robert smith, do the cure Robert Smith, do The Cure – foto: divulgação

The Cure deixa as sombras para realizar desejos: álbum novo e pacote de aniversário de “Wish”

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

“Songs Of a Lost World” deve desembarcar no fim de setembro. Edição de 30 anos de “Wish” chega em outubro, com nova turnê

Entre 1979 e 1996, o The Cure trouxe. à (meia) luz. dez álbuns de estúdio e uma respeitável coleção – vamos colocar assim – de ‘hits inesperados’ para um grupo de ingleses simpatizantes do movimento gótico e pós-punk – e que nunca desejou ser dos mais ensolarados.

Aliás, é preciso dizer, a intenção original do The Cure era trilhar um caminho oposto ao pop comercial. A resposta do público, por sua vez, colocou a banda em um patamar acima das expectativas e dos planos, graças ao apelo popular de gemas radiofônicas como “Boys Don’t Cry”, “In Between Days”, “Close To Me”, “Pictures Of You” e “Friday I’m In Love”.

Após mais de 15 anos de alta rotatividade, o ritmo de trabalho de Robert Smith e seus associados da sombria fábrica musical do The Cure sofreu a típica e natural desaceleração que afeta a maior parte de bandas com décadas de estrada (hoje o combo formado em Crawley, West Sussex é composto por Smith [vocal, guitarra], Simon Gallup [contrabaixo], Roger O’Donnell [teclados], Jason Cooper [bateria] e Reeves Gabreis [guitarra]).

O resultado da pisada no freio produtivo do The Cure fica escancarado na data de lançamento de seu mais recente disco de inéditas. A última vez que um discípulo da banda pôde adquirir um CD ou vinil recheado de composições novinhas foi perto do Halloween de 2008.

Aparentemente, a espera pelo sucessor do emblemático 13º álbum do The Cure deve terminar ainda este ano, quando Songs Of a Lost World finalmente ser iluminado pelos nublados dias ingleses, em setembro.

Outro sinal de que a banda está preparada para voltar ao ritmo dos anos 1980-1990 é a confirmação de uma nova turnê para outubro e o relançamento da edição de 30 anos de Wish, o álbum que trouxe o megahit “Friday I’m In Love” em 1992.

The Cure abre o jogo sobre “Songs Of A Lost World”

A mais recente atualização sobre o projeto do sucessor de 4:13 Dream foi dada por Robert Smith em entrevista ao New Musical Express em meados de maio.

Sim, nós vamos lançar um novo álbum. Na verdade, estou de saco cheio de anunciar isso (risos). Vamos sair em turnê a partir de outubro e o novo disco vai chegar antes dos shows”, prometeu o mentor do The Cure em sua indefectível e icônica combinação visual que remete aos personagens Sandman e Edward Mãos de Tesoura.

Ao contrário das pistas espalhadas pelo próprio Robert Smith ao longo dos anos de árdua espera para os fãs, Songs Of A Lost World não será um álbum duplo, embora a abundância de material criado no intervalo de 14 anos permita mais extravagâncias.

Essencialmente, será um álbum de 12 faixas”, anuncia Smith. “No momento (entre 18 e 19 de maio – nota do autor), o disco está bem perto de ser finalizado. Mixamos a metade das músicas. O trabalho meio que evoluiu nos últimos dois anos. E garanto: não é uma coisa positiva trabalhar sem deadline”, reflete Smith, que além de liderar o The Cure, se orgulha de já ter assumido a guitarra do Siouxie and the Banshees.

Acredito que a espera será válida”, reflete o vocalista. “É o melhor álbum que já fizemos. Ah, e digo isso não como os caras do Oasis, que sempre falavam – hey, será ‘a porra do melhor álbum do caralho do mundo’... Na verdade, muitas das novas faixas são complicadas para cantar, e por isso ocupou bastante o meu tempo”, completa Smith, que comparou o material de Songs Of A Lost World com o clássico Disintegration, de 1989.

As novas músicas soam implacáveis – o que deve atrair mais a nossa base hardcore de ouvintes. Não acredito que a gente consiga emplacar nenhum single no topo das paradas desta vez”, brinca Smith, informando que, desde 2019, o grupo tem se esforçado para terminar dois álbuns ao mesmo tempo – algo que ele próprio acredita ser impossível.

A complexa gestação do disco número 14 do The Cure

Em julho de 2019 – portanto, oito meses antes de os lockdowns interromperem turnês e cancelarem projetos artísticos por conta da pandemia de covid-19 – o The Cure já alertava sobre o estágio de produção do sucessor de 4:13 Dream. Logo após comandar o The Cure no solo sagrado de Glastonbury, Robert Smith decidiu mostrar mais suas cartas, revelando o que estava por vir, quem sabe, ainda naquele ano.

Está se transformando (o álbum). É um trabalho-em-progresso”, descreveu Smith ao NME. “Ficamos três semanas no Rockfield Studios, em Gales, à espera de capturar um ambiente sombrio. Acredite. Fez sol todos os dias enquanto estivemos lá. Só choveu um dia – o que deve ser um recorde para o país”, brincou o compositor-chefe do grupo.

Gravamos cerca de 17 músicas – a maior parte das composições é lenta e pesada. Há também algumas mais animadas… Sei que não deveria dizer isso, porque na minha cabeça vem a ideia de que eu deveria fazer dois álbuns. Se isso acontecer, um seria mais sombrio e pesado, e o outro mais otimista”, confidenciou Smith.

As letras que tenho composto são mais reais. Mais honestas. Talvez por isso o álbum soe mais sombrio. Eu quero que as pessoas tenham ideia do que eu passei nos últimos anos, mas que de uma forma isso uma as pessoas”, descreveu.

A descrição do material em produção seria elucidada em uma nova entrevista concedida por Robert Smith ao New Musical Express em 28 de agosto, quando o disco ainda se chamava Live From The Moon.

“Antes eu costumava escrever sobre coisas que eu achava que entendia”, reflete Smith. “Agora eu sei que entendo… Está muito no lado mais escuro do espectro. Perdi minha mãe, meu pai e meu irmão recentemente, e obviamente isso me afetou. Não é totalmente desgraça e melancolia. Tem paisagens sonoras, como Disintegration, suponho.

 “Seu título provisório é ‘Live From the Moon’, porque fiquei encantado com o 50º aniversário do pouso da Apollo. Tínhamos uma grande lua pendurada no estúdio e coisas relacionadas à lua espalhadas por aí. Eu sempre fui um observador de estrelas”, filosofou o líder do The Cure, que ainda apostava em 2019 como o ano de lançamento de seu “filho” ainda em gestação.

Mais tarde, em outubro, Robert Smith voltou a se manifestar sobre o futuro do The Cure, dando esperanças para três – e somente não dois – álbuns em produção.

Sendo sincero, tenho preparado três álbuns”, informou Smith ao New Musical Express. “O primeiro será o que deve chegar às lojas em breve. Acredito que perto do Natal. Ele se chama Live From The Moon, mas isso deve mudar”, profetizou.

O tempo passou – assim como o Natal de 2019 – mas o aguardado 14º disco de inéditas não veio. Em entrevista concedida em 2021, Rober Smith confessou ter quase abandonado o projeto original pela dificuldade em completar as letras.

Cheguei ao ponto de lançar apenas faixas instrumentais. Mas retomei as canções neste ano e gostei das letras que havia escrito”, admitiu Smith, agora mais confiante de que Songs Of A Lost World não se perderá em promessas.

“Wish”: vem aí o pacote de aniversário de 30 anos

Para marcar o aniversário de três décadas de Wish, o The Cure aproveitou o clima produtivo vivido dentro do estúdio para anunciar uma edição comemorativa com 24 faixas extras, sendo a maior parte delas composta por demos e versões das músicas incluídas no disco original de 1992.

Confira o conteúdo no formato em CD triplo:

CD1 – Faixas remasterizadas em Abbey Road do álbum original

01: Open

02: High

03: Apart (6:38)

04: From The Edge of The Green Sea

05: Wendy Time

06: Doing The Unstuck

07: Friday I’m In Love

08: Trust

09: A Letter To Elise

10: Cut

11: To Wish Impossible Things

12: End

 

CD2 Demos

1: The Big Hand [1990 Demo]

2: Cut [1990 Demo] aka “Away“ (3:31)

3: A Letter To Elise [1990 Demo]

4: Wendy Time [1990 Demo]

5: This Twilight Garden [Instrumental Demo] (

6: Scared As You [Instrumental Demo]

7: To Wish Impossible Things

8: Apart [Instrumental Demo]

9: T7 [Instrumental Demo]

10: Now Is The Time [Instrumental demo]

11: Miss van Gogh [Instrumental demo]

12: T6 [Instrumental Demo]

13: Play [Instrumental Demo]

14: A Foolish Arrangement [Instrumental Demo]

15: Halo [Instrumental Demo]

16: Trust [Instrumental Demo]

17: Abetabw [Instrumental Demo]

18: T8 [Instrumental Demo]

19: Heart Attack [Instrumental Demo]

20: Swing Change [Instrumental Demo]

21: Frogfish [Instrumental Demo]

CD3: ’Lost Wishes’ – Outtakes, remixes e inéditas

1: Uyea Sound [Dim-D Mix] [from Lost Wishes MC 1993]

2: Cloudberry [Dim-D Mix] [from Lost Wishes MC 1993]

3: Off To Sleep… [Dim-D Mix] [from Lost Wishes MC 1993]

4: The Three Sisters [Dim-D Mix]  [from Lost Wishes MC 1993]

5: A Wendy Band [Instrumental]

6: From The Edge Of The Deep Green Sea [Partscheckruf Mix]

7: Open [Fix Mix] [B-side to High 12“]

8: High [Higher Mix] [High 12”]

9: Doing The Unstuck [Extended 12” Mix]

10: Friday I’m In Love [Strangelove Mix]  [Friday I’m In Love 12“]

11: A Letter To Elise [Blue Mix] [A Letter To Elise 12”]

12: End [Paris Live 92]

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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