Super Bowl Usher foi a grande atração do show do intervalo deste Super Bowl. Foto: Kevin Mazur/Getty Images

Por que os maiores artistas dos EUA disputam a tapas um lugar no Super Bowl

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Usher, atração da última grande final do futebol americano, teve crescimento impactante em seu Spotify

O coração de um artista saltita quando o telefone toca e seu empresário ou gravadora dá a notícia: “conseguimos um espaço para você no Super Bowl“. A movimentação, então, se intensifica. O que fazer de diferente? Como chocar, provocar, entreter as pessoas que estão aguardando o início do segundo tempo de um jogo de futebol americano? Como tornar essa apresentação inesquecível?

A chance de se apresentar no intervalo da final do campeonato americano de futebol (o deles, que se joga com as mãos) é única no ano. E tão concorrida que a honra só é destinada aos mais valiosos cantores e cantoras dos Estados Unidos. Nomes como Michael Jackson, Tom Petty, Beyoncé, Bruno Mars e, mais recentemente, Usher; só a nata da indústria musical. Todos deixando o cachê de lado para fazer um som e entreter a galera que está curtindo a final.

Simples assim?

Não mesmo.

Para entender o frisson causado no mundo musical em busca da medalha de ouro olímpica dos palcos americanos, é preciso dar alguns passos atrás e entender o contexto que gerou esse hype imenso em torno de uma partida. E a gente explica!

Esporte é megaevento

Nos Estados Unidos, as ligas esportivas desenham cada jogo (e não só as finais de campeonato) como eventos comparáveis a grandes shows de rock. Para assistir a um jogo em um estádio ou ginásio, paga-se muito caro. É uma ocasião especial, única. Por exemplo, seu pai faz aniversário de 70 anos. Você foi promovido e está sobrando uma grana na conta. Qual o melhor presente? Secar a poupança para comprar dois ingressos e curtir, junto com seu velho, uma noite que será única, inesquecível.

Se custa caro, tem de entreter

No contexto criado pelas ligas, pobre assiste em casa. Classe média de vez em quando e ricaço vai sempre que pode, pagando uma bica no ingresso. O serviço, para dissipar o sal gasto na bilheteria, retorna em serviços. Estádios organizados, com restaurantes, lojas e muita diversão durante o jogo, com locutores e DJs animando a galera.

O preço de ingresso de um jogo normal da NFL custa em torno de 1.800 reais. No Super Bowl, a grande final, o preço pula para estratosféricos 30 mil dinheiros. A nível de comparação, os preços dos ingressos para a última final da Copa Libertadores (maior evento esportivo da América do Sul) variaram entre R$ 260,00 e R$ 1.300.

O grande show da final

A NFL trabalha forte para que a final do campeonato seja o maior evento do ano. Contratos milionários com TVs e patrocinadores e uma promoção tamanha, que a impressão é de que dois times de extraterrestres descerão do céu para brigar por uma bola em formato de azeitona.

O grande trabalho de marketing funcionou. O Super Bowl é o evento mais assistido na TV dos Estados Unidos. E a última edição, transmitida no recente domingo, 11 de fevereiro, foi o programa mais visto na história da televisão americana, com 123 milhões de espectadores. Na plateia, um pessoalzinho do naipe de Paul McCartney, Taylor Swift, Jay Z e a nata de Hollywood curtindo seu som.

Uma bela faca e o melhor dos queijos na mão

Com tamanho poder de alcance, a NFL trata os artistas da mesma forma que um patrocinador de cervejas. Afinal, por alguns minutos, o músico vai ter atenção de boa parte dos Estados Unidos ali, ligada, grudada na telinha. A questão, então, fica simples: precisamos de um megashow para engradecer a final. E todos os artistas dariam a mão direita por essa chance.

Sem pagar um centavo de cachê, a liga negocia com a indústria da música para ter sempre os maiores nomes tocando no intervalo do jogo e valorizando ainda mais as seis mil doletas do ingresso.

Mas nem sempre foi assim

O Super Bowl começou a ser transmitido ao vivo em 1967. O número musical do intervalo era comandando por fanfarras de universidades. Algo assim, de boa, para passar o tempo mesmo.

Conforme o número de TVs em lares americanos foi amentando (e, com isso, a audiência), a NFL começou a se ligar que tinha ali uma tremenda chance. Começaram, meio de leve, com Chubby Checker e The Rockettes se apresentando em 1988, ainda assim acompanhados das bandinhas do colégio.

Até que vieram os New Kids on the Block

Em 1991, pela primeira vez, a NFL montou um show de intervalo com um grande nome da moda entre a garotada: a boyband New Kids on the Block. O resultado foi estrondoso, tanto para a liga, quanto para o grupo e seus cofres. A partir deste ano, tudo mudaria, e as gravadoras começavam a babar por um lugar no ensolarado intervalo do jogo.

Uma avalanche de estrelas

Quando os New Kids chutaram a pedrinha no alto da montanha, viram uma avalanche de super astros da música se apresentando nas finais dos próximos anos. Em 92, Gloria Estefan; depois, na ordem, Michael Jackson, Diana Ross, Prince, até chegarmos a Beyoncé, Lenny Kravitz e, em 2024, Usher.

Artistas enormes animando o intervalo do jogo. E jamais, nenhum deles, reclamou por tocar de graça.

A dimensão do impacto

 

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Para entender melhor o tamanho do impacto que é se apresentar no show do intervalo do Super Bowl atualmente, basta vermos os números de Usher. Segundo o Spotify, os streams de Usher na plataforma aumentaram em 550% nos Estados Unidos depois de sua apresentação no último domingo.

Além disso, Caught Up (hit de 2005 e primeira apresentada no show do intervalo) teve um aumento de 2000%, enquanto U Don’t Have To Call, Love In This Club e Bad Girl cresceram em mais de 1000%.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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