The Great Brazilian Disaster – Conheça a incrível história do club que trouxe a acid house ao Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

UPDATE: Após a publicação do texto nessa manhã, recebemos a informação de que o Marcão (Marcos Moyses, criador do The Great, resolveu voltar pra casa no intervalo de tempo em que conversamos com ele e publicamos esta matéria. Deixou nosso planeta para cuidar da felicidade de quem estiver por perto em outras paragens. Que fique registrado nosso orgulho e honra por ter resgatado esta história, que agora fica para sempre. Obrigado Marcão!

O verão do amor em Belo Horizonte

Outubro de 1.988, por volta de 1 da manhã. Calçadas (e uma parte da rua) lotadas na frente do pequeno club já cheio, carinhosamente chamado pelas pessoas The Great. Pelas vidraças da frente, protegidas por uma espécie de grade, dá para perceber que lá dentro o fervo está delicioso, o que só aumentava o desejo de ser escolhido pela hostess para entrar no paraíso, o que geralmente acontecia (quando acontecia) depois de algumas horas ali na frente, fumando e conversando com os amigos. Gente grita, chama, conta o sobrenome importante, se oferece para pagar, mas nada funciona com a hostess, uma loira alta, imponente, cercada por quatro seguranças.  Também dava para ouvir de fora um pouco do som que Anthony, DJ conhecido como Dr. Acid, mandava de lá de dentro. Uma mistura de house de Chicago com baixos BPMs entre algumas faixas de rock dançante e obscura que tinham a ver com a vibe. Era o deslumbre inconsequente do segundo verão do amor na crista de sua onda lisérgica e hedonista.  

O interior do lendário The Great Brazilian Disaster, já empacotado de gente.

Entre os escolhidos para entrar na festa, gente de todos os tipos que tinham uma conexão com a vibração que acontecia lá dentro. Pessoal que trabalhava com moda, ou simplesmente os bem montados, malucos de todos os cantos e todas as idades, gays, héteros, figuras da noite… aquela mistura infalível de uma noite que geralmente entra para a história. Pelo menos a história da vida de quem estava lá.  

Antes da era da internet, estar atualizado com Londres e Nova Iorque é digno de um Nobel.

Repito: 1.988. Poderíamos estar contando sobre o Shoon ou o Spectrum, em Londres… ou o Nell´s ou Tunnel, em Nova Iorque. O ano em que a Inglaterra testemunhava a maior onda jovem desde o Punk rock, a Acid House. Mas o grande e inacreditável lance é que estamos falando sobre o The Great Brazilian Disaster, de Belo Horizonte, uma joia perdida que vira, a partir de agora, de ponta cabeça a história da cultura dance brasileira.

Até o que se sabia, o Hell´s Club havia sido o ponto de virada da cultura dance brasileira em 1.994, reunindo no mesmo ambiente música, pessoas e atmosfera idênticas ao que acontecia nas capitais mais hypadas do planeta. Até então, o que se via eram fragmentos da cultura acid chegando em casas brasileiras, em vários momentos muito distorcida ou simplesmente diluída. Nas lojas de discos daqui, viam-se lançamentos com músicas de diversos gêneros diferentes incluídas em coletâneas usando o nome (e o onipresente smiley) Acid House. DJs tocavam faixas algumas faixas de Chicago no meio dos seus sets e, por volta de 1.992, algumas casas noturnas abriram uma de suas noites para a salada mista que era chamada de House Music na época. O público de então era formado pela garotada que acompanhava os grandes bailes desde sempre, atrás de seus DJs preferidos e inventando um português para as suas “melôs”.

O povo da moda adotou o The Great como o ponto de encontro da turma

O oposto disso eram os clubs alternativos, dedicados ao post punk, industrial, EBM e New Wave, caso do Rose Bom Bom em São Paulo e o Crepúsculo de Cubatão no Rio. Em algum momento, mesmo estes picos abriram algum espaço para a tal house music. Em 1.994, junto com o Hell´s chegaram em São Paulo as primeiras raves, importando enfim o pacote completo da estética acid house. As roupas coloridas, o som das TBs gritando, a cultura do ecstasy e a dança do frango epilético. Tudo junto, na mesma festa, e muito parecido com que o que aconteceu lá fora pela primeira vez no Brasil. Só que não.

Seis anos antes, de forma completamente simultânea com a febre house americana e a hecatombe cultural transgressora que tomou conta de Ibiza e Inglaterra, uma turma de amigos viajados, antenados e muito corajosos montou em Belo Horizonte, mais precisamente na Av. Getulio Vargas, na Savassi, o The Great Brazilian Disaster. Vamos combinar: já de cara o melhor nome de club que se tem notícia na história do mundo.  

O grande desastre brasileiro

“Estávamos na era Collor. A economia estava um caos. Todo mundo ferrado. O Brasil estava um verdadeiro desastre. Então o Marcão virou e falou. Taí! Vamos chamar o club de The Great Brazilian Disaster!!” conta Junior, então um cabeludinho carismático, divertido e baita contador de histórias. Foi testemunha ocular da gênese, do acender da lâmpada do projeto e desde então assumiu a função de gerente da coisa toda. Marcão era o empresário Marcos Moyses.  Na roda de amigos que concebeu o “The Great” estava também o inglês Anthony, que havia chegado alguns anos antes a Belo Horizonte. “Eu tinha uma banda na Inglaterra, DTW e costumávamos dar nomes assim para nossas tours, algo como ‘The Great DTW Catastrofe Gig!’. Então sugeri o The Great Brazilian Disaster para combinar com o momento do país”.

Junior trabalhava com TV antes da grande aventura. Era produtor musical do programa Discotape, na antiga TV Itacolomi. Um dia, andando a pé pela cidade ouviu um som diferente saindo do bar Estricnina. “Adorei o som, entrei no bar, me apresentei para o Anthony e ficamos amigos na hora. Dalí começamos a andar juntos”. Pouco tempos depois, ambos estavam frequentando as festas que o empresário Marcos Relli, o Marcão, dava em seu apartamento.  

“Eu frequentava a Savassi e conhecia a galera de lá. Fazia shows com o enteado do Marcão lá e foi ali que eu o conheci. O Marcão era um cara muito bacana, muito in. Da onda mesmo, doidão. Um cara diferente, muito alto. De óculos escuros sempre, de dia, de noite… Ele tinha uma loja de sapatos na Getúlio Vargas que não estava indo muito bem” – conta Junior – “um dia ele me falou: JR, vou montar uma casa ali, vamos fazer uns shows de rock e você vai me ajudar nisso”.

Ao fundo Marcão, o Bill Murray mineiro e sua turma

Na época, Marcão transitava entre o povo da moda. Dentre eles o incendiário Grupo Mineiro de Moda, associação que reunia marcas e estilistas e colocou Belo Horizonte na vanguarda fashion brasileira nos anos 80. A turma, na época, se dividia entre o café Ideal e as festas no apartamento do Marcão.  No meio da rapaziada estava a modelo Giselle França, recém chegada de uma temporada em Nova Iorque, namorada do Marcão e apaixonada por clubs. “Eu adorava sair. Havia chegado de Nova Iorque e gostava de sair para dançar. O Marcão preferia as reuniões com amigos que ele fazia. Para juntar uma coisa à outra, decidiu abrir um club no mesmo salão onde funcionava sua antiga loja e duas quadras de casa. Assim ele curtia seus amigos e eu a festa!” – conta Giselle, a icônica hostess do club.  

O imóvel tinha duas frentes,  a entrada era na Av. Getulio Vargas e a saída do The Great na rua de trás, a Tomé de Souza. “Você entrava e tinha um degrau e a pista era embaixo, no nível da outra rua. Era um fervo. O lugar era pequeno, escuro, acid house bombando. Bizarro.  Tinha todo tipo de gente. Andróginos, gays, celebridades, todo mundo ia. Era um lugar muito doido!” Conta o DJ Carlos Kroif.

“Eu entrei no The Great uma vez e nunca vou esquecer. Paredes cinzas, o DJ fica do lado de uma das saídas. O DJ fazia loops num delays, usava microfone e tocava uns acids muito lentos, muito bons e pesados. Até hoje queria saber como é que ele conseguia aqueles discos! Os caras estavam muito à frente do seu tempo” – conta o DJ Filipe Forattini, então um garoto que ficava do outro lado rua sacando o movimento da casa. As referências ajudaram “Filoops” se tornasse um importante DJ de house underground em BH anos depois.

Aciiiiiiieeeeeeeeed

“O lugar era todo fechado com grades, o Dj ficava numa jaula! As pinturas do club foram feitas pelo Vignoli, ainda desconhecido”, descreve Giselle citando Fernando Vignoli, importante artista plástico e performático mineiro influenciado pela pop art e o surrealismo e falecido em 2016, grafitou as paredes do The Great, que contava com outros “charmes” na decoração como manequins que sobraram da antiga loja de sapatos pendurados no teto.

O artista plástico Fernando Vignoli

Giselle França, hoje em Florianópolis, foi um dos pilares que fizeram o The Great Brazilian Disaster ficar marcado a ferro no coração dos festeiros da época. Ela foi a hostess e comandava uma door policy digna de dar inveja ao Bergain. Liliane Dutra, assídua frequentadora do The Great e depois parte da turma que fundou a Guilden, outro club importante na história da noite mineira, conta:  “uma coisa inesquecível no The Great era o processo de seleção na porta.  A Giselle ficava na porta e escolhia quem entrava no lugar, mas não era quem era o mais descolado, a roupa mais legal… ela tinha um critério muito interessante. Uma vez que você entrasse lá e se inserisse no lugar, conhecesse as pessoas que estavam lá, você sempre entrava. E as pessoas que ela escolhia eram pessoas que tinham a ver umas com as outras. Então no final das contas era muito divertido porque tinha a galera que era muito nova – na época eu tinha 21 anos – tinha a galera mais velha, que estava voltando de Londres e de Nova Iorque. Eu já tinha passado um tempo em Londres e em Berlin, antes do muro cair. Então você chegava em em Belo Horizonte e via que aquilo tudo estava acontecendo de uma maneira muito sincronizada com o resto do mundo. Em uma época em que não havia internet, a única conexão entre tudo isso era de alma!”

“Pra você entrar, você tinha de ser escolhido” – conta Samantha Miranda – “ficava uma door e escolhia quem ela queria que entrasse ou não.  Na primeira vez que fui, sem conhecer muita gente,  eu já fui escolhida. Fiquei meio que longe e um segurança veio me buscar no meio da rua para que entrasse. Eu andava com o povo da moda e me vestia de uma forma bem diferente, bem irreverente. Esta coisa da porta dava um desejo. Todo mundo ficava louco para entrar. Eu recebia muitos telefonemas de gente perguntando se eu conseguia colocá-los pra dentro. Ou quando eu estava entrando o pessoal me segurava pelo braço, me pedia para colocar pra dentro. Isso dava um frisson!”.

Meu nome tá na lista!

“Eu não escolhia as pessoas por classe social. Eu queria agregar cultura e ideais. Pessoas de diferentes espécies. A galera fechava a rua toda, gritava querendo entrar. Tinha época que eu nem aparecia na porta. Tinha quatro seguranças que sofriam, pois todo mundo queria falar com a ‘loira do The Great’, se oferecendo para pagar, mandando os seguranças me dizerem quem elas eram… Pelo contrário, eu escolhia as pessoas que não se faziam prepotentes, arrogantes. Normalmente escolhia pessoas que ficavam ali quietinhas dois, três dias na frente… muitas vezes não tinham nem dinheiro pra consumir dentro do bar. Mas eu abria espaço pois elas também tinham coisas para acrescentar. E isso causava um frisson doido no pessoal  ‘do dinheiro’… porque é que eles podem entrar e eu não?”. Giselle entrega seu método de trabalho, que obviamente desagradava os bem nascidos da cidade. Se oferecer para pagar? Sem chance. O The Great Brazilian Disaster não cobrava entrada. Ou você era escolhido pela Giselle ou ficava na rua.  

Para você, leitor que está acompanhando este texto, imagine o seguinte:  alem do The Great Brazilian Disaster, a única door woman selecionando quem entrava no Brasil na época era Zoe Mello, à frente do Creações Wally, na rua Augusta em São Paulo. Isso explica um pouco do tamanho do impacto que isso causou na noite brasileira e, principalmente, na caretolândia imperial acostumada a usar seu poder econômico para ter acesso irrestrito, preferencial e geralmente exclusivo a qualquer lugar onde desejassem estar.

A hostess Giselle França, um os pilares do The Great

“Em quase todos os finais de semana, aparecia uma viatura na frente do The Great por causa de denúncias de ‘discriminação’. Eu entrava na viatura, ia até a delegacia para explicar ao delegado o que era um door policy. O delegado era sempre o mesmo… então chegou uma hora que já éramos praticamente amigos!”, conta Giselle.

Os elementos que fizeram do The Great Brazilian Disaster uma poção mágica de modernidade foram adicionados ao caldeirão ao mesmo tempo e na dose certa: Uma salão muito bem localizado, porem diferente de tudo o que já se tinha visto (uma loja que ficou com cara de reforma inacabada), um dono popular, festeiro, insider e já amante de uma boa reunião de amigos, uma modelo linda vinda de Nova Iorque com olho clínico para um bom público de festa como hostess, um gerente carismático, completamente inserido na geleia geral e um DJ gringo discotecando sons que estavam simultaneamente rolando nos clubs mais disputados de NY e Londres em um sound system overdosado. Tudo isso para poucos, afinal a lotação do The Great era aproximadamente cem pessoas.  Segundo Lili, “o club durou pouco, mas o que fez foi histórico. Foi referência para a formação de muitos lugares que depois abriram em BH. E poucas pessoas frequentaram o The Great, porque era pequeno e tinha a door policy da Giselle. Morei depois em Londres no final dos anos 90 e vi muitos clubs disputadíssimos que eram a cara do The Great, a entrada, a fila, o bochicho na porta…  em BH a gente ficava na porta horas para conseguir entrar, fumando, e quando entrava só saía depois de amanhecer”.

Ricardo Junior, o JR

A história de como a coleção musical do The Great foi descolada, contada pela Giselle, mostra que o Marcão não estava para brincadeira quando resolveu abrir seu club:  “Fomos pra Nova Iorque para comprar os discos do acervo do The Great. Alugamos uma limousine branca e saimos pela cidade só para comprar vinis”.

Reflita: uma quantidade enorme de discos de house de Nova Iorque e Chicago na mão de um roqueiro inglês…  Tenho certeza que você já viu esta fórmula em algum lugar (principalmente se leu nosso artigão sobre a história da house music).  Junior emenda: “A gente gostava de rock. Tanto é que a ideia inicial era colocar bandas para tocar. Um dia porem o Marcão viajou para os Estados Unidos, voltou e, disse: ‘JR eu conheci um som muito louco lá cara’ e trouxe um tanto de disco. Eu perguntei, ‘o que é isso, Marcos’? E ele me falou que era um som, uma batida chamada ‘acid music!!’. Era um troço muito doido, um bum bum bum, um negócio muito louco!!”.  

Marcão avisou JR que queria um som muito bom e muito alto. Junior e Anthony piraram com a nova música e a ideia dos shows ao vivo foi deixada de lado. Apesar de estar envolvido na concepção do club, Dr. Acid não foi quem inaugurou a casa. O primeiro DJ residente do The Great Brazilian Disaster foi um californiano que assinava como DJ Johnny. Segundo Junior, “um cara muito andrógino, legal, deve morar ainda em Belo Horizonte. Depois ele se desentendeu com o Marcos e a gente falou, Tony, você vai ser o DJ. E o Tony (Dr. Acid) começou a fazer umas coisas muito loucas… ele ligava uns pedais, uns delays muito loucos e ficava falando no microfone… coisas como The Great Brazilian Disaaaaaster. Ficou muito legal. Quem entrava lá ficava pulando que nem um soquete. O som era impactante e muito alto!”. Anthony, ou Tony, ou Dr. Acid, como preferir, tinha um day job na extinta gravadora Styletto e usava seus contatos para conseguir mais discos vindos de fora.

Dr. Acid e sua parafernália na cabine

Completando a vibração acid house que imperou no pouco mais de um ano de vida da The Great estava a chapação lisérgica, também simultânea com Nova Iorque, Londres, Ibiza e muito, muito à frente do seu tempo quando falamos de Brasil. Grande parte das pessoas com quem falei, ao relembrar momentos e noites no The Great entregam aquele melancolia apaixonada de quem expandiu a consciência com as mãos para o alto, os olhinhos fechados, o quadril em sincopada rebolação e o pé enfiado na jaca, naquele espaço tempo onde se constroem instantâneas amizades infinitas à base de conexões cósmicas em comum… e muitas juras de amor. A inebriante onda das melhores noites de nossas vidas está lá, quase unânime, nos depoimentos.

the man, the legend, the myth

Toda boa festa tem começo, meio, fim e ressaca. A do The Great Brazilian Disaster durou um ano e três meses. A casa nasceu, concentrou energia alucinante, ascendeu meteoricamente e explodiu numa chuva cintilante que caiu por Belo Horizonte, banhando a cidade com um conceito musical, estético e revolucionário que influenciou tudo o que seria feito desde então. “Depois virou moda alugar salões em reformas para fazer festa, meio que tentando reproduzir aquela identidade do The Great”, conta Filipe Forattini.  Lili Dutra completa: “Dá pra se dizer que a Guilden nasceu dentro da The Great, da ideia inovadora da Giselle e do Marcão em fazer algo como aquilo em Belo Horizonte”. Para o DJ Leo Mille, então um garoto que almejava ser DJ e tocou seus primeiros discos na Guilden,  “sem dúvida foi um club que mudou muita coisa em Belo Horizonte. Eu ficava na porta tentando escutar o que tocava. O club caiu como uma bomba na minha cabeça.”  

É para ser divertido.

O fato de nenhum dos envolvidos na alta diretoria do The Great ter qualquer ambição profissional na indústria de entretenimento certamente foi o principal motivo da curta vida da casa. “Ninguém estava ali para ganhar dinheiro. O povo queria era se divertir!”, segundo Junior. E foi então que, logo ao fim do primeiro ano de vida do club, aspectos pouco ‘divertidos’ começaram a tomar conta do dia a dia da administração da casa. Giselle e Marcão terminaram seu relacionamento, dando fim ao que foi a motivação principal da abertura do The Great: juntar um casal muito querido a um grupo de amigos e agregados. Não é preciso ser um gênio para supor que o tal grupo de amigos também deixou o club junto com a separação. Além disso, a casa sofreu um processo de um integrante da alta sociedade Belo-Horizontina que se sentiu discriminado por não ter conseguido entrar na casa, tadinho.  Marcão começou a aparecer cada vez menos e lidar com tais B.O.s certamente não valiam a pena para um club tão pequeno a um cara com uma vivência e uma aura tão grandes como a dele. No começo de 1.990, as chaves do salão foram devolvidas e o The Great se mudava para o outro lugar: a galeria dos históricos dance clubs brasileiros com a coroa de “o primeiro acid house club do Brasil”.

o sempre descolado Fernando Gabeira, lançou o Partido Verde em Minas em festa no The Great

O sonho acabou, como sempre acaba. Assim como um final épico de filme de faroeste, os quatro companheiros partiram da Getúlio Vargas caminhando, cada qual para uma ponta diferente da rosa dos ventos. Giselle se mudou de BH, Junior voltou a trabalhar com TV e Dr. Acid nunca mais discotecou acid house, dedicando-se a apresentações de rock (hoje ele é Tony Red). Já Marcão, com o fim do club, se tornou uma espécie personagem folclórico, mitológico, do underground mineiro. “Uns diziam que havia morrido, outros que foi preso, outros que havia indo embora do Brasil” conta Filipe. “Eu sabia que ele havia morrido, até que cruzei com ele na Savassi”, completa Samantha. Mas a real é que Marcão continua bem vivo e se dedica a cultivar seu equilíbrio espiritual cuidando da comunidade Flor de Jagube. A disposição para falar do clube continua rala, o que certamente contribuiu muito para que o The Great quase sumisse da história da humanidade festeira. Conversei com ele, que me pediu para falar com os outros envolvidos no projeto primeiro, como o Anthony e o Junior. Caso alguma informação ainda faltasse, eu poderia procurá-lo. Mesmo com a história praticamente toda coberta, do começo ao fim, adoraria ouvi-lo contar sua versão do causo. Voltei a contatá-lo através do seu perfil no Facebook mas não rolou, pelo menos por enquanto.  

Já em relação aos demais a história foi outra. O brilho voltou com a nostalgia e a Giselle, Anthony e Junior me contaram “o que lembravam” com uma empolgação tão grande quanto a minha, que ouvia a tudo maravilhado. Até ideia de festa de reunião do pessoal rolou, no meio das entrevistas.  Frequentadores e DJs também colaboraram, ajudando a reconstruir uma história incrível que, aos 45 do segundo tempo, foi salva!

Em uma palavra: aciiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeed!!!!!!!!!!!

 

* Deixo aqui um agradecimento especial aos três que mais colaboraram para reviver esta história: Ricardo Junior (o JR , herdeiro de um gigantesco acerto de fotos e, pasmem, dos DISCOS do club), Giselle França e o Dj Filipe Forattini.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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