Só capa da Época? Rolling Stone e Billboard tão marcando…

Teló irritou a classe média com sua “Macarena” sertaneja

Claudia Assef
Por Claudia Assef

A capa acima deixou um povo na internet com muita raiva. Gente, jura? Então um hit sertanejo besta não pode cruzar o oceano e fazer sucesso na China, na Itália ou nos Estados Unidos e cair na boca de celebridades, jogadores de futebol, soldados israelenses, que isso causa ira em cabeças pensantes aqui no Brasil?

O que deixou muita gente espumando foi a chamada da revista Época, que diz que Michel Teló “traduz os valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”. Acho que a matéria até mirou direito, mas errou o alvo. O que a tal da música “Ai, Se Eu Te Pego” faz é marcar um golaço de simplicidade musical ao atingir o inconsciente coletivo de todo mundo, isso sim.

Toda música tem sua função. E, se você pensar que existe uma enorme quantidade de compositores que se propõem a fazer música pop, pra grudar, o cara que escreveu “Ai, Se Eu Te Pego” foi mega bem sucedido na sua missão.

É o tipo da música que estaciona na sua cabeça e inexplicavelmente fica lá pra sempre, basta uma ouvida. Combina as notas musicais de forma tão eficaz que pouco importa se a letra é uma merda. Você já viu este filme, ou melhor, já ouviu músicas assim. A primeira que me vem à cabeça é a übber pentelha “Macarena”. Você pode nem saber de quem é tampouco de que país veio essa praga, mas sabe cantar, né? Sem falar na dancinha, que você também aprendeu e já deve ter feito ou visto alguém fazer com a gravata no meio da testa numa festa de casamento.

Michel Teló tirou a sorte grande – que também pode se tranformar num enorme fardo, condenando-o pro resto da vida como o cara do “Ai, Se Eu Te Pego” – e emplacou a sua “Macarena”. Aliás, a música nem é dele, foi escrita por uma banda de forró chamada Cangaia de Jegue (amei o nome do cara), e cá estamos, eu e você, pensando nesta pérola – sem brincadeira, no bom sentido mesmo – do cancioneiro popular.

Ainda que não me “represente”, a música do Michel Teló é foda. Minha filha de 2 anos ouviu uma vez e saiu cantando. E nem adianta não ter o CD em casa. Não é uma questão de ter um “ouvido para música sertaneja”. Como eu falei, é uma questão de estrutura melódica que funciona, para todos, apesar de tudo, ainda que sob a tortura de uma televisão ligada no Faustão na visita de domingo na casa dos seus pais.

Tempos atrás, no programa do Jô Soares, Tom Zé tentou defender o hit funkeiro “Tô Ficando Atoladinha”, argumentando que a música tinha um refrão “microtonal”, ou seja, construído entre os micro intervalos entre uma nota e a seguinte da escala musical.

Tom Zé explica a “genialidade” de “Atoladinha” assim: “Trata-se de um achado muito simples. Na repetição obsessiva, ‘Tô  ficando atoladinha/Tô  ficando atoladinha’, a cantora não muda diatonicamente a nota musical: num crescendo insistente, vai subindo obsessivamente quartos de tom, como a própria excitação e aquecimento do assunto requer. Ora, uma peça tão bem achada chama a atenção e põe em questão todos os refrões e toda a arte de compô-los. Portanto, quando se acusa o meu ‘Estudando a Bossa’ de ser influenciado pelo funk carioca, não se trata de uma aberração: em aspectos mais profundos e em momentos de exceção, o funk tem laivos criativos tão altos como a bossa nova”.

Não vou sair dizendo que a música do Michel Teló é microtonal, nem saberia identificar isso. Meu ponto é outro. É entender esse hit, gigante e passageiro, como outros tantos. Tem gente dando importância demais pra isso. Listei abaixo outras 10 músicas que têm o mesmo tipo de pacto com o capeta, pra fazer uma comparação do poder de hipnose:

Kaoma – Chorando Se Foi

Snap – Rhythm Is a Dancer

Latino – Festa

Los del Rio – Macarena

Las Ketchup – The Ketchup Song

Luka – Tô Nem Aí

Tarkan – Kiss Kiss

Carrapicho – Tic Tic Tac

Lou Bega – Mambo No 5

Tiririca – Florentina

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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