Entre idas e vindas, projeto do norueguês Erlend Øye toca na Audio ao final de outubro
O norueguês Erlend Øye recebeu uma péssima e uma ótima notícia, quase ao mesmo tempo. Em 2019, seu duo Kings of Convenience estava bem devagar, com o artista declarando à imprensa que estava meio sem energia para ele. A alternativa buscada por dez entre dez músicos com a criatividade bloqueada é lançar mão de algum projeto paralelo, se valendo daquela produtiva mudança de ares, amigos e estúdios. E justamente no ano em que sua banda principal estava em período de seca artística, ele tinha uma tremenda carta na manga: retomar o ótimo The Whitest Boy Alive, parado desde 2014.
Formado em 2003, na Alemanha, o grupo começou como um duo eletrônico, e posteriormente se transformou em uma banda formada por Erlend Øye, Marcin Öz, Sebastian Maschat e Daniel Nentwig. Em 2014, o TWBA surpreendeu seu público quando anunciou, via Facebook, que não iria mais compor ou fazer shows. O grupo havia lançado dois ótimos álbuns, Dreams (2006) e Rules (2009), mesclando funk, jazz, música eletrônica e rock alternativo, na linha de nomes como Cake ou Vulfpeck. Delicinha para ouvir e dançar.
O bode com o projeto paralelo repentinamente desapareceu, no entanto, quando Øye viu sua critividade encaixotada no Kings of Convenience. Ligou para os antigos companheiros, retomou The Whitest Boy Alive em 2019 e marcou a volta do grupo aos palcos com o single Serious, gravado e mixado em Buenos Aires, e lançado em 2020.
Tudo estava dando certo: novos shows, energia renovada e convite para um baita festival mexicano, o Vaivén, que aconteceria em 28 de março de 2020, e a banda tocaria ao lado dos colegas Foster The People, Cut Copy e Hercules and Love Afair. Viajaram felizes até a cidade costeira de Baja California, ensaiando e esperando pelo show. Mas eis que chega a pandemia da covid-19.
A situação foi tensa e nebulosa, como tantas outras envolvendo eventos cancelados no começo da pandemia e seu respectivo lockdown. A organização decidiu que o evento não aconteceria, mas a banda já estava no país. Pior, os músicos não poderiam voar para casa, uma vez que ninguém sabia ainda como proceder com aquela surpreendente doença que causou tanto dano aos habitantes do planeta. Produtor da banda e festival negociaram 20 dias de reclusão no Hotel El Ganzo, pagos pelo Vaivén.
Poxa vida… bem na hora em que tudo começa a dar certo para o Whitest Boy Alive, uma epidemia mundial acaba com a turnê da banda, e ainda os mantém encarcerados em um quarto de hotel em outro continente. A pior notícia de sua vida? Não. O Ganzo é famoso no mundo por abrigar em seu subsolo um estúdio completo de gravação. Não havia desculpa, portanto, para não aproveitar o momento tenso para criar e gravar novas músicas. Foi o que Sebastian Maschat e Erlend Øye fizeram (os dois outros membros ainda estavam em casa quando o lockdown foi decretado), afundando-se em horas e horas grátis de estúdio disponível. Ao final dos 15 dias de reclusão, tinham um álbum pronto, o excelente Quarantine at El Ganzo.
Como apenas metade do TWBA participou da criação do disco, a obra acabou sendo lançada como um trabalho solo de Maschat e Øye. Musicalmente, soa como o terceiro disco da banda, uma vez que seus principais compositores estavam ali, reunidos no porão de um hotel mexicano. As músicas são tocadas normalmente nos shows do grupo, sem mágoas, e quem estiver em São Paulo em outubro poderá ouvi-las. Trazido pela Balaclava em parceria com a Heavy Love, o Whitest Boy Alive toca na Audio em 30 de outubro, e os ingressos já podem ser adquiridos.