A revista britânica DJ Mag celebrou 25 anos de vida com uma capa em abril exaltando “25 Pioneiros” da dance music. Como não tem bobo na Internet, não demorou para veículos atestarem uma obviedade: que a lista (e a cena global, no geral) é machista, sem destaques para mulheres DJs, artistas e pioneiras.
O bafafá se deu em dois fronts principais: no site da The Fader, que conseguiu uma resposta oficial da DJ Mag. A revista se defendeu dizendo que notaram a ausência das mulheres, mas que acharam que a lista dos pioneiros era essa mesmo, estava redonda, e que iam encarar a controvérsia – e ei-la aí!
O editor da revista, Carl Loben, rebateu que inserir por inserir as mulheres nesse top 25 seria tokenism (termo interessante da língua inglesa que significa “fazer algo simbólico para dar a aparência de diversidade”).
E vozes femininas ativas da cena, como Nicole Moudaber e The Black Madonna, seguiram a discussão, sugerindo diversos nomes, como Björk e Donna Summer, que não seriam “cota” coisa nenhuma, mas estandartes femininos óbvios.
Na esteira das sugestões delas, e pensando como não faltam minas na formatação histórica da música eletrônica, a gente resolveu meter nossa colher nessa treta e segue aí um top 15 de mulheres pioneiras, já que a DJ Mag gosta tanto de uma lista! De quebra um par de adições de pioneiras brasileiras!
- O ESPAÇO ESTÁ ABERTO PARA VOCÊ TAMBÉM OPINAR: participe e cite suas mulheres pioneiras!
DONNA SUMMER
BJÖRK
Ela é DJ, canta, tem uma discografia de décadas sempre fiel aos sons eletrônicos, é figura experimental, passou 3 anos fazendo sozinha os beats de “Vespertine”, é ícone de sua nação islandesa e, por sua fama, é um equivalente à a altura de um Chemical Brothers para a cena. E mais sintomático, na ocasião de “Vulnicura” em 2015, Björk reclamou em diversas entrevistas como as mulheres sempre serão subjugadas no âmbito da produção musical. Essa listinha da DJ Mag só comprova como ela estava certa.
“Tudo que um cara diz uma vez, uma mulher tem que falar cinco vezes. O que as mulheres fazem é invisível” – Björk
WENDY CARLOS
ELLEN ALLIEN
Bem conhecida do público brasileiro, Ellen era uma jovem clubber que vivia em Londres quando o muro de Berlim caiu, e ao voltar à sua cidade foi pioneira na mixagem da dance music que tanto emanava e que se tornou símbolo da cidade. A partir de 2001 a fama veio com os álbuns “Stadtkind” e “Berlinette” e seu selo Bpitch Control, todos propulsores de uma boa síntese da eletrônica berlinense, do techno ao electro.
LISA LASHES
MARY ANNE HOBBES
Outra britânica, Hobbes foi roqueira e jornalista de esportes e aventura na juventude, mas fez nome como voz midiática e DJ de um dos gêneros mais coisa-de-macho que já houve por aí: o dubstep de 10 anos atrás. Foi pioneira não só nos beats gordo desse som, mas catalisadora de seus principais lançamentos, destaques e do quem-é-quem no gênero, pelas figuras que passavam em seu programa na BBC ou em seus eventos, como seu showcase no Sónar barceloneta.
ANDREA GRAM
MISS DJAX
Holandesa DJ e produtora há mais de 25 anos, Miss Djax deveria ter entrado no top 25 da DJ Mag pelo significativo fato de ter sido uma das responsáveis por adentrar o house e o techno de Chicago/Detroito pelos portos de Amsterdã, com seu selo Djax Records, de vastíssima discografia desde 1989. Miss Djax lança tracks desde os anos 90, tem 3 álbums no catálogo e sem nenhuma firula de se autotintitula the one and only acid queen, arrastando multidões pela Europa até hoje.
ANNETTE PEACOCK
Pioneira no uso do synth Moog como processador de voz. Miga do psicodélico e fundamental teórico Timothy Leary. Começou a compor aos 5 anos de idade, reza a lenda, e já compôs centenas de músicas usando sintetizdores como base. E está pra lançar álbum novo. Annette Peacock é diva magnânima dos sons do lado escuro da lua e precisa ser lembrada pelo seu talento.
DAPHNE ORAM
SÔNIA ABREU
LAURIE ANDERSON
Laurie trouxe o nonsense e o fator de performance para a música synth com a épica “O Superman”, de 1981, borrando fronteiras entre suas apresentações experimentais e a música pop, algo que é bem explorado hoje na música. Laurie gosta de temas sobre a tecnologia e suas relações com a vida e já trabalhou com gente como Philip Glass, Ryuichi Sakamoto, Jean-Michel Jarre e Brian Eno. Laurie cria seus próprios equipamentos de edição musical, principalmente filtros de vozes, e é diretora de cinema – em 2015 lançou “Coração de Cão“, que tenta retratar a vida do animal, inclusive na trilha sonora.
KEMISTRY & STORM
Dupla feminina de DJs expoentes do drum’n’bass, Kemistry e Storm comandaram o selo e coletivo Metalheadz por alguns anos, uma das marcas mais fortes do d’n’b global geralmente associada ao figurão Goldie. Ambas fizeram fama no underground das rádios piratas britânicas e com uma das primeiras coletâneas da DJ-Kicks, todos esses ambientes e instituições que são famosos playground de rapazes.