ahhh na época tal era isso ou aquilo … tive a oportunidade de trabalhar em casas que foram muito importantes para a cultura e desenvolvimento da nossa cena, mas estou sempre pronto para encarar novos desafios.

Renato Cohen – Tinha uma certa inocência e cumplicidade em tudo que acontecia no começo, para mim era um tipo de mágica. A cena era tão pequena que quando você ouvia um beat eletrônico vindo do carro ao lado, ou via alguém de cabelo colorido, era como se fizessem parte de um clube secreto que ninguém mais entendia.


Music Non Stop – O Brasil está bem de cena eletrônica se a gente comparar com outros países desenvolvidos nessa área?

Noise – Sim, o Brasil está muito bem com sua cena eletrônica. Nunca tivemos tantos festivais, festas e clubes com tanta qualidade e bem organizados.

Mau Mau – Acho que o Brasil está na melhor fase, são tantas festas legais, festivais, clubs e bares. Talvez a principal transformação nos últimos anos tenha sido na área de produção musical, os brasileiros conquistaram os melhores selos por todo o mundo, estão nas primeiras posições de sites especializados em música, o intercâmbio cultural está cada vez maior. Acho que nunca toquei tanta produção nacional com qualidade como agora, a cada dia recebo muitos promos, tem semana que nem consigo ouvir tudo.

Renato Cohen – Acho que nunca esteve nem vai estar. Eu não diria que cena boa são algumas festas e festivais lotados. Um circuito musical sadio deveria dar espaço para gente nova, criação nova, aprofundamento do que já existe, interesse da mídia e, claro, interesse real das pessoas. As pessoas que eu vejo fazendo isso direito são movidas praticamente apenas por amor e precisam enfrentar tanta bobagem para um progresso tao pequeno.

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