Tik Tok foto: reprodução youtube

O próximo hit mundial já está viralizando no Tik Tok, a rede social que está virando a música pop de ponta-cabeça

Jota Wagner
Por Jota Wagner

O fenômeno dos vídeos curtos com a possibilidade de interação do público, cujo caso mais célebre é o da plataforma social Tik Tok, virou de ponta cabeça a forma de se promover música. É lá que o futuro hit mundial está sendo gerado.

Não faz muito tempo que o usuário de internet, massivamente dominada pela conexão através do smartfone, declarou seu amor aos vídeos curtos. Stories já são parte da nossa vida e antenas das empresas de tecnologia identificaram esta paixão rapidamente. De uma hora para outra, todas as redes lhe davam a oportunidade de gravar seus mini vídeos.

Vídeos curtos são o novo preto (faz tempo).

A guinada seguinte foi a de permitir o máximo possível de interação. Transformar o usuário em um diretor de cinema com a capacidade de inverter, editar, dublar e cortar foi a chave para sugar toda uma geração para a tela do celular. Com o domínio de mercado de uma plataforma específica que virou a febre do momento, eis que batizamos o momento de “fenômeno Tik Tok”.

O aplicativo que entrega ao usuário uma possibilidade de edição enorme para os padrões de seus concorrentes é usado pela grande maioria dos adolescentes e já começa a abraçar outras faixas etárias. “O crescimento do Tik Tok é massivo. A empresa não divulga os números, mas já passa de dezenas de milhões de usuários. A percepção de que o Tik Tok é uma plataforma de adolescentes vem diminuindo. A pandemia fez com que as gerações mais velhas começasse a se interessar pela plataforma, principalmente em interações com a própria família, um conteúdo que teve um enorme crescimento pós Covid” – nos conta Gian Martinez, com quem o Music Non Stop conversou a respeito.

Gian é fundador da Winnin, uma empresa que estuda através de um software com inteligência artificial o consumo de vídeos em diversas plataformas para auxiliar as decisões dos departamentos de marketing de grandes empresas, entre elas grupos de comunicação e gravadoras. “Por enquanto, ainda não vemos o Youtube, o Facebook ou o Instagram perdendo audiência para o Tik Tok. Eles estão crescendo. A verdade é que as pessoas estão gastando mais tempo assistindo vídeo online em todas as suas plataformas” conta Gian quando perguntamos “de onde é que está vindo todo este exército de gente que hoje consome a rede de vídeos. “Inclusive, uma música que viraliza no Tik Tok acaba gerando picos de audiência no Youtube ou no Spotify, pois as pessoas vão atrás da música que foi usada no trend”.

Tik Tok

Aldair Playboy. Carreira alavancada no Tik Tok – foto: divulgação

A nova coreografia do sucesso musical

É no mundo da música que o Tik Tok mexeu com mais energia. Afinal, a plataforma tem sido responsáveis pela maioria das canções que estão na lista das mais tocadas do Spotify. A ponto de, segundo relatório da Winnin, ter sido responsável pelo sucesso de sete faixas das 10 mais tocadas na plataforma ao nível nacional.

O roteiro é claro. Uma brincadeira, coreografia, paródia ou desafio aparece no Tik Tok, ganha o gosto dos usuários e viraliza, momento em que milhares de “tiktokers” utilizam o mesmo som para publicar suas versões pessoais do vídeo. A atenção gerada transcende a plataforma e gera atenção no cotidiano, gerando pesquisas e audições sobre a obra em áudio ou vídeo em outros lugares. Isso pode acontecer com músicas de artistas totalmente desconhecidos e independentes quanto hits esquecidos que a vovó ouvia, como o caso da faixa Dreams, do Fleetwood Mac.

Nathan Apodaca postou um vídeo na plataforma filmando em modo selfie enquanto andava de skate numa relax, numa tranquila, numa boa… bebendo suco.  A música de fundo era Dreams, de 1977.  Milhões de outros usuários de todo o mundo, incluindo celebridades e até lideres políticos, copiaram e postaram o vídeo de Nathan e usando a mesma música como trilha sonora.  Resultado: a faixa totalmente desconhecida das novas gerações foi alçada novamente ao topo da Billboard.

O novo jeito de alcançar a atenção de milhões de pessoas tem alavancado a carreira de vários artistas populares em início de carreira, a ponto de gravadoras e produtores monitorarem a rede atrás do próximo grande hit. Além disso, os próprios artistas têm ficado de olho nesta tendência. Compositores de alguns gêneros que mais estão conectados com o público da plataforma, caso do funk brasileiro, estão atentos a esta nova linguagem a ponto de pensar a composição da música mirando um trend. Além do Funk,  o K-Pop, Hip-Hop, os ritmos latinos e o Pop figuram entre os principais estilos musicais com potencial de viralizar.

Um grande exemplo do angu metalinguístico que os novos hábitos de consumo das massas colocou em nossa mesa é o caso da cantora Angel. A música “Eu Nunca, Eu Já” foi composta descaradamente para o Tik Tok , a ponto de já ser entregue com o desafio pronto. Nela, perguntas sobre aventuras pregressas são feitas enquanto o usuário pula de um lado pro outro para responder se já fez o mesmo ou não.  No vídeo, a impressão é de algo similar ao velho jogo do morto vivo, apimentado pelas perguntas de rolê.

@angeloficial_

Desafia tua amiga e me marca! #eununca #eununcabregafunk #eununcacommusica #eununcacarnaval #foryou #tiktok #eununcaangel #eununcachallenge

♬ Eu Nunca, Eu Já – Angel

As novas gerações, à vontade com esta nova forma de consumir música, começam a criar entretenimento já pensando no fim, hábito que os artistas que se formaram em outro momento tem mais dificuldade de compreender. Trazer o engajamento das pessoas para trabalhar gratuitamente em prol do artista (ou entretenedor, ou criador de conteúdo, chame como quiser) é o novo atalho encontrado em meio à complexa selva algorítmica dominada por regras não humanas, às quais todos os aplicativos sociais respondem hoje em dia.

A garotada já se ligou também no quanto o protagonismo da performance tem sido tirado da mão do artista e entregue a um público, que em vários casos, nem é seu fã. Um nivelamento antes impensável para a estrela que sozinha perambulava em um gigantesco palco de arena iluminado.  Como isso vai se refletir nos shows, no mercado da música e até mesmo na forma de compor música ninguém sabe ainda. Aos céticos basta lembrar que há setenta anos as emissoras de rádio e as fábricas de vinil determinaram que música, para ser hit, deveria a partir de então ter 3 minutos de duração.

Tiktokem-se.

 

 

 

 

 

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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