Sónar Barcelona, foto de Juan Lafita

Sónar Barcelona 2019: música para além das diferenças com a cobertura do MNS

Claudia Assef
Por Claudia Assef

TEXTO AMANDA FOSCHINI

Você sabe que está ficando velha quando não conhece mais do que 40% do line-up de um festival de música. Isso vem acontecendo comigo há quase um ano (mas eu nego velhice e sigo dançando) e é especialmente verdadeiro no caso do Sónar Barcelona, conhecido por ser um festival que mira para onde quase ninguém está olhando…ainda. 

Para entender o faro fino do evento quando se trata do sons de amanhã, basta lembrar que na edição do ano passado, uma ainda quase desconhecida Rosalía, subia aos palcos para apresentar seu primeiro grande show e explodir em tempo recorde no mundo inteiro. Quem acendeu o fósforo foi o Sónar, um festival que tem orgulho de empurrar seu público além dos grandes nomes e fazer com que todo os presentes assumam riscos, desvistam preconceitos e dancem fora do seu quadrado.

Há algumas edições o evento vem piscando o olho para os ritmos urbanos e abrindo mais espaço para essa nova geração, que não se cola nenhum rótulo e flana sem vergonha nem purismo entre música eletrônica, hip hop, grime, trap e o que mais couber na batida. O flerte foi ficando sério e, há três anos nasceu o palco SonarXS, dedicado unicamente à música urbana e novos artistas, novos ritmos e novos formatos. 

Lugar bom para ir de ouvido aberto e lupa na mão para tentar entender para onde caminha a música. Neste ano, o palco desemboca na África e traz representantes da cena local, como o queniano Slikback (cria do Nyege Nyege, o festival mais famoso da África), Muqata’a, da cena underground do hip hop da Palestina, o duo sul-africano Faka, que usa a música para lutar ativamente pelas causas LGBTI e a ugandesa Hibotep, outra filha prodiga com o selo Nyege Nyege Tapes de qualidade.

O duo sul-africano Faka. Foto: Amira Moraloki

Claro que os grandes maestros e estrelas também estarão presentes no house do Body & Soul (com direito a set de seis horas), nos mais de trinta anos de eletrônica do Underworld e na tabelinha de Louie Vega, do Masters at Work, com Honey Dijon, figura chave na renovação do house. O Sónar olha para trás e estende o tapete para a tradição, mas aponta pra frente bancando uma juventude que desenha os novos caminhos da música: A$AP Rocky, Jlin, Amelie Lens, Arca, Mallgrab, Sevdaliza. Tem para todo tipo de baile e todo tipo de gente. É para descobrir música e entender que ela é maior do que todas as nossas pequenezas. 

Os sons do futuro vão muito além da pista e se enroscam cada vez mais na tecnologia. Essa intersecção cada vez mais latente também é explorada pelo festival no Sónar+D, um congresso paralelo sobre música, tecnologia e criatividade. Entre os destaques deste ano estão o papo com o CTO (Chief Technology Officer) do Massive Attack, Andrew Melchior, sobre como conectar música e tecnologia, uma masterclass de computação espacial e Holly Herndon apresentando Spawn, um software de inteligência artificial cocriado pela artista, capaz de analisar centenas de vozes humanas para então produzir (ou criar?) uma voz só sua

Conferência do Sónar+D. Foto: Ariel Martini

 

Este ano, desembarcamos diferentes para mais uma edição do Sónar. Os tempos sombrios que vivemos requerem que a gente se misture, se jogue, descubra o diferente e – mesmo que sem entendê-lo – consiga respeitá-lo. É exatamente essa a nossa missão: usar a música e o aparente desconforto das diferenças para aprender a ser um pouquinho mais humano. 

 

A 26ª edição do Sónar Barcelona acontecerá entre os dias 18 e 20 de julho e ainda dá tempo de ir.

Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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