SXSW 2018: Max Ritcher, Sleep por Heather Kaplan

SXSW, no Texas, é o festival onde dá pra dormir (literalmente) num show e conhecer os artistas que farão sucesso amanhã. Conheça

Lalai Persson
Por Lalai Persson

O SXSW Music não é um festival comum. O line-up, por exemplo, não é o ponto decisivo que faz alguém emitir uma passagem para Austin, no Texas. O festival traz, ao contrário, uma grande oportunidade para descobrir novos talentos. A máxima “eu ouço bandas que ainda não existem” pode facilmente ser aplicada ao SXSW. O festival traz também a oportunidade de ver artistas mais consagrados em palcos menores que o habitual, mas geralmente eles só aparecem no line-up no último momento, rendendo boas surpresas e, claro, muita correria para conseguir fazer parte da plateia. Geralmente os grandes nomes são levados por marcas e não pelo festival.

SXSW 2018: NPR Showcase_Foto Aaron Rogosin

SXSW 2018: NPR Showcase_Foto Aaron Rogosin

O SXSW nasceu em 1987 focado em música, com conferências e shows. Um dos objetivos é apresentar novas bandas para o público e criar discussões sobre a indústria. Além da música, o festival abraça também as áreas de interatividade, cinema (incluindo uma bela mostra de cinema virtual), comédia e gaming, durante dez dias com uma programação intensa. Dos dez dias, música, que até então tinha cinco dias de duração até 2017, passou a ocupar sete a partir desta edição, que aconteceu entre 9 e 13 de março.

SXSW 2018: Banda ambulante na 6th Street. foto: Lalai Persson

SXSW 2018: Banda ambulante na 6th Street. foto: Lalai Persson

O festival é o destino perfeito para artistas, que buscam uma luz ao sol, promoters, produtores, bookers, desenvolvedores, curiosos, fãs, e tudo que a indústria da música abraça. São palestras, mentorias, meet ups, entrevistas, keynotes, festas e shows, muitos shows. É possível ficar com a agenda lotada nos sete dias com pelo menos 12 horas de programação diária. É a maratona das maratonas. São mais de 2.ooo artistas, de cerca de 70 países, se apresentando no período. Em 2018 a América Latina foi representada em peso, incluindo uma lista de artistas brasileiros como, Liniker e os Caramelows, Luneta Mágica, LaBaq, Filipe Cato, Papisa, só para citar alguns.

SXSW 2018 - João Brasil, Lido Pimienta e Liniker. Foto: Lalai Persson

SXSW 2018 – João Brasil, Lido Pimienta e Liniker. Foto: Lalai Persson

Para quem gosta de explorar sonoridades de países menos óbvios, o SXSW é puro deleite. Este ano rolaram showcases especiais, como Taiwan Beats, Hamburg & Berlin Music, Sounds from Colombia, Korea Spotlight, Sounds of Japan, China Night, Sounds from Norway, Sounds of Hungary, Music from Ireland, British Embassy com curadoria da BBC Music, showcases de alguns países da África, como Senegal, Cabo Verde, além de showcases da Austrália, Canadá, Chile, México, entre outros.

Esse é um dos pontos de partida para começar a fazer a agenda (é meio enlouquecedor quando você confere a agenda e não reconhece quase nada nela). Além dos showcases de países, há também showcases de selos, de revistas, de blogs de música, de agências de DJs, de rádios, de festas e de plataformas de música. O Red Light Radio, de Amsterdã, é um bom exemplo de showcase focado em música eletrônica. Este ano quem se destacou por lá foi o DJ holandês Betonkust, que fez um live arrasador misturando electro, house e techno, colocando eu e todos os presentes pra dançar na apertada pista do Plush, do começo ao fim do set.

SXSW 2018: Brasil marcando ponto.

SXSW 2018: Brasil marcando ponto.

Mas, afinal, para quem é o SXSW Music? Para todo mundo que ama música. O SXSW não tem nada a ver com qualquer festival que você tenha ido (caso ainda não tenha visitado o SXSW). Ele requer também um mínimo de programação, alguns dólares no bolso, porque barato não é, muita curiosidade e sede em conhecer coisas novas. Essa foi minha quarta vez no festival e, ainda assim, dei cabeçadas. Mas aprendi a não sofrer (tanto) com isso. Follow the flow virou meu lema. O FOMO (fear of missing out) ainda me ronda o tempo inteiro de forma real. Estamos o tempo todo perdendo algo incrível, mesmo que a gente esteja vendo algo incrível, porque tem muita coisa incrível acontecendo ao mesmo tempo. Essa é melhor parte de estar lá.

O SXSW é o festival perfeito para quem o tamanho do artista não importa. Quem toca lá está buscando oportunidades para mostrar o trabalho, então os shows geralmente são bons, porque os artistas darão o seu melhor no palco para chamar a nossa atenção. Afinal, o SXSW é um grande celeiro de talentos com selos, revistas, bookers, etc., atrás do próximo artista que vai estourar.

Antes da viagem, passei dias e dias tentando ouvir o máximo de artistas confirmados no festival. Ouvi muita coisa boa e fui jogando tudo na agenda, que tinha pelo menos quatro shows confirmados no mesmo horário. Essa é a dica de ouro, a não ser que tenha algo que você realmente queira ver e vá mover o mundo para não perder. Caso contrário, tenha plano B, C, D no mínimo. E, mesmo os tendo, é bem possível que você caia em algo não planejado.

Todos os estilos musicais, inclusive os que a gente sequer sabe classificar, estão presentes, mas o rock é ainda o estilo mais forte no festival. Este ano um dos highlights da programação foi uma performance de música eletrônica, que aos poucos vai ganhando mais espaço no SXSW. “Sleep”, do compositor alemão avant garde Max Ritcher, teve no SXSW seu debut nos Estados Unidos numa performance com duração de oito horas, literalmente colocando os presentes para dormir. Foram 150 sortudos, todos com um colchão para chamar de seu, a maioria vestidos com seus pijamas. A apresentação aconteceu entre à meia-noite e 8 horas da manhã. Infelizmente essa eu perdi, porque o SXSW é o lugar em que estamos nos perdendo e perdendo algo o tempo todo.

Marielle Franco presente no SXSW

SXSW 2018: Marielle Franco

SXSW 2018: Marielle Franco

No dia em que soubemos da tragédia ocorrida com a Marielle Franco entramos também em luto e discutimos como poderíamos participar da manifestação que tomou conta de várias ruas no Brasil. Alguns brasileiros se reuniram em frente ao Austin Convention Center, próximo à Casa Brasil, com cartazes explicando o ocorrido. O silêncio por ali foi absoluto e, a maioria de nós, ficou 24 horas sem publicar nada sobre o festival nas redes sociais a não ser sobre Marielle. Na mesma noite, a Liniker parou o show para prestar uma homenagem emocionada à Marielle.

No dia seguinte a notícia nos grupos brasileiros corria: a produção do festival topou criar um painel de última hora ma conferência de música para falar sobre o momento político brasileiro e a Marielle, com link para “música”, para que o painel pudesse ser aceito. Foi emocionante. Sala completamente cheia de brasileiros, tanto que o painel acabou ocorrendo em português. A mesa, liderada pelo Bruno Natal, contou com a participação da Fabiana Batistela, Liniker e Pedro Garcia.

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